Please, talk to me too

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Quando pequeno, minha mãe sempre dizia que eu deveria ser independente tanto financeira quanto emocionalmente. Infelizmente, eu aprendi o que isso significa da pior forma. 

"Não dependa de ninguém, querido!" era o que a senhora Jeon sempre dizia, eu deveria ter seguido seu conselho, até porque minha mãe tinha experiência no assunto.

Ela sempre contava a forma como tinha se apaixonado loucamente por meu pai, dizia ter sido amor à primeira vista, mas esse amor acabou cobrando caro anos mais tarde. Jeon Wondeuk não tinha uma vida financeira muito estável e achou que seria uma boa ideia sumir do mapa logo após o nascimento de seu segundo filho que, para ele, representava apenas mais uma boca para alimentar. Bom, minha mãe aprendeu na marra o que era precisar ser independente tanto financeira quanto emocionalmente, mas ela soube criar muito bem os dois filhos.

Hoje, aos 74 anos, eu posso dizer que tive facilidade com a parte monetária, mas falhei drasticamente quando se trata do coração.

Conheci Kim Mingyu quando tinha acabado de completar meus 16 anos de idade e lembro da forma como mamãe apoiou a minha aproximação do recém chegado vizinho gentil e pouco mais novo do que eu. Ele tinha um sorriso bonito e a mãe dele fazia uma ótima torta de limão, eu não pude resistir.

Viramos amigos rápido demais e, quando eu notei, já éramos mais chegados que irmãos. Ele vivia na minha casa e eu na dele, conversando sobre algum assunto aleatório que Mingyu sempre puxava, testando receitas malucas da internet na cozinha bem decorada da senhora Kim ou jogando o videogame caro da irmã mais velha do meu melhor amigo. 

Também gostávamos de ir até a praça do bairro porque Mingyu adorava se balançar e eu não me importava de empurrá-lo quantas vezes ele quisesse. Na verdade, eu não me importava de fazer qualquer coisa que ele me pedisse com aquele sorriso que mostrava seus dentes pontiagudos e transformava seus olhos em dois risquinhos bem miudinhos, eu estava disposto a fazer qualquer coisa que o deixasse feliz.

Mas havia uma das nossas manias em particular que era a minha favorita, não importa quantas vezes repetimos aquilo. Nós costumávamos ir até o galpão abandonado no final da Rua D e subir até o terraço para compartilhar segredos e fazer promessas que só eram escutadas por nós dois e pela lua, eu adorava fazer aquilo. 

Gostava particularmente de quando Mingyu se espreguiçava e encostava a cabeça no meu ombro, esperando que eu abraçasse os seus semelhantes para que começasse a contar e nomear as estrelas. Meu melhor amigo tinha uma criatividade imensa, dando nomes diferentes para cada uma delas quando, para mim, todas as estrelas se chamavam Kim Mingyu. 

Nós costumávamos dizer que a lua ouvia e guardava os nossos segredos e isso era ótimo, porque havia coisas que só nós dois e o astro poderíamos saber, e a lua parecia brilhar só para nós todas as vezes em que estávamos ali, naquele terraço solitário que se tornou nossa galáxia particular. 

Com o tempo nós começamos a decorar aquele lugar. Ainda me lembro de ouvir as reclamações do meu irmão, Bohyuk, quando suas almofadas sumiram misteriosamente, ou as de sua mãe quando o tapete virou mágico e saiu voando como no filme do Aladdin. Mas no final valeu a pena, nosso universo se tornou mais confortável e bonito, e nós passamos a assistir desde o pôr do sol até o nascer do mesmo. 

Nossas mães não se importavam muito desde que estivéssemos juntos, um cuidava do outro e isso era o importante.

Nosso plano era terminar o ensino médio e entrar na mesma faculdade, talvez dividir o aluguel de um apartamento perto do campus, e foi exatamente isso o que fizemos. Nesse momento eu comecei a perceber que as coisas não eram tão preto no branco quanto eu pensava.

Eu percebi que gostava muito mais de estar com Mingyu do que com os outros amigos que fiz na faculdade e também descobri que ele era o que fazia do meu mundo um pouquinho mais colorido.

Talking to the moon » Meanie Onde histórias criam vida. Descubra agora