Capítulo 1
-Sabe que andar descabelada pelas ruas dessa forma é como um crime para eles- Alice puxa com força o pente para baixo em seu cabelo loiro e fazendo uma careta de dor com os fios arrancados-Com pena de morte ainda por cima- acrescenta ela.
Passo a mão pelos meus cabelos castanhos, alguns fios estão embaralhados, formando uma verdadeira bola de pelos em minha cabeça.
-Eles estarão aqui depois do horário de almoço, depois iremos para o pátio- avisa Alice- Vamos Aurora, levante dai e se arrume.
Suspirando me sento na beliche e meus olhos ainda um tanto sonolentos avaliam o local onde dormimos e passamos a maioria do tempo, é pequeno, pequeno até demais para duas pessoas, o chão é sujo e os beliches são velhos e usados, com cobertores finos que cheiram a mofo e poeira, travesseiros que parecem ser feitos de tijolos, sem conforto algum. A primeira impressão que tive ao chegar no orfanato da Sra.Adrews para garotas era que esse seria o meu fim, eu provavelmente morreria nas mãos dessas meninas. Algumas moram aqui desde quando eram bebês recém-nascidos, essas que comandavam o orfanato, maltratavam as novatas e faziam as regras do lugar, nem mesmo as inspetoras ousavam ir contra elas. Me lembro da minha primeira semana aqui, era uma menina franzina de cinco anos, um carneiro jogada aos leões, completamente indefesa. Megan era a mais velha de todas as garotas e a responsável por fazer a vida das novatas um inferno dentro do orfanato, e ela conseguia fazer isso perfeitamente, posso dizer por experiência própria quando me empurrou da janela do primeiro andar depois de ter me obrigado a enfiar a cabeça na privada do banheiro, não foi uma queda muito alta, mas o suficiente para que eu conseguisse quebrar a perna direita e ficar em repouso como um vegetal pelas seis semanas que se seguiram. Minha salvação dentro daquele lugar desconhecido e estranhamente peculiar tinha sido Alice, que havia se tornado minha melhor amiga desde o primeiro dia, graças ao Tony.
-Ele é seu?- ela havia perguntado com olhos curiosos e admirados em cima do meu ursinho de pelúcia, me lembro de analisá-la dos pés a cabeça, tínhamos a mesma idade e eu era dois centímetros mais alta, seus cabelos loiros estavam presos em um rabo de cavalo perfeito, suas roupas eram cinzas e simples, com o brasão do orfanato costurado em seu casaco fino.
Assinto com a cabeça timidamente, em um movimento quase imperceptível.
-Você fala?- ela joga a cabeça para o lado e eu consigo notar um sinal de nascença em seu pescoço, uma pequena manchinha rosa em sua pele pálida.
-Minha mamãe me deu- respondo, quase em um sussurro.
-E onde ela está agora?
Dou de ombros.
-Ela foi para o céu?- volta a questionar.
-Acho que sim.
Assinto novamente, cabisbaixa.
-Você sente falta dela?
-Sim-aperto Tony em meus braços e deixo que uma lágrima fuja de meus olhos e caia em sua orelha de pelúcia.
-Não chore. Mamãe sempre dizia que o céu é melhor do que aqui.
Enxugo meu rosto com a palma da mão.
-É mesmo?- pergunto em meio a um soluço.
-É sim, tenha certeza de que nossas mães vão ser grandes amigas lá, igual nós também vamos ser aqui- ela estende sua mão para mim e eu a pego- Agora vamos esconder o Tony- sussurra em meu ouvido- Aqui tudo tem que ser dividido entre as meninas, mas acho que Tony vai ser despedaçado se dermos a elas.
Desde esse dia Alice se tornou uma companhia indispensável para mim, éramos inseparáveis. Eu tinha medo de que depois de hoje, conseguissem nos separar.
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Interior Mirror
Teen Fiction''-Mesmo se fosse escolhida, o que acho difícil-digo, engolindo em seco- Não sei se aceitaria ir. -É um direito seu. -Mas preciso. Preciso fazer isso por elas. -A escolha é sua Aurora, faça-a com sabedoria. -Faço tudo por elas, sendo sábio ou não. ...