Theo
ELE PARECIA TÃO JOVEM.
Talvez fosse só porque ele tivesse precisado de resgate naquela noite. Mas,além disso, havia algo de jovem e terno nele. A forma como olhara fixamente pela janela do carro para aqueles cinemas antigos caindo aos pedaços. A animação em sua voz quando falou sobre vir para a Califórnia. O fato de não ter agido feito um imbecil quando sua mala foi roubada no bar. Fiquei me sentindo mal por ter reclamado tanto ao ser obrigado a ajudá-lo. Pobre rapaz – que puta azar ele tivera, ser roubado pouco depois de descer do avião. Ele devia estar exausto e gostoso. Faminto. Eu quis dizer, faminto.
Não que ele não fosse atraente. Só se fosse cego para não apreciar a simetria perfeita de seus traços. O vívido tom dos olhos. O maxilar bem-feito. Era fato:em se tratando de seres humanos, ele era agradável ao olhar. Não há nada de errado em admitir isso. Nada de pecaminoso. E, como tenho consciência corporal, pude notar que ele se mantinha em forma e gostava de malhar. Eu não precisava me sentir mal por isso.
Franzindo a testa, me concentrei em temperar o bife que havia tirado da geladeira para ele. Aqueci um pouco do azeite na frigideira e, quando estava no ponto, joguei o bife lá dentro. Chiou bastante.
Eu me perguntava quantos anos ele teria de fato. O que fazia na Rússia. Se era solteiro. Quanto tempo ficaria aqui. O que havia em sua vida que o fizera sair de lá. O clima? A economia? A política? Eu não ficava tão curioso assim sobre alguém já fazia tempo.
Ouvi a descarga e a água correndo na pia ali perto.
Para mim, era estranho estar em minha casa com outro homem. Eu gostava de entreter e frequentemente recebia amigos para ver filmes ou jantar, mas não me lembrava de ter ficado a sós com outro cara ali. A maioria dos meus melhores amigos era casada e continuava casada desde que comprei a casa. Nem mesmo uma mulher havia dormido em casa. Kira e eu nos separamos antes que eu pegasse as chaves. Na verdade, eu estava prestes a pedi-la em casamento quando ela pareceu surtar, convencida, de repente, de que eu não a amava de verdade. É claro que ela não parecia achar que tenha sido repentino – disse que já estávamos afastados havia meses e que não conseguia mais ignorar aquilo.
Fragmentos de nossa briga final martelavam minha mente como chuva de granizo – as exigências e acusações dela, minhas dúvidas e desculpas e, por fim, o triste rompimento.
Seja sincero pelo menos uma vez.
Por que está fazendo isso?
Você não me quer.
Não estrague tudo.
Tudo isto é falso.
O que você quer?
Quero mais.
Não tenho mais nada a oferecer.
Tentei consertar as coisas, tentei ser o homem que ela queria que eu fosse, tentei sentir as coisas que eu supostamente deveria sentir. No fim, estava paralisado. Exausto. Vazio.
Da próxima vez, faria tudo certo.
Franzindo a testa, lembrei-me do recente desastre com Tracy. Ela não parecia ter ficado tão chateada, mas eu estava. Devia haver algo que eu pudesse fazer para termos mais química, mas o quê? Fui até a geladeira e comecei a pegar ingredientes para a salada – alface, tomate, pepino, cenoura, rabanetes.
Quando eu estava fatiando o tomate, Liam voltou à cozinha, inspirando profundamente.
– Que cheiro ótimo. Estou com água na boca.
– Espero que goste de bife. – Coloquei os vegetais verdes, acrescentei as fatias de tomate e comecei a cortar o rabanete. – Eu tinha descongelado um para fazer hoje à noite, mas acabei saindo para jantar.
– Eu poderia comer até o prato, com a fome que estou. Mas, sim, adoro bife. É muita gentileza sua.
Meus olhos encontraram os dele rapidamente e então desviei o olhar para a tábua de corte. Droga. Aquele Azul.
– Sem problema. Gosto de cozinhar.
– Estou começando a achar que foi bom minha carona não ter aparecido no aeroporto para me buscar. Eu não comeria tão bem se tivesse aparecido.
Terminei a salada e virei o bife. – A pessoa simplesmente não apareceu?
Ele suspirou fundo, passando a mão pelos cabelos.
– Não. Mas espero que tenha sido apenas uma falha de comunicação. Er, posso carregar meu celular?
– Claro. Tem um carregador ali no balcão. – Apontei para o lugar e ele pegou o telefone do bolso e o plugou.
– Obrigado. Não acredito que esqueci o meu.
– Acontece. – Notei que ele olhava para a sala de jantar por cima do meu ombro, com uma expressão de curiosidade no rosto. – Vá em frente. Pode dar uma volta pela casa, se quiser.
– Tem certeza? Não quero ser invasivo. Mas sua casa é muito bonita.
– Tenho. E obrigado. – Peguei uma garrafa de vinho do frigobar sob a bancada. – Decidi tomar uma taça de vinho. Me acompanha?
– Não, obrigado. Não sou muito de vinho.
– Quer outra coisa? – perguntei, puxando a rolha com um saca-rolha – Vodca?
– Também não sou muito fã de vodca.
– Achei que todo mundo bebesse vodca na Rússia. – Peguei uma taça do armário e então me senti embaraçado. – Desculpe. Esse é provavelmente um estereótipo.
Mas ele sorriu.
– Muitos russos bebem vodca. Deve ser uma coisa de geração.
– Quantos anos você tem? – Não pude deixar de perguntar, enquanto arrancava a rolha da garrafa.
– Vinte e quatro.
Vinte e quatro. Senhor! Servi um tanto de vinho em minha taça. Muito.
– Imagino que você prefira tomar vinho? – ele perguntou.
– Às vezes. Gosto de uísque também. – Guardei a garrafa e tirei o bife do fogo. – Vá conhecer a casa. Mais alguns minutos e já termino aqui.
Ele desapareceu na sala de jantar, e eu tomei um bom e longo gole de vinho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
E Se Acontesse? ~ Version Thiam (Pausada)
FanfictionEu não queria me envolver com Theodore Raeken. Eu não queria me envolver com ninguém. Tudo o que eu queria era começar uma nova vida na América. Mas, quando me encontrei sem ninguém e sem abrigo, ele veio em meu socorro, oferecendo-me um lugar para...