10. Papai, irmã e momentos de pura verdade.

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04.01.2018

Acordo com o barulho das buzinas vindas da rua principal, abro os olhos aos poucos, ainda sentindo sensibilidade nos mesmos por causa da forte luz da manhã. Hoje é meu dia de folga e pretendo fazer exatamente nada, como sempre. Levando em consideração a carga horária pesada do meu trabalho, passar o dia de folga sem fazer nada é uma opção tentadora e, portando, a que escolhi para essa manhã bonita.

O céu não está limpo, como não esteve durante muitos dias passados, mas eu gosto assim. É o meu tempo favorito, quando não está nem nevando ou chovendo, apenas nublado com um frio suportável e cheiro de terra molhada. Me dirijo para o balcão da cozinha e decido por colocar um pouco de café na xícara, sem açúcar, sem leite, apenas café.

Contemplo o silêncio do pequeno apartamento, sempre gostei de ficar sozinha e não ter meu espaço atrapalhado por ninguém, mas eu acho que nós precisamos disso um pouco, de algo ou alguém que nos tire da solidão de nossas cabeças, nem que seja por pouco tempo. Apesar de não gostar que as pessoas ultrapassem um certo limite na minha vida, tem um certo alguém que anda ultrapassando, e muito, e eu não pareço me importar.

Talvez essa quebra de comportamento frio seja bom para mim, me abrir mais para as pessoas, talvez correr o risco de confiar nelas, estabelecer relações, laços. Mesmo que isso me doa em um futuro, eu acho que a dor faz parte, pois essa é a dor de viver. A dor de não sentir nada, ser vazia, dói muito mais, e eu já vivi nela. Esse certo alguém vem me mudando num bom sentido, até estou sendo mais simpática com Solar, e apesar de eu ter pensado que éramos diferentes no passado, talvez não seja tanto assim. Somos diferentes, é claro, mas ela não é uma má companhia.

Ele me apresentou a vida de novo, e agradeço por ter feito isso de forma tão teimosa e abrupta, se ele pedisse minha permissão, eu provavelmente diria não. Então que seja louvado o temperamento dele e sua personalidade difícil de lidar, esta que eu pareço manusear com maestria ultimamente.

Não penso mais no nome dele, eu andava pensando muito nele e me obriguei a parar, mas não consigo, então evito falar o nome dele só para que não pareça real ou pareça menos pior o fato de eu não conseguir me concentrar em outras coisas, é patético. Tenho medo de falar seu nome e evocá-lo de algum buraco fazendo-o aparecer do nada, como ele faz com muita frequência. Mas continua patético, então falo seu nome em voz alta só para ter certeza de que isso de evocar Jungkook é mentira.

— Jungkook. - falo num sussurro e olho para os lados só para confirmar que ele não apareceu do nada como eu temia. Não, ele não foi evocado, graças a Deus.

[...]

Saí para almoçar, não num lugar chique, só em algum lugar de esquina que tenha comida boa e barata, esses lugares são ótimos. O tilintar da porta do restaurante soa e vejo algumas pessoas entrarem, nada demais. A comida quente está deliciosa e aquecendo-me do frio, dou o último gole na bebida do copo e relaxo meu corpo com aquela sensação de cansaço e fartura pós refeição, é uma das minhas sensações preferidas, faço uma nota mental na tentativa de me lembrar disso se alguém me perguntar algum dia, o que seria improvável de acontecer.

Me levanto para pagar a refeição e estendo as notas de dinheiro para o rapaz do caixa que me recebe com um aceno gentil, sorrio sem os dentes de volta para o mesmo. Enquanto ele faz a contagem do troco, me permito prestar atenção na televisão, mais uma propaganda barata de refrigerante com uma moça bonita dando um gole no mesmo e subitamente seus problemas se dissipam no ar, preciso desse refrigerante.

"Nesse ano novo que se inicia deixe seus problemas para trás e comece um novo ciclo com..."

A voz bonita da moça da propaganda estava prestes a dizer o nome do refrigerante quando o rapaz do caixa chama minha atenção.

SAY YES TO HEAVEN || 🄹🄹🄺Onde histórias criam vida. Descubra agora