Anjos como você - único.
“Enfim, em casa.” William fechou o guarda chuva e coletou a chave para poder abrir a porta do apartamento. Já passavam das onze horas da noite quando ele conseguiu sair da faculdade. Uma vez que este tinha ficado até tarde na instituição corrigindo algumas provas, o Moriarty preferia fazer isso na sala de aula. Logo hoje resolveu cair um temporal em toda região de Marselha, deixando tudo ensopado de água. Não que ele não fosse fã de chuva, disso até ele gostava. (Mas de observar pela janela de vidro do seu quarto.) Ao destravar o trinco, respirou fundo tentando visualizar alguma coisa no breu, tocou um interruptor do lado na parede próxima, e viu tudo clarear dentro do compartimento. Esperou seus olhos se acostumarem. Foi quando William notou uma figura encapuzada em frente a janela, seu primeiro pensamento era que se tratava de um ladrão.
Contudo, rapidamente ele mudou de ideia. Um ladrão não estaria esperando ele chegar em casa? William tocou no cabo da arma que sempre carregava consigo, e apontou na direção do sujeito. “Vire-se devagar, e com as mãos na cabeça.” Nesse momento o som da pistola destravada pode ser ouvido, estranhamente a figura de preto aceitou a ordem sem maiores problemas. Se colocou de frente para William, e abaixou o capuz surpreendendo o mesmo, quando viu o cabelo de cor escuro que fazia tantos anos que não tinha contato com ele. — Sherlock falou Moriarty desnorteado mais ainda sem deixar a expressão fria e difícil de ler como sempre.
— Achei que estivesse morto. — afirmou Holmes, observando William colocar uma xícara de chá na sua frente. Os dois estavam sentados um de frente para o outro, mas o Moriarty evitava olhar para o rosto dele. O de cabelos negros fez cara feia quando foi servido com chá, fracamente odiava bebidas desse tipo. Preferia café. Não entendia a ficção de Moriarty com relação a algo como aquilo.
— E estou.
— Como? Se estou vendo você na minha frente. — Sherlock queria socar a cara de William, aquele cara era o cúmulo da corrupção. Por sua vez, ele esboçou um leve sorriso.
— Se diz que estou morto. Como chegou até aqui? — Moriarty respeitava Holmes pois foi a pessoa que mais chegou perto de ser tão inteligente como ele. Mas às vezes ele era difícil.
O rapaz sentiu seu coração palpitar ao ser lido pelos olhos de William, tanto que teve de desviar a atenção. Ele não entendia o porquê daqueles olhos, no tom tão incomum instigar tanto seus sentidos? Queria descobrir o real motivo, pois até ele mesmo não sabia o porquê de ser arrastado para Londres, atrás de Moriarty, quando descobriu que este estava vivo. Entregar William às autoridades? Fingir ser de uma família de aristocratas, matar os pais adotivos, sendo que ele não passava de um pobre garoto rejeitado pela sociedade. O que fazer? Sherlock sabia que Moriarty era um criminoso. Contudo, não pior do que Albert, o verdadeiro herdeiro de sangue puro. Se convenceu que William tinha muitos traumas de infância. — Você julga que eu preciso de um terapeuta, é isso? — a voz mansa o tirou dos devaneios, o assustando bastante com a análise quase sobrenatural do outro, o fazendo dar um leve pulo de surpresa para trás.
— Bem, talvez. — ele atestou.
— Está enganado. Minha mente é saudável.
— Sua família está morta. Qualquer um no seu lugar estaria em pedaços, né. — acusou.
— Estou bem com isso.
Sherlock buscou a xícara de chá ainda intocada. E levou a boca, notando o gosto amargo. Crispou os lábios, o loiro não tinha colocado açúcar. Assim, pôs de volta sobre a mesa.
Amargo, como sua vida.
— Você pulou de um prédio. Tentou cometer suicídio. Não vejo qualquer cicatriz no seu rosto. William, você por acaso é um demônio?
— Talvez. — o Moriarty se levantou do chão, e seguiu até um porta retratos onde estava gravado Louis, Albert e ele. Num dia qualquer de março. Sentir falta daqueles dois? Esses laços de amor, e cuidado com o próximo ele desconhecia. A falta de empatia o acompanhava desde que ele veio a esse mundo.
Apenas uma criatura de origem sobrenatural para ter tais dons. O de persuadir a si mesmo de não desistir. Fez uma promessa com seu irmãos, que quando chegasse o dia ele tiraria sua vida junto a deles. Mas no fim, os dois foram embora desse mundo sozinhos. William era covarde demais para poder fazer desaparecer seu fôlego de vida. Mesmo o apontar da pistola sobre seu crânio, fazia ter forças para disparar. A cada dia mais ele se arrastava em lembranças. Odiava assumir. Mas no fim ele não tinha mais qualquer vontade de viver desta forma. Pensava todos os dias no que iria fazer. O suicídio era bem vindo. Porém, ele não tinha nem sequer vontade, ou forças para isso. — Me chamo Oliver agora, Holmes. Estou dando aulas em uma modesta faculdade no centro da cidade. Vim para Marselha para tentar um novo recomeço de vida.
Uma risada audível pode ser ouvida por ele. Sherlock não acreditava no nível de inteligência de seu interlocutor. Tudo isso para fugir das autoridades? Asqueroso demais.
— Além de tudo, você também falsifica documentos?
— Não. Esse é meu verdadeiro nome.
Ainda sem acreditar no que tinha ouvido. Sherlock caminhou até William e se pôs de frente para ele, colocou uma mecha de cabelo loiro atrás da orelha. E mirou no fundo dos olhos de Moriarty. Naquele segundo ele perdeu o ar. Ele não conseguia entender essa afeição.
Era amor?
Mas ele não era gay.
Ou é?
Holmes se afastou de Moriarty muito transtornado. Sentiu vontade de pegar um cigarro naquele momento. Afastou os cabelos negros para trás, e se sentou no chão com as mãos sobre a cabeça. Aquilo estava o consumindo por dentro, e o sorriso de William não aliviava. Ele parecia se divertir com aquilo.
Ele era um demônio.
Um maldito demônio.
— Eu entendo Sherlock. — disse Liam o observando fixamente. Algo que ele não decifrou.
— Entender o quê?
— O anseio em seu coração.
— Anseio?
— Eu sinto também. — Nesse instante Sherlock correu até William. E o tocou em ambas as suas bochechas. — O que você quer dizer?
— Não é óbvio? — explicou Moriarty.
Sherlock sem saber o que dizer. Ou o que fazer. Abraçou William, algo que por um momento foi correspondido por ambos. Até um beijo. Mas essa história já estava marcada.
Um disparo de arma fora ouvido. Contudo, apenas um deles caiu no chão com lágrimas nos olhos. Sherlock deixou sua guarda baixa, esqueceu por um instante que Liam portava uma pistola. Ele tinha confiado nele
— Porquê? — disse ele em seus últimos suspiros.
— Existem muitos motivos. Todavia, talvez eu realmente seja esse maldito demônio. Não posso ser pego pela polícia. Me-desculpe. Não confio em você.
'Não confio em você.'
Sherlock ouviu aquela frase até depois de seu coração parar de bater. William, ou melhor Oliver. Não cansava de torturar a si mesmo.
Querido, anjos como você não podem voar para o inferno comigo.
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Angels Like You
FanfictionWilliam assistia de forma silenciosa o corpo queimar, acendeu um único cigarro e tragou em homenagem sincera. Sherlock não era tão inteligente. "Baby, anjos não podem voar para o inferno comigo." aquela frase ressoava como um filme de terror à noite...