- CONTO 01

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- Mãe, porque a senhora está chorando. – Perguntei enquanto olhei ela sentado na cama de minha avó.

- Porque sua avó morreu querido. – disse enxugando as lagrimas com o papel já molhado.

- Mas se as pessoas vão para lugares melhores, deveríamos ficar felizes. – falei enquanto olhava os retratos nas paredes de minha avó e de meu avô há muitos anos atrás, quando eram felizes.

- Eu sei querido. – disse ela sem querer discutir sobre o assunto.

Minha avó Morgana tinha acabado de falecer, na verdade o velório dela tinha sido há poucas horas e só sobraram minha mãe e eu em sua casa. Minha avó morava em uma cidade do interior, com poucos moradores e muitos fofoqueiros, como era de se esperar. Minha avó nunca foi muito bem vista pela vizinhança, era considerada uma bruxa, não uma bruxa no sentido figurado, mas no sentido literal. Apesar de ser uma pessoa completamente normal, tirando sua grande verruga no nariz que me lembrava daqueles historias de contos de fadas, ela estava sempre de bem com a vida, mas nunca de bem com os vizinhos.

Não quis perguntar para minha mãe o motivo de chamarem vovó de bruxa, seria inconveniente naquele momento de luto. Achei melhor investigar por minha conta e o que eu veria a descobrir depois, me fez ter um conceito totalmente diferente sobre as avós das pessoas.

Eu tinha apenas 13 anos e era um garoto muito curioso, “Perguntar” era meu sobrenome, “Sempre” era o meu nome. Mas aquilo estava mais para uma investigação, por isso andei por todos os cômodos da casa de minha falecida avó. Tinha retratos muito antigos, alguns bem esquisitos, com pessoas pálidas e mal vestidas. Até encontrei um retrato de mamãe. O cabelo dela era bem pior do que é hoje, acho que usavam ferro de passar para dar uma pequena alisava nos cachos rebeldes.

A casa de minha avó não era muito grande, três quartos, uma cozinha, uma copa, uma sala e um quintal amplo que dava acesso ao terraço, onde eram criadas as galinhas. Eu adorava ir lá correr atrás delas, saiam batendo asas como umas doidas, mas quando batia no prato para elas comerem, vinham depressa, era divertido.

Não sabia por onde começar minha investigação, pois era uma casa bem normal para uma bruxa. Talvez ela fez sumir tudo antes de partir ou talvez tenha levado tudo junto com ela em alguma gaveta oculta no caixão. Mas mesmo assim algo devia ter ficado para trás, alguma pista devia estar na casa, ninguém diria boatos assim atoa.

- Jhonny você está ai? – perguntou uma voz.

- Quem é? – perguntei saindo do quintal e indo para sala – Primo Jorge, quanto tempo! – disse enquanto dava um grande abraço.

- Desculpe, não conseguimos chegar a tempo. – disse tia Nalva enquanto me dava um beijo na testa, com os olhos inchados de tanto chorar.

- O que você está fazendo? – perguntou primo Jorge.

Disse em tom baixo - Venha até aqui, ninguém pode escutar – chegamos enfim ao quintal – Escutei boatos que vovó era uma bruxa e eu estou procurando provas, pistas ou qualquer coisa que me diga que isso seja verdade.

- Para de besteira, isso são apenas boatos de pessoas que cuidam da vida dos outros nessas cidades pequenas. – disse Jorge com um olhar cético.

- Por isso mesmo – disse com um sorriso sem dentes no rosto – As pessoas cuidam da vida dos outros, por isso sabem de coisas demais.

- E o que você acredita que vai encontrar? – disse Jorge com um tom desdenhoso.

- Não sei... Qualquer coisa, um sinal mínimo que me faça acreditar. – disse enquanto examinava as paredes.

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⏰ Última atualização: Feb 23, 2015 ⏰

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