capítulo 15

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The narrator's point of view.

Foram demorados os minutos até Lauren frear o choro e se recompor, sem dizer nada a mais velha se desvencilhou dos braços de Camila, se colocou de pé e rumou em direção a escadaria subindo a mesma, deixando a mais nova confusa e principalmente sua amiga que observava tudo. Dentro de si a razão e o coração estavam duelando cruelmente, estava chateada, ferida e confusa, mas ainda sim queria os braços da mais nova envolta de seu corpo, a forma como a música de Normani havia lhe tocado foi profunda e dolorosa, ela nunca havia se sentindo assim antes, nem quando namorou Lucy por quatro longos anos e quase casou-se com ela. Uma menina de dezoito anos havia devastado toda sua estrutura e lhe roubado seu coração.

- Lise... — Laur guiou os olhos para porta de seu quarto, onde Camila se mantinha de pé.

-Achei que não quisesse mais a minha companhia. — A hispânica murmurou amargurada, enquanto enxugava as próprias lágrimas.

- P-Posso? - Indagou incerta, Lauren deu de ombros e Camila adentrou o quarto da mais velha, aproximando-se a passos rápidos até a cama e subindo na mesma. A mais nova sentou-se sobre as próprias pernas no centro da cama, bem próxima a sua Lise.

-Por que Camila? Eu só queria te ajudar! - A hispânica disparou tentando conter as lágrimas, Camila pegou o celular e adentrou o aplicativo que usou para comunicar-se com Ally todas as vezes em que a menina estava em sua casa. Habilidosamente a mais nova digitou sua resposta para mais velha.

-Eu não queria lhe machucar como fiz naquele dia, Lise. — A voz eletrônica preencheu o ambiente. Antes que Lauren respondesse, a mais nova voltou a digitar e deixou que a voz do aplicativo falasse.  -Eu tive medo de te machucar de novo, de não conseguir controlar minhas crises mais e acabar te machucando.

- Mas me machucou da pior forma. O seu distanciamento foi a pior coisa que aconteceu nesse último mês, eu gostava de estar em sua companhia, de acordar sabendo que iria te ver, te abraçar e te ouvir me chamar de Lise. — Camila colocou o celular ao seu lado.

- Não gosta mais?

-Gosto e sinto falta.- A mais velha sorriu ladino, Camila jogou o seu corpo sobre o da mais velha, fazendo-a cair para trás na cama e gargalhar. — Camila!

-Quando eu estava tendo uma crise, você tocou Fur Elise e me acalmou, mesmo sem saber, por isso lhe chamo de Lise. Beethoven compôs a obra para uma mulher especial para ele, você é uma mulher especial para mim, a minha Elise, a minha Lise. — A mais nova sussurrou próximo ao ouvido de Lauren, confidenciando apenas a mais velha o motivo do tal apelido.

- E-Eu... - Lauren estava surpresa com a revelação e também feliz por saber de tudo aquilo. — Obrigada por me deixar ser alguém especial em sua vida, Sol.

- A quinta nota... - A menina murmurou e recebeu um grunhido positivo da mais velha. — Lise?

-Sim?

- Podemos ir a um fast-food e comer hambúrgueres?— Lauren liberou uma gargalhada.

-Podemos, mas avise a sua mãe antes. Não quero que ela fique preocupada com você.

Camila rapidamente se colocou de pé, puxou Lauren para que a mais velha a seguisse pela casa, juntas saíram e foram para casa da mais nova, Camila avisou a mãe que iria sair com a mais velha e decidiram ir caminhando para alguma lanchonete perto, a mais nova queria aproveitar cada minuto ao lado de sua doce Lise.

Lauren parou de andar, a mais velha se pôs na frente de Camila de costas para ela, abaixou um pouco o corpo e pegou a mais nova, a levando de "cavalinho" pela rua e presenteando a qualquer um que por ali passasse com a risada gostosa de Camila. Elas foram o caminho todo sorrindo, Lauren carregou Camila por um longo percurso e só a colocou no chão quando chegaram perto da lanchonete, ambas adentraram o estabelecimento e optaram por uma mesa mais afastada de todos para terem sua privacidade.

-Lise, não quero voltar para escola.- Camila murmurou, tendo ciência de que a mais velha já sabia o que tinha acontecido.

- Ele não está mais lá, Sol, e eu vou te proteger sempre.- A mais velha pegou a mão da menor e a acariciou. — Ninguém vai te machucar mais, amor. — Camila corou ao ouvir aquela palavra e com Lauren aconteceu o mesmo, a fala da mais velha saiu tão natural que só percebeu depois de já ter dito. — V-Você gostou? — A morena suspirou aliviada ao receber um menear de cabeça positivo.

-Dorme comigo essa noite, Lise? — A fala sussurrada da mais nova pegou Lauren de surpresa.

- Tem certeza disso?

- Humrum...

-Tudo bem, eu durmo.

As meninas fizeram os seus pedidos, Camila encarava a mesa evitando a todo custo olhar para Lauren, sabia que se fizesse tal coisa iria corar bruscamente, seus sentimentos dentro de si estavam tão fora de ordem, tão confusos, sua vida ficou confusa desde que Lauren chegou a cidade, seu típico roteiro já não era o mesmo, as coisas que fazia antes já não faz mais, apenas para passar mais tempo ao lado de Lauren. Sentia-se diferente,especial, e realmente era, uma autista desenvolvendo a capacidade de amar outro alguém, de mantê-la por perto por legítima e pura vontade, isso era tão surpreendente para si.

A contemplação do diferente é uma grande movimentação que existe em nossas vidas, é um desafio constante entender os outros e resignificar nossos valores, crenças e conhecimentos. Cada um tem seu jeito diferente, cada um é único, aliás, todo ser humano é único. Quando se trata de um autista, todos tem uma grande tendência de rótula-los como pessoas que não gostam de afeto e, na verdade, não é assim, o ato apenas tem que partir deles.

E por mais que alguma das demonstrações de afeto anteriores tenham partido de Lauren, Camila sentia-se a vontade para recebê-los e retribui-los. A pequena Cabello é capaz de amar, da maneira dela, mas ainda sim é capaz de sentir seu coraçãozinho errar uma batida ao ver o sorriso de Lauren, ou ao tê-la bem perto, ou ao tê-la lhe beijando com tanto carinho.

-Sol? — A voz baixa de Lauren atraiu a atenção da mais nova, que encarava sem parar o porta guardanapo vermelho sobre a mesa. — Você está bem? Quer ir para casa?

-Estou bem, Lise. – Murmurou baixinho.- Você... - A menor fez uma pausa, Lauren pegou na mão de Camila a incentivando a prosseguir. — V-Você pode me ensina a amar?

Lauren olhou a menor totalmente surpresa, era uma pergunta incomum para si, nunca ninguém a pediu para que ensinasse a amar.

-Sol... Eu te ensino, amor. — Murmurou fazendo a mais nova sorrir minimamente, bem ali Lauren soube que nunca deveria subestimar um autista, porque eles são bem mais capazes do que aparentam ser e do que as pessoas acreditam ser.

AUTISM (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora