Quarta-feira, 9 de fevereiro de 1791

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Falta apenas mais um dia e a sra. Austen deverá chegar!

–Você está em apuros!

–Eu adormecera quase sentada e meu diário ainda estava sobre meus joelhos. Rapidamente o enfiei debaixo dos cobertores.

–Por quê? – Perguntei. Tinha medo de Lavinia. Será possível que ela me viu sair ontem à noite? Fingiu estar dormindo depois correu para a janela e me viu descer a rua, à noite e sozinha? Eu mal conseguia respirar, estava apavorada.

–Não fechou a cortina entre as camas. Sabe que isso não é permitido.

–A sra. Cawley me pediu para tomar conta de Jane. – Meu coração batia forte e aliviado enquanto eu contava a mentira. Foi tudo que consegui pensar para dizer, mas pelo menos Lavinia não poderia ter me visto saindo do dormitório, senão não teria se incomodado com algo tão trivial quanto manter as cortinas fechadas entre as seis camas do dormitório.

–Não pediu nada. – Lavinia parecia segura e era provável que tinha certeza: a sra. Cawley odeia Jane e era fácil adivinhar que ela jamais se daria o trabalho de me pedir para cuidar dela.

–Você é uma mentirosa, srta. Jenny Cooper. Bom, eu vou contar.

Ela saiu de sobressalto e podia ouvir sua voz enquanto descia as escadas.

–Senhora – chamou com a voz toda meiga -, lamento informar que Jenny Cooper quebrou as regras do dormitório.

Levantei-me da cama. Rapidamente abaixei e empurrei o tinteiro e a pena de escrever para debaixo da cama. Me senti enjoada e zonza quando me levantei outra vez. Estava tão cansada e o piso estava tão frio que meus dentes batiam, e mais uma vez  a água da minha jarra congelara até a borda. Mais um dia sem me lavar! Por que nos mandaram para este lugar horrível? Meus pés estavam congelados quando tirei minhas meias compridas de lã, então vesti minha anágua de flanela quentinha e depois meu vestido. Enrolei-me com meu xale e aguardei. As outras meninas evitaram olhar para mim.

Não precisei esperar muito. A sra. Cawley entrou no quarto, seguida de Lavinia que sorria toda convencida.

–Jenny Cooper – gritou a sra. Cawley –, você é uma menina malvada e desobediente. Terá de amarrar a prancha rígida nas costas durante duas horas como castigo.

Baixei a cabeça em obediência. Então tive uma ideia e perguntei se poderia me sentar ao lado da lareira lá embaixo enquanto usava a prancha. Tremi um pouco e esfreguei as mãos. Não precisava fingir que minha voz estava trêmula, tenho pavor da sra. Cawley. Lavinia contou que a sra. Cawley uma vez bateu nas costas de uma garota com uma vara até sangrar. Eu morreria se ela tentasse me bater. Eu a odeio.

Seus olhos estreitaram quando implorei para sentar-me ao lado da lareira, e um sorriso mordaz surgiu em seu rosto.

–Não, não pode – respondeu de forma vingativa. – Mandarei uma das criadas subir com a prancha imediatamente para amarrá-la em você. Fique aqui no dormitório que logo ela virá.

–É para o seu próprio bem. – disse Lavinia depois que a sra. Cawley saiu. – Você nunca arranjará um marido se tiver os ombros curvos. Deveria praticar a postura ereta e assim poderá até crescer um pouco. Sua prima é mais alta do que você e é um ano mais jovem. – E lançando um olhar de desdém para Jane, saiu do quarto. As outras meninas a seguiram, mas Amélia, que percebi ser mais gentil quando está longe das amigas, parou um instante e esperou até que Lavínia se fosse, Então sussurrou:

–E seu café da manhã?

–Creio que não comerei nada. – falei como se não me importasse e naquele momento não me importava mesmo. Não estava com fome; na verdade, estava meio enjoada. Queria sentir a testa de Jane e não podia fazer isso enquanto tivesse alguma menina por perto. A sra. Cawley me proibira de tocar em Jane. Sua teoria era de que ninguém poderia pegar febre se não tocasse em um paciente. O capitão Thomas Williams me disse que isso não era verdade; inspirar cheiros ruins e uma coisa chamada miasma é que causava febre nas pessoas. De qualquer forma, não me importava. Assim que Amelia saiu do quarto, senti a testa de Jane; ainda estava muito quente, mas achei que estava um pouco melhor. Pelo menos estava quieta agora, sem resmungar. Rezo para que, quando sua mãe vier levá-la para casa em Steventon, ela se recupere.

Eu fui a melhor amiga de Jane AustenOnde histórias criam vida. Descubra agora