✞ Capítulo 5

46 5 0
                                    

       Lá estava eu, diante de ninguém menos que Benjamin Coburgo — meu ex colega de poltrona do avião. Não tinha sequer passado pela minha cabeça que eu viria à um evento como esse para jovens cristãos. Mas eu não podia negar o chamado intenso no meu coração e a voz profunda da minha mente. Se o Deus deles queria alguma coisa comigo, eu estava pronta pra saber o que era.

— Eu preciso de ajuda. — Falei, ignorando a análise clínica de Benjamin sobre mim.
Ele inclinou a cabeça um pouco pro lado, como se estivesse tentando decifrar sobre o que eu estava falando.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou-me - Você está bem?
— Não sei. Acho que eu fiquei doida. — Fiz uma pausa, sem saber como contar a ele — É que desde ontem...

Fiz outra pausa, um pouco incerta sobre que palavras usar.
— Desde ontem... — Ele ergueu uma das sobrancelhas loiras, e insistiu que eu prosseguisse.
— Eu tenho escutado uma coisa. — Concluí.
— Uma coisa? — Agora Benjamin parecia quase receoso, com um ar de preocupação.
— Alguém me chamando. — Expliquei, falando rápido demais antes que perdesse a coragem de contar tudo — Antes no meu sonho de ontem, que aliás, foi muito bizarro. Tinha um vaso, e ele foi quebrado, e a voz falou comigo...
— Espera, o que? Sonho? Que voz?
— Eu... não sei. — Balancei a cabeça — Não tinha som. Não era feminina e nem masculina. Era gentil, mas ao mesmo tempo, imponente.

Agora foi Ele quem fez uma pausa, refletindo.
— O que a voz te disse? — Me perguntou.
— Me disse que ia fazer outro vaso, sei lá, algo assim. Um vaso novo. Ele quebrou o que estava velho. Não sei, isso não faz o menor sentido.

Benjamin pareceu entender alguma coisa que eu aparentemente não percebi, como se tivesse achado um sentido nisso tudo. Ele me olhou de um jeito diferente, que eu não soube explicar.
— E depois? — Ele perguntou, agora parecendo tranquilo.
— Depois me atiraram dentro de um rio muito profundo, e...  — Eu parei de falar, olhando para Ben e avaliando-o conforme ele me analisava com curiosidade e estranha... familiaridade?
— Pode continuar, Sabina. — Ele disse.
— Eu... — Respirei fundo e comecei a falar ininterruptamente — Isso é loucura. Só vim porque essa voz fica me chamando desde então. Eu fiquei doida. É isso, não é? Quer dizer, eu até cogitei que seria a voz de Deus depois de tudo que você me falou no avião, mas isso seria impossível.
— Por que seria impossível? — Benjamin disse, ainda com uma expressão serena — Você sabia que Ele é o Deus do impossível?

Fiquei encarando Benjamin por alguns segundos, atordoada. Isso não podia estar acontecendo. Onde estava minha sanidade mental? Eu mal acredito nesse tipo de coisa!
Fiquei inquieta, cruzando os braços.
— Você precisa se acalmar, Sabina. — Ele disse gentilmente - Vem. Vamos entrar.
— O que? — Olhei de relance para a entrada do congresso cristão, nervosa — De jeito nenhum.
— Nós podemos conversar melhor lá dentro, tem algumas salas vazias.
— Não posso entrar lá desse jeito — Apontei pra minha roupa — Ainda estou vestida de cosplay.
— E qual é o problema?
— Benjamin. — Eu disse séria — Estou usando orelhas de bichinho. Orelhas de bichinho, Benjamin. —  Apontei freneticamente para meu arco do cosplay, com orelhas de urso.

E ele riu.
Benjamin estava rindo, isso tudo enquanto eu estava em total e absoluto desespero!
— É bonitinho. — Ele disse.
— Eu não vou entrar lá assim. Não com essa roupa. — Tirei meu arco, desanimada.
— Então deixa isso aqui comigo. — Ele disse, e estendeu a mão.
Entreguei o meu arco, e não pude acreditar quando Benjamin o pegou, o revirou uma ou duas vezes nas mãos, e logo em seguida, o colocou na própria cabeça.
— Pronto — Um Benjamin com orelhas de ursinho e moletom ELE VIVE me ofereceu um quase meio sorriso — Problema resolvido. Você vai entrar agora?
Eu tive uma crise de risos nervosa.
O que estava acontecendo com a minha vida?!


-x-


       Nunca, nem em um milhão de anos eu esperaria que um congresso cristão seria tão... Autêntico. Eu não conseguia parar de olhar em volta, analisando freneticamente todo o colorido do ambiente.
Embora eu ainda me sentisse envergonhada por estar usando cosplay, precisei admitir que a decoração de todo o pavilhão me encantava. Haviam painéis de arte por todos os lados, seja com pinturas à óleo, materiais alternativos e até arte de grafite. Fitas e balões, estandes com livros e caixas de som por todos os lados.
Estava tocando uma música POP eletrônica, o que me fez encarar uma das caixas de som sem entender.
Hillsong - Benjamin me disse, apontando para uma das caixas de som — Hillsong é o nome da banda. A música se chama Wake.
— É cristã? — Perguntei, ainda surpresa. Comecei a prestar atenção na letra da música em inglês, e percebi que realmente o conteúdo parecia cristão.
 — É sim. — Benjamin sorriu satisfeito.
Ele não teve tempo de me explicar mais, porque enquanto atravessamos o pavilhão, vários jovens o cumprimentavam, chamando-o de "Ben". A frase que mais ouvi foi "E aí! A paz do Senhor, Ben!".
Ao me avistarem ao lado dele, me cumprimentaram também, animados. Alguns elogiaram minha roupa. Eu estava tão chocada que só conseguia balançar a cabeça e sorrir de leve. Ninguém me olhou de um jeito estranho, ou com preconceito, mesmo que eu estivesse com roupa de cosplay e Benjamin com orelhas de ursinho. Na verdade, alguns amigos dele brincaram sobre as orelhas quando passavam, outros perguntavam se ele iria participar da peça que aconteceria mais tarde.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 30, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Bendita FangirlOnde histórias criam vida. Descubra agora