VINTE E DOIS

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As vezes por alguma razão, ganhamos uma nova oportunidade de poder fazer algo diferente, ter uma segunda chance. Alguns chamam isso de destino, outros chamam de sorte, e uma pequena parcela chama de milagre.

Naquela noite chuvosa, Signe escolheu se entregar, desistir de tudo e pôr um fim a vida.
Mas por um milésimo de segundo se arrependeu, seja porque não queria causar outra morte, seja por arrependimento ou até um pouco de cada.

Mas para toda ação há uma reação igual ou maior, e no caso dela foi lhe dada a chance de lutar e novamente de escolher entre viver e morrer.

O carro de Signe após perder o controle capotou várias vezes, ela foi socorrida com vida. No acidente ela teve um grave ferimento na cabeça e após uma cirurgia delicada entrou em coma por longos 52 dias.

Nenhum médico garantia nada para sua tia, porém ela sempre acreditou que sua sobrinha venceria e iria acordar. Então, fazia suas preces sem hesitar.

Você pode chamar do que quiser; coincidência, destino, sorte ou fé, mas o fato importante e único é que, ela acordou durante as preces de sua tia.
As vezes algumas coisas estão além do entendimento humano, ou da psique humana.

— Está tudo bem querida?

— Sim tia. Apenas com uma dor de cabeça, mas estou bem. — Fez uma careta. — Ainda bem que me deram alta. Então fiquei em coma 52 dias?

— Sim. E tenho que me desculpar com você por ser tão ausente em sua vida. Não podia ser assim. Sou sua única família depois que sua mãe... Se eu tivesse por perto, você não faria... Não precisamos relembrar tristezas.

— Tá tudo bem tia Hulda. Eu que tenho de me desculpas, eu poderia ter te procurado. Fui fraca e egoísta.

— Não querida. Você precisava de ajuda. Não se culpe pelas coisas que aconteceram em sua vida.

— Tia... Me culpo sim. Sei das minhas responsabilidades, sei da minha parcela, mas só não havia entendido, agora sim... Vejo tudo com clareza.

— Signe, você não deve se culpar tanto. Somos humanos e imperfeitos.

— Tia Hulda. Para você esses 52 dias podem ter sido iguais, Quero dizer. Não houveram mudanças. Eu estava em cima deitada nessa cama. Mas minha mente não estava parada, muito pelo contrário. Vi e vivi coisas que para muitos são absurdas.

— Signe. Eu te conheço desde que nasceu. Sei que você se culpa pelo abandono de seu pai. Sua mãe era minha irmã, sei o quanto foi difícil pra você, crescer numa família religiosa sem a figura paterna. — Ela segura na mão de Signe. —
E tenho consciência que minha irmã errou muito, quando não soube entender que tudo o que você fazia, era para chamar a atenção dela. Era um pedido de socorro, mas ela nunca soube ver isso.

— Mas eu errei muito tia. — Começa a chorar. — Se eu pudesse voltar no tempo, só por um momento. Pediria perdão a ela.

— O que passou passou querida. Não há como mudar o passado. Mas o futuro você pode e deve.

— Sabe tia. Enquanto estava em cima, as vezes escutava você. Quero dizer. Não sabia que era você, mas agora sei que o tempo todo foi você. Você esteve presente comigo e eu não percebi.

— Mas como você iria saber? Não seja rígida consigo mesma.

— Não que eu seja, enfim... Não sei... Foram tantas coisas loucas que aconteceram. Tia, juro a você, mas tenho certeza que logo após o acidente, enquanto estava presa dentro do carro, antes de apagar jurei ter visto a face da morte.

— Será mesmo? Afinal, você não morreu. Não acredite em coisas que sua cabeça pode ter mostrado. Você estava em choque. Pode ter visto sim alguém, mas certamente não era a morte. Tenho quase a certeza que você viu a garota que chamou a ambulância.

O JARDIM DE AKEROnde histórias criam vida. Descubra agora