"Não cessaremos nunca de explorar
E o fim de toda nossa exploração
Será chegar ao ponto de partida
E o lugar reconhecer ainda
Como da vez primeira que o vimos."
- T. S. Eliot
- WYNONNAAAAA!!
- BABYGIRL!!
Sorrio largamente e apresso o passo ao ver minha irmã surgir no meio da pequena multidão que se formava na entrada da sala de desembarque do aeroporto da capital. Pensei em a cumprimentar reclamando da sua demora de 3 horas e meia para chegar, mas tudo que consegui fazer ao me aproximar dela foi me jogar no seu abraço e enterrar minha cabeça em seu pescoço, respirando fundo ali. Faziam onze meses que não nos viamos pessoalmente. Tinhamos nos encontrado em Bariloche, nos meus últimos dias de estadia e no primeiro dela, que estava em lua de mel. Depois do breve encontro segui minha jornada para o último dos lugares da minha lista de realizações. Passei os meses seguintes aprendendo tudo que podia com os moradores de uma pequena vila em Haryana, na Índia.
Afrouxo um pouco o abraço apertado para saudar meu cunhado, o famoso cirurgião (famoso por ser o único na cidade) Doc Holiday.
- Hey doc, por que você deixou ela atrasar tanto? minha bunda tá dormente de ficar tanto tempo sentada esperando vocês!
Antes que ele pudesse responder, Wynonna interferiu:
- Ei! Por que você tá assumindo que quem atrasou fui eu e não ele?
- E não foi você? - levantei uma das sobrancelhas ao terminar de falar, a desafiando.
- E como eu ia adivinhar que se desviasse um pouquinho do caminho pra fazer xixi na estrada a gente ia acabar se perdendo?
Fiz que não com a cabeça e voltei a atenção novamente ao doc, dessa vez o abraçando. Após recolhermos minhas malas seguimos em direção ao carro, seriam mais pelo menos duas horas de viagem até chegar no meu destino final: Purgatório. Durante o caminho refleti sobre como a cidade poderia estar completamente diferente agora, visto que a última vez que pisei nesse estado fora 10 anos atrás. No dia em que parti, com uma mochila nas costas e um coração partido, eu poderia jurar que jamais retornaria. Agora me encontro ansiosa para chegar e finalmente poder chamar o local de casa.
Percebi que minha respiração acelerava a medida em que os quilômetros de distância até a cidade diminuiam. No primeiro mês de viagem, após um dia inteiro de bebedeira e olhando para diversas fotos espalhadas na cama de hotel, prometi a mim mesma que faria cada segundo daquela experiência valer o alto preço que paguei para estar ali: deixei para trás a única pessoa com quem eu gostaria de dividir a vida. E valeu, viajei pelos quatro cantos do mundo, conheci pessoas incriveis e aprendi de tudo um pouco. Olhando para trás, o único arrependimento que carrego é não ter dividido tudo isso com ela. Respiro fundo. Sei que não há a minima chance de recuperar o que perdi.
Quando Wynonna me ligou, dois anos atrás, para informar que a cerimônia de casamento do amor da minha vida aconteceria naquele dia eu estava na fila de embarque para retornar a Purgatório, faria uma surpresa para minha família. Ao desligar o telefone corri para o balcão de passagens e mudei o destino da viagem para o outro lado do trópico. Agora, estou cansada de fugir. Purgatório também é meu lar e eu teria que superar essa história de uma vez por todas, afinal, são 10 anos de distância.
Perdida em pensamentos, quase não me dei conta de que finalmente haviamos chegado. Do lado de fora do único bar da cidade - pertencente a minha tia - encontravam-se antigos amigos e pessoas queridas, que se juntaram para festejar a minha volta. Sorri grandemente com os olhos já cheio de lágrimas. No momento em que abri a porta do carro fui recebida com um abraço coletivo que durou alguns instantes.
- Você tá enorme! - Gus falou sorrindo, como se a última vez que tivesse me visto fosse ainda na minha infância.
Após os cumprimentos entramos no bar e confraternizamos a tarde inteira. Chris, uma das minhas melhores amigas, começou a me atualizar das fofocas da cidade. Ao final do dia, eu estava exusta da viagem, das informações e da festança. Wynonna e doc não estavam prontos para encerrar o dia ainda e minha tia não podia largar o bar para me deixar em casa. Combinamos que enquanto eu não encontrasse um lugar para chamar de meu eu ficaria hospedada na fazenda da família, onde Wynonna e doc moram.
Pedi o carro da minha irmã emprestado, já que ela não estava em estado para dirigir e junto com doc decidiu que dormiria no apartamento situado em cima do bar. Juntei minhas coisas e segui dirigindo em direção ao centro da cidade, queria dar uma rápida olhada no que tinha mudado para começar a me familiarizar com minha nova casa.
Pra falar a verdade, consigo contar nos dedos o que tinha mudado de local. Uma hamburgueria que agora era uma loja de artigos infantis, uma loja de roupas que agora era um cassino e não muito mais que isso. Parei no último sinal antes de pegar a estrada para a fazenda e, ao olhar para o lado, meu coração errou três batidas. A primeira ao ver uma ruiva familiar indo em direção ao próprio carro, a segunda ao vê-la abrir a porta para uma mulher que não era eu, e a terceira quando olhei para cima e vi que elas estavam saindo de uma clínica de fertilização.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Metade de mim
FanficWaverly Earp é jovem e tem sede de saber. Foi essa sede que a levou a viajar por diversos países em busca de aventuras e aprendizado com culturas locais. No entanto, o que ninguém, em nenhum lugar do mundo, a soube explicar é como esquecer a testura...