Capítulo 3 - Paz

1.7K 181 155
                                    

A penumbra da noite começava a cobrir os céus enquanto os imortais seguiam rumo ao próximo destino, banhados apenas pela fraca luz do luar que mal iluminava o caminho de terra por onde passavam. Desde a morte de sua antiga conhecida, o mercenário estava mais calado do que de costume, dialogando apenas com frases curtas e acenos de cabeça. Obviamente nunca fora um homem de muitas palavras, contudo não poupava esforços para retrucar às provocações de seu parceiro quando necessário, e após tantas tentativas falhas de arrancar-lhe alguma reação, até mesmo alguém desligado como Hidan seria capaz de perceber a existência de algo errado ali.

— Ei, Kakuzu. — Tentou a sorte, chamando-o no intuito de averiguar a resposta que receberia. Como esperado, nada além de um frio olhar de canto aguardando-o terminar sua frase. — Vamos acampar em algum lugar antes que os meus pontos comecem a abrir. — Inventou algo rapidamente, disfarçando o fato de tê-lo invocado apenas para sanar a própria curiosidade. Bom, ainda assim não podia negar que estava realmente cansado e faminto.

O caçador de recompensas suspirou e buscou pelo mapa em seus bolsos, confirmando a localização em que se encontravam. Honestamente, depois de uma sequência de acontecimentos exaustivos, até mesmo ele gostaria de um descanso, em especial porque todo o seu interior queimava com a dor causada pelo excesso de esforço feito por um corpo danificado.

— Realmente, não é uma má ideia. — Comentou ao passar suavemente o dedo pelo papel em suas mãos, analisando o trajeto que fariam. — Se andarmos mais alguns minutos nós chegaremos até a vila oculta do pássaro. É um lugar relativamente pacífico em comparação com os outros ao redor.

O mais novo avizinhou-se dele para observar a distância que ainda precisariam caminhar, porém seus olhos moveram-se sozinhos até o símbolo da vila oculta da cachoeira; a terra natal do sujeito ao seu lado. Isso obrigou-o a recordar-se de seu último sacrifício, ponderando se era esse o motivo da atitude nada usual de seu companheiro.

— Se aquela mulher significava alguma coisa pra você era só ter falado, sabe? Eu não teria exagerado na tortura. — Falou sem filtrar as palavras, expondo seus pensamentos crus.

— E desde quando você se importa com a minha opinião? — Deu de ombros, voltando a se movimentar em direção ao destino. O outro logo o acompanhou. — Além disso, a utilidade que eu tinha para ela foi cumprida. O que você faz ou deixa de fazer depois disso não é problema meu.

— Hã, tem certeza? Você parece bem putinho comigo por algum motivo. Pode falar a verdade, ela era sua amiga, né? — Comentou em uma entonação ladina, no intuito de provocá-lo. Se conseguisse arrancar-lhe alguma reação já seria uma vitória pela noite e poderia dormir feliz.

— Não. Eu me desfiz de laços inúteis como esse há anos, e você também deveria. A imortalidade é um caminho seguro porque é solitário. — Cerrou involuntariamente o punho, recordando-se de seu passado cheio de traições. — Não dá para confiar em ninguém, apenas no dinheiro.

— Lá vem você com esse papo. — Revirou os olhos, bufando para acrescentar: — O inferno tem um lugar reservado com o seu nome por causa dessa avareza toda, viu?

— O dinheiro é a chave que abre todas as portas, inclusive a do próprio inferno... — fez uma pausa para encará-lo com repugnância — se é que isso existe. — Completou, deixando claro estar zombando de suas crenças.

— Tá me fazendo de idiota, seu ateu desgraçado? Um dia a ira de Jashin vai cair em cima de você e te fazer pagar por toda essa heresia, ouviu? — Ralhou aos gritos, sendo totalmente ignorado. Antes que pudesse seguir reclamando, uma luz forte e um barulho chamativo capturaram sua atenção, desviando o foco da briga. — O que é isso? Uma festa? — Questionou ao captar sons de músicas típicas e burburinhos ao fundo.

Devoção e ganância || KakuHida +18Onde histórias criam vida. Descubra agora