Prólogo

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S

ophia entrou no escritório de Daniel e se deparou com uma cena que a fez derrubar os papéis que trazia em mãos. Instantaneamente sentiu as lágrimas acumularem em seus olhos e um aperto no peito massacrou seu coração. Tinha sido uma tola. Jamais deveria ter aberto seu coração com Daniel, nunca deveria ter dito que cultivava um sentimento por ele, que sentia algo nunca sentido antes, porque agora ele estava ali, agarrado com outra, pouco se importando com seus sentimentos, com o amor que ela poderia dar a ele, mas que Daniel não sabia — ou não podia — retribuir.

Ela sabia que por mais que fossem casados, Müller não tinha obrigação nenhuma de corresponder a qualquer sentimento que ela viesse a sentir por ele. Mas custaria muito, pelo menos, respeitar e ser mais discreto para não a magoar?

— Eu te odeio, Daniel — gritou ainda dentro do escritório dele, fazendo o empresário se sobressaltar e direcionar seu olhar a ela.

Daniel Müller estava visivelmente surpreso com Sophia parada em sua frente. Desvencilhou-se da bela morena sentada em seu colo, trajando apenas sutiã e sua saia social erguida até a altura da barriga.

— Sophia... — mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, a loura já saía disparada, com as mãos no rosto e aos prantos.

Ele vestiu sua camisa social e saiu do escritório às pressas, ainda abotoando o traje. A alcançou no meio do caminho e segurou seu braço com força.

— Vamos conversar — pediu e a induziu a olhar para ele.

Mas a loura nada respondeu. Soltou-se brutalmente de suas mãos masculinas e desferiu um tapa no rosto preenchido pela barba.

— Não me procure nunca mais, Daniel Müller. Entendeu? Nunca mais! — Proferiu pausadamente.

Ela disparou novamente pelos corredores da Swiss Chocolate e Daniel ainda tentou agarrá-la, mas fora em vão.

Droga! Praguejou-se mentalmente, frustrado e advertindo-se interiormente por sua estupidez.

Voltou furioso consigo mesmo para sua sala, dispensou a morena que ainda estava seminua, ajeitou seu terno e saiu apressado, mais uma vez, deixando todos os presentes confusos e com os olhares curiosos sobre o que havia acontecido há tão pouquíssimo tempo.

Irritado, seguiu até o estacionamento da empresa. Otávio, seu motorista, viu quando ele se aproximava a passos rápidos e pôs-se a ir em sua direção, pronto a atender alguma necessidade do patrão. Mas antes que o chofer pudesse chegar até ele, Daniel levantou a mão direita, sinalizando que não precisaria de seus serviços. Abriu a porta com um puxão abrupto, entrou sentando-se pesadamente no banco, como se descarregasse toda sua raiva, e bateu a porta fortemente, descontando ali mesmo toda sua aflição. Girou a ignição e saiu rapidamente com o carro, deixando seu funcionário totalmente surpreso.

Daniel sabia exatamente para onde seguir. Depois que Sophia o vira quase transando com outra mulher em seu próprio escritório, ele não teria dúvidas: ela estaria na casa deles, preparando as malas para ir embora e ainda insistiria em querer o divórcio.

Não posso permitir isso. Eu a amo, porra! Como eu a amo.

De um modo distorcido, ele a amava.

Chegou em casa, mal estacionara o carro e já estava correndo para dentro. Entrou e subiu as escadas desesperadamente. Preciso me explicar. Abriu a porta do quarto deles e lá estava ela, como previsto, arrumando suas coisas.

Quando percebeu sua presença ali, Sophia enxugou as lágrimas tentando não demonstrar que estava abalada com o que vira minutos atrás.

Daniel se aproximou cauteloso, sem saber como começar a se explicar.

— Sophia... — tencionou uma frase e foi interrompido no mesmo instante. Sua esposa de conveniência se virou bruscamente para ele, os olhos vermelhos e a face em uma expressão de raiva e dor.

— Nem perca seu tempo, senhor Müller — seu tom era de desdém — Não tem que me explicar nada.

