Maktub - Um Conto
Fernando Schimidt
Havia um pequeno reino incrustado nas montanhas próximas do mar. O verde luxuriante das matas era entrecortado por magníficas cascatas que brilhavam sob o sol do amanhecer e deixavam escorrer suas límpidas e imaculadas águas por pequenos e sonolentos córregos que se juntavam mais abaixo, formando um tempestuoso rio o qual invadia e se harmonizava, quase como amante embevecido, a baía circundada de alvas areias que serviam de fundo visível sob as águas de várias cores cintilantes como pedras preciosas em uma joia real.
Seu rei, da janela de seu castelo, na mais alta das torres, maravilhava-se admirando a beleza da região, a qual compartia com seus súditos, oferecendo-lhes, de quando em vez, fugazes encontros em seu majestoso salão de piso brilhante como o ouro e paredes da cor do jade, presenteando-lhes com boa música, vinhos e iguarias que especialmente escolhia e trazia das inúmeras viagens que realizava a outros reinos vizinhos e distantes. Deleitava-se em conhecer antigas e novas e culturas, transitar por sociedades diversas e absorvia todas as emoções que lhe eram oferecidas de maneira interessada e intensa, porém pouco profunda. No fundo, o rei se amedrontava ao imaginar, da maneira mais simples, as consequências que poderia experimentar, decorrentes de todo o seu conhecimento.
Possuidor de grande talento, discursava muito eloquentemente e mantinha a todos ao seu redor avidamente envolvidos em suas oratórias a respeito de suas experiências. Era generoso e amante das belezas, das diversas artes - da pintura, da lírica, da poesia e, principalmente, da música! Seus ouvidos estavam sempre famintos por todos os sons e lhe acalmavam o canto dos pássaros, o ladrar dos cães, o estardalhaço das crianças brincando, o sopro dos ventos e até mesmo o estrondo dos trovões em noites de tempestades. Mas o seu preferido era... o silêncio! Ah! Como lhe entorpecia ouvir o silêncio. Dentre suas muitas habilidades estava a de tocar o alaúde. Punha-se a dedilhar as cordas meticulosamente afinadas do instrumento finamente produzido por expertos lutiers, produzindo notas musicais de refinada beleza e compondo odes de romantismo inigualáveis. Mas não tinha a coragem necessária para dedicá-los a ninguém, nem à sua amada esposa. Por isso sempre tocava às escondidas, velando da vista de todos os que o rodeavam, seu coração melancólico. Era de avançada idade e preocupava-se em oferecer a sua amantíssima rainha, bem mais jovem, tudo o que lhe pudesse ser de seu agrado. Eles se amavam e sentiam-se felizes em compartir com todos as suas realizações
O reino era formoso, resplandecente, próspero e feliz. A gente trabalhava em seus afazeres diversos. O comércio prosperava, as colheitas eram abundantes, os visitantes e viajantes que cruzavam suas ruas e frequentavam suas tabernas, divertiam-se a valer e todos viviam em ares de tranquilidade. A paz se fazia presente na região desde vário séculos.
A rainha era muito eficaz em administrar a corte e o fazia com graça e poder. Todos os serviçais à respeitavam e obedeciam com rigor as suas ordens. Era doce de olhar e compassiva para com os seus súditos menos favorecidos, em número de poucos, já que não havia necessitados dentro dos limites de suas terras ou fora delas numa distância mensurável. Todos no reino viviam em prol uns dos outros e tratavam as hierarquias existentes com respeito e consideração mas sem reverência. Não se conheciam opressões, não haviam avaros ou cobiçosos e, por este motivo, gerações haviam desfrutado de progresso e prazer. As discussões eram, na maioria das vezes, oriundas de mal-entendidos os quais eram desfeitos com grande facilidade.
O casal real já havia passado por tempos difíceis e haviam se tornado mestres em desfrutar tudo de bom que se lhes apresentava. Mas, faltava, embora ninguém se desse conta, um herdeiro ou uma herdeira naquele reino. A rainha procurava não demonstrar mas queria uma menina. Desejava imensamente, com muito ardor. Com a idade avançada, o rei não ousava pensar no assunto e, muito menos, permitia qualquer comentário a respeito. A rainha começou então a investigar como poderia adotar uma criança. Mas no reino era difícil, pois todas as famílias adoravam seus filhos e os cuidavam com muito boa acolhida.
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Maktub - Um Conto
Historia CortaUma curta estória fictícia de um feliz e próspero rei que, apesar de possuir muitas habilidades, por sua própria incapacidade pessoal se vê envolvido em situações as quais não é capaz de administrar e que o levarão a decadência. FAVOR QUALIFICAR E C...