007

184 23 5
                                    

Theo

FECHEI a porta do quarto de hóspedes atrás de mim e fiquei imóvel por um

instante, com a mão ainda na maçaneta. Será que eu não havia esquecido de nada? Será que ele precisava de mais alguma coisa? Eu disse a ele onde estavam as toalhas, não disse? Talvez ele quisesse um cobertor a mais? Desodorante? Lâmina de barbear? O que está fazendo? Deixe o cara em paz.

Tirei a mão da maçaneta rapidamente, como se estivesse em brasas, e desci a escada. Depois de trancar a porta dos fundos e ligar o alarme, andei pela cozinha na penumbra e notei seu caderno sobre a bancada, ao lado do celular. Peguei o caderno, controlando-me para não abri-lo. O que seria? Um diário ou algo assim? Um roteiro? Minha curiosidade a respeito dele brigava com minha consciência.

Deixe isso aí, seu babaca. Seja lá o que for, é particular.

Devolvi o caderno à bancada, mas não conseguia parar de olhar para o objeto.

Talvez ele quisesse ficar com o caderno lá em cima. E o celular? Talvez ele precisasse do telefone, não?

Pare com isso. Provavelmente, ele já está dormindo.

Eu poderia bater à porta de leve.

Você poderia esperar até amanhã cedo.

Mas talvez ele quisesse ligar de novo para o amigo naquela noite.

É só um pretexto e você sabe disso.

Era mesmo. E eu sabia.

Franzindo a testa, fiquei lá parado por alguns minutos com o celular dele na mão. A verdade era que eu me sentia atraído por ele, e não era só por causa da aparência. Era por sua simpatia e seu otimismo. Seus modos. Sua gratidão. Ele me pareceu ser do tipo que dá valor às coisas, ao contrário de muitos americanos. E gostei de como ele viera para cá determinado a mudar de vida, deixando tudo e todos para trás. Não porque achava que merecia algo melhor,mas porque tinha um sonho e estava disposto a lutar por ele. Ele era quase como alguém vindo de outra época – parte de uma geração de imigrantes que chegou aqui e fez deste país o que ele é hoje. Eles podiam não ter muitos recursos, mas tinham coragem. Força. Determinação.

E, tudo bem, confesso, gostei que ele tivesse tirado os sapatos sem eu ter pedido.

Mas também estava preocupado com ele. Do que ele ia viver? Tinha pelo menos algum dinheiro guardado? Onde ia morar? O que ia comer? De alguma forma, eu sentia vontade de protegê-lo, quase como se, já que eu o tinha resgatado, agora fosse minha responsabilidade garantir que ele ficasse bem aqui.

Não seja ridículo. Ele tem vinte e quatro anos, não doze. Ele não precisa de você. Além disso, ele já tem um amigo no país.

Mas veja a situação em que ele havia colocado Liam. Quão irresponsável ele era? E Liam não conhecia mais ninguém, então talvez precisasse de alguém como eu para ajudá-lo. Pelo menos até fazer novos amigos.

Não que isso fosse demorar. Ele provavelmente logo arranjaria uma namorada também. É claro que arranjaria. Uma jovem linda e loira com grandes olhos azuis. Cheia de curvas. Com pernas longuíssimas. Eles se apaixonariam rapidamente e se casariam sem demora, o que resolveria a questão de sua imigração, mas ninguém jamais acharia que ele havia se casado com ela só para poder ficar – seria evidente o quanto eles amavam um ao outro. Seriam absolutamente perfeitos juntos. Sua vida de sonho se transformaria em realidade.

Corta para o pôr do sol.

Eu estava irracionalmente irritado com tudo aquilo.

O que significava que não tinha importância se eu quisesse passar mais alguns minutos conversando com ele aquela noite, certo? Afinal, depois que ele partisse no dia seguinte, eu provavelmente não o veria nunca mais. Então que fosse assim.

E Se Acontesse? ~ Version Thiam (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora