Rumo à glória

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O bairro citado neste capítulo, São Marcos, também está presente em "Nome Oculto". 

Não, as duas histórias não pertencem ao mesmo universo, mas é uma coincidência que valeu a pena ser mantida.

(e sim, todo este capítulo foi escrito enquanto ouvia Tierry, que em 2020 tocou de forma ininterrupta aqui na rua)

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A noite de sábado no largo do conjunto habitacional localizado em São Marcos, bairro popular de Salvador, estava animado: bares cheios, barracas uma ao lado da outra vendendo churrasquinho, pastel, cachorro-quente e hambúrguer com filas enormes - mas a fila do acarajé vendido a um real era a maior de todas, atravessando a rua e chegando até a praça. Pessoas caminhavam pela calçada ou se mantinham sentadas na praça, tomando cerveja, rindo e paquerando, tanto adolescentes – que em tese não deveriam estar segurando a latinha de cerveja – quando adultos.

Os cheiros das comidas se misturavam ao odor da fumaça que saía dos carros e ônibus que passavam pela rua apertada entre barracas e mesas dos bares, mas os veículos não venciam a trilha sonora saindo dos estabelecimentos - uma mistura entre o pagode, o arrocha, e a sofrência, que era o som do momento e fazia todo mundo dançar junto. Era possível ver alguns casais já aproveitando a música que saía, ora do fundo das picapes, ora do som dos bares.

Gabriela andava ao som da sofrência, dublando a música com a mão no coração, enquanto Agnes parecia mais deslocada entre as mesas do bar.

- Gabruxa, como a gente vai conversar, que barulho infernal...

- Vaca, conversar é o que a gente menos vai fazer... - comentou a jovem, um meio sorriso cheio de segundas intenções dançando pelos lábios cheios, ainda maiores por um gloss de morango. Os cabelos anelados, graças a um relaxante que tirou os cachos naturais da recepcionista, estavam soltos e bagunçados pelo vento da noite.

Caminhava cumprimentando a todos, dando beijinhos para o ar enquanto ouvia os assovios, bastante empolgada com o próprio look: um tomara-que-caia azul com babados no busto, short curto laranja e sapatilha creme, além do par de brincos amarelo-neon combinando com as pulseiras.

- "Se eu virar cracudo/ eu vou fumar esse seu coração de pedra nem que eu venda tudo..." Nem olhe pra mim assim, Agnes, tome umas três e se enganche com um gostoso que essa música bate e bate forte.

- Okay, Gabruxa, eu finjo que acredito. Vamos sentar aqui logo porque tô me sentindo completamente exposta e apertada.

Incentivada pela amiga, Agnes deixou os cabelos soltos, cheios e com grande volume, que davam um contraste bem feminino com a camisa de botões branca e estampas de cartum, de corte masculino, colocada por dentro do short jeans de cintura alta e barra dobrada para cima. As coxas grossas e o quadril largo eram visíveis, além das pernas longas e igualmente grossas, e a jovem usava um par de tênis na cor branca. Gabriela ajudou na maquiagem leve, toda em tons de marrom, além do par de argolas redondo, bem grande, o qual Agnes não estava muito acostumada.

- Você não tá apertada porra nenhuma! O que deve tá apertado é seu xibiu que não vê rola desde quando-

- GABRIELA? Pelo amor de-

- Pare de se punir, mulher! Você é linda, maravilhosa, gostosa, tá preocupada com porra de estria e celulite? Com barriga saliente? Quem não tem essa merda, mulher? Vou pegar cerveja!

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