único.

619 35 2
                                    





Quarta-feira.

Era uma droga de quarta-feira e Yejin estava se sufocando dentro daquele uber extremamente quente que não fizera nem mesmo o bom grado de ligar o ar-condicionado para, pelo menos, amenizar o calor escaldante que fazia lá fora com a desculpa esfarrapada de que estava quebrado. Óbvio que não estava quebrado, Yejin não chegava nem perto de ser estúpida, mas qualquer um que olhasse saberia que o homem carrancudo estava apenas enchendo linguiça.

A garota nem optou por desdenhar, ela só queria acabar logo com toda essa tortura e voltar pro seu tranquilo e fresquinho apartamento.

Não estava nem escrito o ódio profundo que a jovem sentia por consultas, principalmente a com seu oftalmologista, ela não saberia dizer ao certo mas, se não se enganasse, estava nessa luta desde os três anos de idade quando descobriu que havia herdado a miopia de sua mãe. Ela alega não se lembrar dos primeiros anos de consulta, havia apenas flashs distintos e completamente desconexos de sua figura infantil se "embebedando" com vários e vários copos de café gelado que a máquina gigante no meio de todo o corredor fornecia.

Deveriam deixar restrito para crianças, essas coisas são viciantes...

E aqui estava ela, dez minutos atrasada para sua consulta que havia sido marcado incrivelmente um ano atrás sem nenhum contestamento.

Sua mãe a enterraria viva (ou morta mesmo) se descobrisse que poderia perder esse compromisso, e Yejin havia acabado de entrar pra faculdade, não estava afim de morrer tão cedo.

Fez questão de bater a porta do carro prateado com toda a sua força possível e se sentiu extremamente satisfeita ao escutar o motorista reclamar.

Subiu as escadas de mármore com um suspiro sôfrego, pelo menos uma parte já havia feito, ela já estava aqui.

O check-in foi rápido, assim como em todos os anos, e logo que sentou-se em um canto mais afastado das cinco pessoas que ela notara estar presente, sentiu o vento gélido bater contra seu rosto e seus ombros relaxaram instantaneamente, ela poderia fácil dormir ali por umas quatro horas seguidas, ou mais.

E foi isso que ela fez.

Porém, não foram quatro horas, foram vinte minutos, a garota nem sabia que poderia dormir tão fácil assim, ela culpa sua insônia repentina (ou sua escolha irresponsável de maratonar "Friends" pela décima vez ao invés de dormir cedo para ter mais disposição em sua aula no dia seguinte), mas, com todo o coração, Yejin desejaria ter continuado em seu sono profundo pois abrir os olhos naquele instante foi a pior decisão que ela poderia ter escolhido.

A sala estava cheia, absurdamente cheia.

Parecia que as poucas pessoas que ali estavam se multiplicaram como filhotes de coelho, havia gente até mesmo em corredores que nem ela sabia que existia. E por mais que já tivera feito o check-in antes, Yejin sabia que demoraria para ser atendida, ela já estava até acostumada, mas, nesse específico dia, ela desejava que todos desaparecessem pra sempre.

— Kim Yejin? — Uma voz de repente a tirou de seus próprios e mórbidos pensamentos a fazendo piscar diversas vezes para voltar a realidade que ela gostaria tanto de fugir.

— Sou eu — Murmurou baixo, sua voz ainda estava rouca e ela sentia sua garganta extremamente seca, resultado de seu cochilo de poucos minutos.

— Hoje estamos meio ocupados demais, podemos dizer, e talvez demore pra te atender, você tem algum compromisso até mais tarde?

Não, mas como eu queria.

— Está tudo bem, eu posso esperar — A mulher baixa deu o maior sorriso que a jovem já havia visto em toda a sua vida e a mesma sentiu seu estômago embrulhar, ela odiava felicidades excessivas demais, o quão egoísta essa moça podia ser para transmitir um sorriso tão grande a alguém que, obviamente, está quase pulando da janela mais próxima desse prédio só para não estar aqui nessa mesma sala?

cinco minutos.Onde histórias criam vida. Descubra agora