— Mas eu quero. Só me...

— Não, Daniel. Você é um homem livre. Foda com quem você quiser! — Esbravejou sentindo-se cansada de tudo que tinha acontecido até ali.

— Que porra, Sophia! — Daniel quem aumentou a voz dessa vez, a assustando. — Eu estava com raiva! Você pediu o divórcio e depois te vi beijando aquele imbecil do Miguel! O que queria que eu fizesse?

Ela respirou fundo antes de responder.

— Não irei discutir com você. Só me deixe ir embora.

— Você não vai a lugar algum, é minha esposa!

— Sua esposa de mentira num casamento de mentira! — Despejou entredentes.

— E nosso sexo foi de mentira pra você?

— Aquilo foi um erro — Sophia voltou-se às malas — Nunca deveria ter acontecido. Quando estiver com a herança em mãos, me ligue e eu assino o divórcio.

Daniel a segurou pelo braço novamente, girando-a para ficarem um de frente para o outro. Ela se assustou com a atitude, mas não revidou. Seus corpos ficaram próximos, olharam-se nos olhos com intensidade, suas bocas estavam tão rentes que, apesar da raiva, Sophia desejou tomar a dele para si. E, ao mesmo tempo, o hálito fresco da loura subia pelas narinas de Daniel, acalentando seus ânimos.

— Não quero que vá e não é para manter nenhuma aparência. — Sussurrou buscando os olhos verdes esplendorosos e completou: — É porque eu te amo.

Sua declaração deixou Sophia levemente atônita. Por alguns segundos, permaneceu calada, sem saber o que dizer, como reagir diante àquela frase.

— E eu sei que me ama também — finalizou ele, olhando para os lábios femininos.

— Você não sabe de nada, Daniel. — Retrucou Sophia, quase inaudível — Não tire conclusões precipitadas.

— Não negue, Sophia. Eu vejo isso em seus olhos. Eu senti isso nos seus beijos e na noite em que fizemos amor. Estou sentindo isso agora. E se não me ama, por que se importa se eu estava com outra ou não? Eu sei que me ama, admita.

— Está enganado — insistiu na negativa sentindo seu coração palpitar em uma vontade imensa de tomar aqueles lábios e beijá-los loucamente.

Daniel a segurou pelos dois braços com um aperto sensual e a jogou na cama. Começou a desabotoar a camisa, olhando para ela, um sentimento de amor e ódio crescendo dentro dele. Amor pelo sentimento que sentia ali. Queria tê-la, amá-la, fazê-la feliz, dar-lhe prazer. Queria deixar aquele casamento de fachada de lado e fazer dela definitivamente sua esposa. Ódio por tê-la visto beijando outro homem, por ter sido um imbecil todo aquele tempo, por não ter se declarado antes a ela. Por tantas e tantas vezes ter cometidos erros atrás de erros.

— Então prove — declarou tirando a camisa e deixando o peito desnudo, num movimento sedutor — Resista aos meus beijos, ao meu toque e carícias. Resista a mim e eu te deixo em paz.

— Daniel...— sibilou, mas foi calada com um beijo intenso, os dedos longos escorregaram por entre seu queixo e, gradativamente, eles se deitaram na cama.

Sophia sequer lutou. Agarrou-o pelos cabelos curtos e o trouxe mais para si, aprofundando a troca de carinho. Sim, ela o amava, o queria a todo o momento, de qualquer forma, de todos os jeitos.

Daniel a amava tanto quanto ela, mas só naquele momento teve coragem de dizer. Só após se deparar que poderia perdê-la resolveu expor seus sentimentos.

Seus corpos se tocavam e eram uma confusão de sentimentos. Desesperadamente um precisava do outro e demonstravam isso em seus beijos intensos, em suas respirações ofegantes, na afobação no desejo de um possuir o outro. Sentiam o coração palpitar em anseio de fazer daquele momento o mais eterno possível, queriam parar o tempo para viverem aquele instante o resto da vida.

Despiram-se e consumaram o casamento, quebrandooutra vez o contrato que haviam firmado.

Contrato de Casamento (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora