Capítulo 13 - Embate

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Mesmo que de uns dias para cá eu andasse distraída, eu acabei percebendo que Alyssa não parecia melhor do que eu. Não acreditei muito quando ela me disse que não estava apaixonada pelo menino da cozinha, mas temia insistir no assunto e afastar minha melhor amiga. Já estávamos tão distantes uma da outra que eu tinha medo de quebrar a fina linha que ainda nos unia. E eu estava arrasada por isso, mas não sabia como me aproximar. O que nos afastava eram os segredos, e eu deduzia que os meus eram muito maiores do que os dela. Embora sua família não fosse aprovar um marido sem posses, ainda assim estaria longe do escândalo que eu causaria ao admitir que os sentimentos que eu nutria por minha futura cunhada não eram nada fraternais.

E claro que eu não conseguia deixar de pensar nela. Eu tinha sonhos com ela. Acordei naquela manhã sendo chacoalhada por Alyssa, me tirando de um sonho colorido e feliz onde eu e Tracy não éramos mais obrigadas a fingir ser quem não somos. Era o dia do meu casamento e eu estava radiante, mas quando a porta da igreja se abriu, eu não via Derek no altar me esperando. Tracy estava lá me esperando, sorrindo e com lágrimas nos olhos, emocionada. Senti que meus próprios olhos marejaram e sorri de volta para ela.

Eu vestia um lindo vestido branco de anáguas largas, manga até os pulsos, mas que revelavam meu ombro e meu colo. O véu cobria minha cabeça e eu via através do tecido translúcido minha futura esposa me esperando, igualmente de branco, mas seu vestido era mais simples, assim como a maioria das coisas que ela gostava de vestir. A saia era lisa e sem detalhes, as mangas iam até os pulsos e o detalhe em dourado no raso decote era o maior atrativo. Enquanto meu cabelo estava preso em um penteado elaborado, com tranças presas como uma coroa em volta da cabeça, pingentes e grampos, os dela estavam soltos. E ainda assim, era a mulher mais bonita que eu já vi.

Eu estava a ponto de segurar sua mãe, meu pai me entregando a ela para o início da cerimônia, quando fui acordada por mãos me balançando, e despertei assustada. Me situando na realidade, girei o corpo e vi Alyssa, já vestida e pronta, esperando por mim.

— Ti, o café da manhã. Se não levantar agora, vai se atrasar — ela me alertou, afobada, até que estacou no lugar e me observou com atenção. — Você está chorando?

Levei os dedos aos olhos, percebendo que a emoção do sonho me atingira de verdade. Secando as lágrimas, tentei disfarçar.

— Apenas um sonho ruim — murmurei, embora fosse mentira. Eram lágrimas de felicidade, que facilmente se reverteriam em tristeza se eu estivesse sozinha. Queria poder voltar a dormir e viver aquela realidade, porque a minha só me afundava cada vez mais fundo em minha desilusão, medo e confusão. — Não se preocupe.

~x~

Embora eu tentasse me comportar com naturalidade durante o café da manhã, ainda lançava olhares furtivos para Tracy, eu parecia sentir quando meu olhar recaía sobre ela e me lançava outro, fazendo-me desviar a atenção para minha comida como se fosse a coisa mais importante do mundo. Ninguém parecia perceber essa troca de olhares — ou assim eu pensava —, o que me deixava aliviada. Não seria fácil explicar por quê havíamos nos distanciamos já que, assim que pisei em Savian, eu e Tracy passamos muito tempo grudadas. Agora éramos mera cortesia, apenas cumprimentos educados e olhares rápidos durante as refeições.

Eu não conseguia entender nós duas, mal conseguia entender eu mesma. Na noite do último baile, nós tivemos uma ótima conversa. Eu pensei que a partir dali poderia seguir em frente, fingir que não sentia nada, reprimir meus sentimentos e seguir minha vida, ser amiga de Tracy e nunca mais pensar nos seus braços em volta de mim, e sua boca contra a minha. Mas à medida que o tempo passava, parecia mais difícil. E quanto mais eu tentava me afastar, eu sentia que meus sentimentos cresciam.

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