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Liam

EU NÃO tinha o direito de estar bravo. Sabia disso. Em um nível racional, eu sabia que Theo tinha todo o direito de dizer " não" para mim e sair com Tracy. Ou com qualquer outra pessoa.

Mas ele tinha que levá-la para lá, onde sabia que eu os veria juntos?

Onde eu teria que vê-lo dedicar a ela a atenção que eu queria receber dele? Onde eu seria forçado a encarar o fato de que ele não me queria o bastante para superar seus medos? De que eu não bastava?

Devia haver milhares de restaurantes naquela cidade. Por que ele tinha que escolher aquele onde eu trabalhava?

Ele havia feito de propósito, só para me torturar. Por quê?

Passei a noite inteira irritado com ele, mas também comigo, por estar irritado, para começo de conversa. Era um maldito círculo vicioso de raiva que me deu dor de cabeça até o fim da noite. Fiz um esforço absurdo para flertar com mulheres só para provocá-lo. Espero que ele tenha visto.

Meu Deus, será que eu tinha mesmo achado que ele ia me escolher?

Que só porque ele havia me deixado chupá-lo na cozinha e me masturbado no escuro eu importava para ele? Eu só o conhecia havia três dias! Ele havia passado uns vinte anos fingindo ser totalmente hétero porque achava que sentir atração por homens era errado. Será que eu pensara mesmo que seria aquele que o faria mudar? Talvez eu tenha sido aquele que finalmente tentou o bastante para que agisse segundo seus impulsos sexuais reprimidos, mas aquilo não passava de atração superficial. No fim das contas, era só isto que eu era para ele – uma transa.

E eu não queria ser sua obra de caridade. Assim que fosse humanamente possível, eu sairia de sua casa. Agora já tinha minhas economias e estava ganhando muito mais dinheiro no trabalho do que jamais ganhara. Eu podia não ter um Range Rover ou um Rolex, mas tinha a experiência das ruas e habilidades de sobrevivência e vinha de uma longa linhagem de pessoas que haviam feito o que fosse necessário para sobreviver. Não precisava que ninguém me entregasse o luxo de bandeja – eu podia consegui-lo com meu próprio esforço, e conseguiria. A primeira coisa que faria no dia seguinte seria encontrar outro lugar para morar.

Eu estava calado e emburrado na volta para a casa do Theo, e Tara notou.

– Ei. – Ela me olhou de relance. – Está tudo bem?

– Está.

– Você não parece bem. Sei que os russos não são tagarelas por natureza, mas hoje você está sério demais até para um russo. E sua aura está um pouco perturbada.

– Está?

– Sim. E escura. Muito escura. Percebi isso quando fui bus-cá-lo hoje à tarde, mas agora sinto de verdade.

– Desculpe. – Tentei pensar em uma cor clara, assim quem sabe minha aura não a preocupasse.

– Não se desculpe. Todo mundo tem direito a uma aura escura de vez em quando. Mas aconteceu alguma coisa no trabalho?

– Não.

Depois de mais ou menos um minuto de silêncio, ela disse: – Você sabia que Theo levaria Tracy lá hoje à noite?

– Não. – Pensei no que eles estariam fazendo naquele instante. Ele a estaria beijando? Tocando? Fodendo? O ciúme, desconhecido e indesejado, se apossou de mim. O que eles fazem não é da sua conta.

– Ela é tão simpática, mas... – Sua voz morreu, mas fiquei de orelha em pé. – Não sei se eles combinam. Tem alguma coisa errada. É como se estivessem se esforçando demais para dar certo.

E Se Acontesse? ~ Version Thiam (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora