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Maratona 4/7

Viro à esquerda para a A4 e acelero pela estrada. Lili está encolhida no
banco do carona, mas pelo menos se lembrou de colocar o cinto. Está olhando
para os prédios industriais e concessionárias de automóveis pelos quais
passamos, mas de vez em quando esfrega a manga do suéter no rosto, e sei que
ainda está chorando.
Como as mulheres conseguem chorar tão baixinho?

- Quer parar para comprar uns lenços? pergunto. - Desculpe, não tenho nenhum aqui.

Ela balança a cabeça, mas não olha para mim. Entendo por que está mexida. Que dia. Se eu estou assustado com desenrolar dos acontecimentos, ela deve estar esgotada.

Completamento esgotada. Acho que é melhor deixá-la pôr os pensamentos em ordem. Além do mais, está tarde e preciso fazer algumas ligações.

Encontro o número de Danny pelo painel de navegação do carro. O som da
ligação chamando ecoa no carro pelo sistema integrado de viva-voz. Depois de
dois toques, ela atende.

- Mansão Sprouse - diz em seu sotaque irlandês familiar

- Danny, sou eu, Cole.

- Mestre Cole... Quer dize...

- Tudo bem, Danny, não se preocupe - eu a interrompo, lançando um rápido olhar a Lili, que agora me observa. - O Esconderijo ou o Mirante estão disponíveis este fim de semana?

-Acho que os dois estão, meu...

-E na semana que vem?

- O Mirante está reservado para uma sessão de tiro ao prato.

-Vou ficar com o Esconderijo, então.
Apropriado.

- Eu preciso... - Olho de relance para o rosto pálido de Lili. - Eu preciso que dois dos quartos sejam arrumados e que itens de higiene pessoal algumas roupas minhas sejam trazidas da Mansāo.

- O senhor não vai ficar na Mansão?

- Não, pelo menos não no momento.

- O senhor disse dois quartos?
Eu esperava que fosse só um...

-Isso, por favor. E você pode pedir a Jessie que abasteça a geladeira para o
café da manhã e, talvez, para um lanchinho mais tarde? E vinho e cerveja. Ela
pode improvisar.

- Com certeza, milorde. Quando o senhor chega?

- Mais tarde, ainda esta noite.

- Pois não. Está tudo bem, senhor?

- Tudo ótimo. Ah, Danny, o piano poderia ser afinado?

- Providenciei isso ontem. O senhor mencionou que queria todos afinados
quando estivesse aqui.

- Ótimo. Obrigado, Danny.

- Não há de quê, meu...

Pressiono o botão de desligar antes que ela termine de falar.

-Quer ouvir música? - pergunto a Lili.
Ela se vira, os olhos vermelhos na minha direção, e sinto um aperto no peito.

- Certo - digo, sem esperar resposta.

Pesquisando no mesmo painel, encontro um álbum que espero que ela ache
relaxante e pressiono play. O interior do carro é tomado pelo som de violões, e
fico um pouco mais calmo. Temos uma longa viagem pela frente.

- Quem é? - pergunta Lili.

- Um cantor e compositor chamado Ben Howard.

Ela examina a tela por um momento e volta a olhar pela janela.
Reflito sobre todas as minhas interações anteriores com Lili à luz do que
ela me contou hoje. Agora entendo por que ela fica tão hesitante perto de mim,
e isso me deixa com um peso no coração.

Mister | SprousehartOnde histórias criam vida. Descubra agora