Alinna e Logan

8 2 0
                                    

Marinette

Você é a minha parceira.

Meus sentidos estavam a mil. Tudo voltava numa enxurrada brilhante de memórias. O rosto de Adrien estava tenso enquanto ele me olhava.

E, bem, não consigo imaginar a minha cara depois disso tudo. Aquele papo de "ela esqueceu 1 ano da própria vida" foi a maior piada que eu já escutei. O que é esquecer um ano comparado a esquecer mais de 100?

Mas tenho que admitir: eu tô bem demais pra minha idade! Que, aliás, é 199. E depois de todo esse lapso de memória, a perspectiva de completar 200 anos é simplesmente normal e esperada.

Cara, eu tenho poderes, é isso mesmo? Ah, mas a minha mãe tem muito pra explicar!

E, falando nela, de alguma forma pude perceber sua presença num corredor adjacente. Adrien também pareceu sentir. (beleza, eu ainda não consegui raciocinar sobre o fato de eu ser a alma gêmea de um rei feérico gato, só vamos seguir em frente)

Instintivamente, ambos demos as mãos e apenas pudemos observar enquanto o corredor derretia à frente, com alguns gritos ao fundo, e nossa visão escurecia.

[...]

Acordei em um celeiro. E já estava começando a detestar esses teletransportes idiotas. Minha cabeça estourava numa enxaqueca constante.

Havia trocado de roupa também. Agora estava com uma saia longa cor de terra, uma camiseta branca de linho, um corpete preto de tecido e frágeis sapatos marrons.

Tentei me levantar e senti uma leve pressão na lateral do meu corpo. Tateei o corpete em busca de algum relevo e encontrei uma adaga, com uns 10 centímetros, mas suficiente pra ferir bem feio alguém se posicionada no lugar certo.

Coloquei a arma de volta no lugar e me levantei para procurar por Adrien. Fiz uma varredura rápida pelo lugar. A uns 50 metros, as portas do celeiro abriam para uma plantação de melancias enormes.

A construção, por sua vez, era pequena e cheia de coisas. Montes de feno estavam empilhados do lado direito em agrupamentos aleatórios, enquanto sacos de ração estavam alinhados do lado esquerdo. Ferramentas penduradas na parede balançavam vez ou outra por causa do vento forte que adentrava através de pequenas janelas próximas ao teto.

Andei um pouco, procurando possíveis indícios de que fomos rastreados e tentando achar o Adrien, quando me deparei com um jovem fazendeiro dormindo numa cama de feno improvisada.

Seus cabelos pretos estavam bagunçados e cheios de palha. As roupas, simples e práticas, estavam suadas, provavelmente pelo trabalho da lavoura. Ele estava relaxado, com um chapéu sobre o rosto e a respiração constante, mas acordou de repente, como se notasse minha presença.

O fazendeiro olhou em volta, confuso, antes de me encarar por alguns segundos.

- Quem... - Ele pareceu se assustar com a própria voz, mas continuou, pigarreando - Quem é você?

Boa pergunta. Mas eu não tinha uma resposta pronta pra ela.

- Quem é você? - rebati, tentando impor autoridade. Isso parecia uma piada.

- Eu perguntei primeiro - ele respondeu.

- Mas - eu disse, erguendo uma sobrancelha - você será o primeiro a responder.

Ele olhou para mim, alarmado, e perguntou num sussuro:

- Marinette?

Me empertiguei, engolindo em seco, e indaguei:

- Como sabe meu nome?

- Sou eu, Adrien. - Ele respondeu, apontando para si mesmo, como se fosse óbvio.

- Por que raios você tá moreno?

- Como é? - ele foi até um quartinho no fundo do celeiro, onde devia haver um banheiro e se olhou no espelho, voltando rapidamente de olhos arregalados. - Se eu tô moreno, acho que seu cabelo loiro não é delírio do enjoo.

- Loiro? - Fui até o banheiro e encarei meu reflexo, alarmada.

Realmente, eu estava loira. E bem loira. As mechas douradas estavam presas em parte atrás da minha cabeça, enquanto outras caíam pelas costas.

Adrien veio atrás de mim e ficamos um tempo apenas encarando um ao outro no espelho.

- Como chegamos aqui? - Eu perguntei, me virando pra ele e quebrando o silêncio.

- Eu... - Ele encarou o chão. - Eu não tenho ideia. Nem sobre isso, nem sobre nada.

- Por que acha que elas fizeram aquilo com a gente?

- Medo. - Ele respondeu, simplesmente. - Se já éramos poderosos separados, o fato de sermos parceiros significaria que elas perderiam completamente o controle sobre nós dois.

- É a cara delas! - Ele riu.

- Sim, é. Mas a gente vai sair dessa. Só precisamos colocar os pensamentos no lugar e encontrar elas.

Estremeci. Eu não queria vê-las de novo. Só queria desabar e tentar entender os últimos anos, o período em Paris, aquelas luzes malditas... tudo!

Senti uma lágrima escorrer pela minha bochecha e baixei a cabeça enquanto a limpava rapidamente.

- Ei, ei - Adrien se aproximou de mim e me abraçou. Mais lágrimas escorriam - eu tô aqui e vai dar tudo certo, tá, Marinette?!

Abracei ele de volta e ficamos assim por mais um tempo.

Era estranho o que eu sentia pelo Adrien. Nos conhecíamos há anos, mas ao mesmo tempo conversamos por, no máximo, uma hora. Eu sabia que o fato de sermos parceiros mudava tudo, mas a distância não mudava nada?

Estávamos distantes e isso era fato. Mas o que isso mudava na nossa conexão? Na união de nossos poderes? Em tudo, e ao mesmo tempo em nada?

Meus pensamentos foram interrompidos quando um homem com o dobro do meu tamanho me afastou de Adrien bruscamente, derrubando-o no chão.

- Que palhaçada é essa, Alinna? - O homem berrava a plenos pulmões, indignado. - De todos os homens nessa cidade você vem se agarrar com esse idiota magricela?

Adrien e eu estávamos estáticos enquanto o homem continuava sua repreensão.

- Você sabe muito bem, mocinha, o que já conversamos a respeito disso, não é? Vai ficar de castigo dentro de casa por um mês. - Abri a boca para protestar, mas ele me cortou com um aceno de mão e continuou. - Não quero saber de desculpas esfarrapadas! - Ele virou-se para Adrien, que estava em pé, escorado precariamente em uma pilastra. - E você, seu ajudantezinho de uma figa, dá próxima vez que chegar perto da minha filha, eu caso vocês dois sem pestanejar, está me entendendo?

Ambos arregalamos os olhos. Era só o que faltava!

- Responda, Logan!

- S... Sim, senhor.

O homem assentiu em aprovação e me arrastou até uma modesta estalagem próxima do celeiro. Hóspedes iam e vinham sem parar, conversando alegremente sobre o quanto as "vestimentas temáticas" melhoravam muito a experiência do turismo na cidade.

Fui jogada para um quarto pequeno no segundo andar e meu "pai" fechou a porta atrás de mim.

Agora eu estava por minha conta e risco.

O Brilho Nos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora