dezessete

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DEZESSETE

Como eu disse, deveria haver um sistema diferente. Deveria haver algum tipo de arranjo universal que não deixasse espaço para mal-entendidos. Poderia envolver sinais de mão, talvez. Ou pequenos adesivos discretos presos na lapela, com código de cores para diferentes mensagens:

Disponível/Não disponível.

Com relacionamento/Sem relacionamento.

Sexo iminente/Sexo cancelado/Sexo meramente adiado.

De que outro modo a gente vai saber o que está acontecendo? Como?

Na manhã seguinte pensei muito e com intensidade e não cheguei a lugar nenhum. Ou a) Emma ficou ofendida com minhas referências ao sexo e não está mais interessada ou b) ela está bem, tudo continua de pé, ela só estava sendo ela e não dizendo muita coisa, e eu deveria parar de ficar obcecada.

Ou algo no meio.

Ou alguma outra opção que nem considerei. Ou...

Na verdade acho que isso cobre as hipóteses. Mas mesmo assim. Estou totalmente confusa só de pensar.

Desço de roupão por volta das nove e encontro George e Ingrid no saguão, vestidos com muita elegância.

George num blazer com botões dourados brilhantes e Ingrid num conjunto de seda branca, com o maior arranjo de rosas falsas que já vi. Também parece estar tendo um probleminha para fechar os botões do casaco. Por fim ela enfia o último na casa e recua para se olhar no espelho, ofegando ligeiramente.

Agora parece que não pode mexer os braços.

- O que acha? - pergunta a George.

- Sim, muito bom - diz ele franzindo a testa para um exemplar do Mapa Rodoviário da Grã-Bretanha, 1994. - É a A347? Ou a A367?

- Ah... acho que fica bonito com o casaco desabotoado - sugiro. - Mais... a vontade.

Ingrid me dardeja um olhar semicerrado, como se suspeitasse que eu esteja deliberadamente sabotando sua aparência.

- É - diz por fim. - Talvez você esteja certa. Faz menção de abrir dois botões, mas está tão atada que não consegue chegar com as mãos suficientemente perto. E agora George foi para o estúdio.

- Será que posso... - ofereço.

- Sim. - Seu pescoço fica vermelho. - Se puder fazer a gentileza.

Avanço e abro os botões o mais gentilmente que posso, o que não é muito, visto como o tecido está esticado. Quando termino ela dá um passo atrás e se olha de novo, ligeiramente insatisfeita, repuxando a saia sedosa.

- Regina - diz em tom casual. - Se você me visse agora pela primeira vez, que palavra usaria para me descrever?

Ah, inferno. Tenho certeza de que isso não estava na minha especificação profissional. Reviro o cérebro rapidamente em busca da palavra mais lisonjeira que posso encontrar.

- Ah... ah ... elegante - digo por fim, assentindo como se quisesse dar convicção ao que falo. - Diria que você é elegante.

- Elegante? - Seus olhos giram rapidamente para mim. Algo me diz que errei.

- Quero dizer! Magra. - emendo percebendo subitamente.

Como posso ter deixado de ver o magra?

- Magra. - Ela olha para si mesma por alguns instantes. - Magra.

Ela não parece totalmente feliz. O que há de errado em ser magra e elegante, pelo amor de Deus?

Não que ela seja nenhuma das duas coisas, sejamos honestas.

Regina Mills, executiva do lar - SwanQuennOnde histórias criam vida. Descubra agora