Marcas de Fé: Devaneio Póstero

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Visões de um resplendor colérico e fatídico infiltravam-se na mente dela, sufocando-a com previsões de uma iminente catástrofe que abalaria a vida de muitos. As chamas do caos queimavam as esperanças, destituindo aqueles que se julgavam imunes aos efeitos nocivos do desespero.

Abrindo os olhos, enxergou-se novamente naquelas ruínas arcaicas construídas por um povo cuja história apagou-se com o tempo. De frente para ela, o pedestal no qual seus dedos negros tocavam emitia um clarear amarelado. Hesitante, afastou o tato do monumento misterioso, recobrando a sensação de realidade. Quiçá aquilo que vislumbrara fosse o presságio de dias de guerra, anúncio de uma catástrofe.

Batera o cajado, fabricado há dezenas de anos a partir de madeira refinada, com uma esfera abraçada por detalhes semelhantes a raízes de plantas

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Batera o cajado, fabricado há dezenas de anos a partir de madeira refinada, com uma esfera abraçada por detalhes semelhantes a raízes de plantas. O mais leve tilintar ecoava pelas paredes corroídas pelo tempo e desgastada pela própria natureza que invadia a construção. Cada batida fazia com que o peso sobrenatural em suas costas esvaísse. Suspirou longamente em seguida, ajeitando os óculos dourados em sua face.

Por uma última vez, admirou o pedestal. De formato único, quase retorcido, construído e saturado de magia, emanava uma aura magnetizante. Distanciou-se, com as pálpebras já caídas e calcanhar manco. Depositou as suas preces na sala, suplicando orientação a entidades seculares.

Percorrendo o caminho inverso, pelo qual perambulou até alcançar os confins do templo, viu-se diante de pinturas rupestres. A tinta desvanecida impedia que se compreendesse prontamente os registros. O coração, pesado pelas revelações, a fazia desacelerar o passo, permitindo que assimilasse o contexto das mensagens. Sua cabeça acompanhava as ilustrações, ora no alto, ora no baixo, ora em outra parede.

Antes da saída, havia uma enorme sala. Pelas laterais jorrava-se água como cachoeira, despencando nas bordas do chão. O barulho era tranquilizador; todavia, o ambiente fora contaminado por uma presença abnormal. Pressentiu a aproximação de um forasteiro. Lhe incomodava, ouriçando os pelos da nuca. Ajeitou o longo e pontudo chapéu roxo em sua cabeça e aguardou, no centro da sala.

Distante, fitou a inusitada silhueta descendo o corredor pelo qual ela passara. Levantou as sobrancelhas em surpresa. Com uma das mãos, ergueu o cajado e, com a outra, cerrou o punho.

Mórbida era a figura que lhe perseguia, um ser que esbaldava perversão. Preparou-se para o embate, evocando poderes ancestrais, clamando por forças incompreensíveis. O rascunho de um inevitável confronto lhe aborrecia por suscitar perigos obscuros. Abriu a boca e sua língua proferiu encantações já esquecidas, moldando em torno de si uma proteção etérea que lhe guardava de ameaças. Os cabelos, rubros como sangue, balançavam enquanto uma quantidade anormal de vento reverberava pelo local, quase lhe arrancando o chapéu.

Tinha que atacar. O adversário havia adentrado o território com um sorriso maléfico.

Crônicas de Ríthia - Vol. 1 (Pergaminhos do Multiverso)Onde histórias criam vida. Descubra agora