Planos malignos de sequestro.

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        O andar térreo da Toca estava escuro e silencioso. As velas de Natal, ainda flutuando próximas ao teto, jaziam apagadas. Mesmo as fadinhas da árvore na sala pareciam estar adormecidas. Estalares de madeira e baixos cochichos eram os únicos que interrompiam o silêncio da madrugada. A estrutura gigantesca daquela casa confusa rangia suavemente, como se fosse um bicho vivo com as juntas gastas.

        Lia, recostada na parede da cozinha após ter buscado um copo d'água, fazia tudo o que podia para enrolar e gastar seu tempo ali. Se voltasse ao quarto em que dormia no térreo, ela teria que lidar com a fonte dos cochichos que quebravam o sossego da noite: a terrível besta laranja perdendo a cabeça em seu beliche. Aparentemente, Rose não sabia lidar muito bem com as coisas saindo de seus planos... Bastou a inesperada falta de Marcus e Jean para começar a quebrar o espírito daquela doida.

        Sendo justa, Lia precisava admitir que o desfalque na equipe ultra secreta não fora o único fracasso pelo qual passaram. Na verdade, a noite havia sido nada além de fracasso atrás de fracasso. Encarando a luz da lua a invadir a cozinha, Lia rebobinava as últimas horas na cabeça.

        Tudo começara muito promissor, com Tiago fazendo o mínimo, ainda que com muito desagrado. Na hora em que todos escovavam os dentes e arrumavam os quartos para a noite, Tiago cumpriu sua parte do acordo de liberar certo artigo da Gemialidades Weasley que ele possuía. Após disfarçadamente abrir e remexer seu baú num canto do quarto dos meninos, a fim de que distraídos Fred e Louis não percebessem nada além das meias fedidas que ele jogava por cima dos ombros, Tiago parcialmente revelou caixas coloridas, enfileiradas e organizadas. Lia lembrava de se arrepender de puxar o fôlego surpreendido. Todo o fedor da roupa suja de Tiago invadiu suas narinas num golpe cruel. Mais rápido que a mão curiosa de Lia, ávida para checar todos aqueles logros e pegadinhas escondidas no fundo do baú do garoto, ele rapidamente pegou o que precisavam, rearranjou o bolo fétido que guardava seus tesouros e grunhiu:

        — Nem vem, que não tem.

        Fora decepcionante, mas Lia superou. Saíram com a especial caixa nos bolsos depois de Tiago trancar seu baú com muito carinho. E, com as bochechas cheias de seu milésimo gole de água na cozinha, Lia refletia que fora ali que as coisas começaram a degringolar.

        — Alvo, você e sua cara de bobo inocente vão entregar nossos presentinhos de Natal para as duas garotas. — Rose pontuara em seu olhar intenso e voz baixa. Quando todos na Toca se deitavam, eles haviam se reunido no maldito quarto no térreo para revisar o plano. — Você vai ter que trabalhar dobrado agora que não temos a cara de bobo inocente de Jean...

        — Ei...? — Alvo havia reclamado, porém incerto. Talvez ele no fundo estivesse ciente de sua cara de bobo.

        — Eu vou chegar no quarto andar e distrair a Vick — continuava a ruiva. — Tiago, você faz seu trabalho no terceiro para que ninguém suba. Lia, voc...

        — Que trabalho, Rosinha? — Tiago questionou após displicentemente cutucar o nariz.

        — Eu sei lá! Você que é bom em irritar os adultos. Inventa algu...

        — Espera... — Lia teve de pedir um tempo. — Você vai distrair a Vick antes ou depois de eu sequestrar as duas?

        — Eu vou ter que distrair as duas antes. Sozinho... — Alvo meio explicou, meio lamentou. Suas faces eram distorcidas pelo horror. — Aí, quando elas desmaiarem, você sequestra.

        — Enquanto o Tiago explode o terceiro andar e Rose distrai a Victoire? E o quinto andar? Quem explode esse? — Lia semicerrara os olhos.

O Invasor de Hogwarts - ano 1Onde histórias criam vida. Descubra agora