17. Eu vou destruir o seu pai

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Delphine POV

Praguejei mil vezes mentalmente por ter esquecido de fechar as cortinas do quarto, e talvez, se o tivesse feito, teria impedido que os raios de sol me obrigassem a acordar tão cedo quanto parecia ser.

O dia anterior havia sido uma loucura, e me permiti chorar baixinho, quase que a noite inteira, pelo que havia acontecido com a minha mãe. Cosima me explicou quais seriam as próximas etapas do que aconteceria com ela, e o que fariam com ela: que primeiro a levariam a um teste psiquiátrico, e depois ela ficaria em isolamento, e chegaria a frequentar grupos de apoio.

Era triste internar uma pessoa sem seu conhecimento, ou a contragosto, mas sem isso minha mãe não conseguiria continuar vivendo, e eu estava fazendo aquilo mais por Charlotte, que já não tinha o pai presente, do que por mim.

Olhei para o chão, onde Cosima havia insistido que dormiria sobre um colchonete, e não em minha cama, fosse sozinha ou até comigo, e todos os lençóis que eu havia pego para que ela se sentisse o mais confortável possível – e eu sabia que não chegaria nem perto de se parecer com o conforto de sua própria casa – , estavam dobrados e devidamente colocados em seu lugar.

Levantei-me para procurar por ela. Meus planos incluíam fazer-lhe um agrado, por tudo o que havia acontecido na noite anterior, e por tudo o que ela havia passado por minha causa. Unicamente, por minha causa. Cosima sempre estava presente quando eu precisava que ela estivesse, e isso dizia muito sobre como Anthony se comportaria na mesma situação. Ele não apareceria.

Calcei os chinelos e fui até a porta do quarto, para então caminhar pelo corredor que dava na cozinha, mas antes de chegar, ouvi vozes e risadas vindas do cômodo, e por um segundo, parei para saber do que se tratava.

–  Mas você não pode ficar com raiva dela, toda vez que isso acontece Char –  dizia Cosima. Estavam falando de mim? Era só o que faltava.

– É difícil Cos, às vezes parece que ela não gosta de mim. Eu não ligo de ficar sozinha, sabe? Mas com esse novo trabalho dela, é meio chato ficar aqui em casa –  respondeu Char, e meu peito apertou em ouvir aquilo. Eu amava minha irmã, e jamais quis que ela se sentisse sozinha em algum momento, mais do que já se sentia, na verdade.

– Eu garanto, que na casa nova de vocês terá tanta coisa para você fazer, que você esquecerá quando ficar sozinha, e é totalmente seguro – disse Cosima. Eu me sentia mal por escutar a conversa atrás da porta, mas se estavam falando de mim, é claro que eu estaria curiosa para saber do que se tratava.

– Mesmo assim, não é a mesma coisa. Eu queria que Delphine estivesse comigo, nada mais do que isso. Às vezes eu a odeio!

"Não fale de Anthony, não fale de Anthony", eu suplicava secretamente.

– Olha – iniciou a mais velha – eu fugi de casa quando era criança, com a minha irmã, e eu dizia que a odiava quando ela tomava decisões que não me agradavam, mas que eram para o meu bem. E mesmo assim, eu sabia que ela me amava mais do que tudo no mundo, porquê continuou cuidando de mim, mesmo quando isso complicou a vida dela – contou.

Cosima tinha uma história tenebrosa. Eu apenas sabia que ela havia fugido aos doze, junto com a irmã, e sabia que era por causa de seu pai. No hospital, quando o dreno precisou ser retirado por mim, vi a diversidade de marcas presentes, e indaguei a mim mesma, se aquele havia sido o motivo de sua fuga. Eu não conseguiria imaginar, como alguém no mundo conseguiria machucar uma mulher como Cosima.

– Bom dia – disse com naturalidade ao invadir a cozinha, com um sorriso doce nos lábios.

– Vejam só quem acordou, finalmente – respondeu Cosima – Fizemos o seu café – disse ela, pegando um prato que estava ao seu lado com uma quantidade vantajosa de ovos mexidos, algumas frutas vermelhas já cortadas, e torradas que pareciam ter sido esquentadas na manteiga. Me alegrava que Cosima se sentisse à vontade em um ambiente tão divergente ao seu.

Não diga que me amaOnde histórias criam vida. Descubra agora