1: Quando a Felicidade Diz "Goodbye"

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Certa vez andando pela rua, parei em um desses restaurantes que vendem biscoito da sorte. Sorte, engraçado! Algumas pessoas acreditam em sorte, outras em destino e há também aquelas que acreditam em um Deus, não importa qual, apenas acreditam e depositam toda a sua fé nele. Ora! Veja eu divagando de novo, voltemos ao tal "biscoito da sorte". Bem posso dizer que ele estava delicioso, no entanto acho que não é este o propósito dessa nossa conversa, pois eu tenho a plena certeza que vocês estão se mordendo de curiosidade para saber o que estava escrito naquele papelzinho que vem dentro dele, não é? Aqui vai!



"A tristeza não é eterna, então, logo a felicidade também é passageira"



Voltando a divagação inicial sobre o que acreditar ou não acreditar, definitivamente eu tenho a plena certeza que não acredito em um pedaço de papel amarelo que vem enrolado dentro de um biscoito, com sabor questionável. Espera! Eu disse acredito, no presente? Vou me corrigir, eu definitivamente não acreditava pois agora eu não sei em que acredito mais, pois tudo está sempre tão confuso em minha cabeça desde aquele dia em que parei naquele maldito estabelecimento que não me interessa mais saber se era uma padaria ou restaurante, sei apenas que aquele lugar era amaldiçoado. Oh! Sim. Em maldições eu com certeza acredito. É justamente sobre maldições que eu vou falar para você. A maldição de perder quem mais se ama. Chega de enrolar e vamos aos fatos, mas entenda esta é a minha versão da história, de outras bocas, talvez você a ouça diferente.



25/06/2019



Como todos os dias depois que passei a morar com Arthit, eu sempre acordava primeiro que ele, descia até uma padaria que tinha por perto de nossa casa e comprava nosso café da manhã. Não que isso seja alguma coisa tão grandiosa, contudo vocês sabem, estar com quem amamos é sempre o maior presente que podemos ter.

Maldita terça-feira, porra, desculpe o palavreado, mas eu realmente odeio terças feiras. Encaro segundas, quintas e até tediosos domingos, porém terças feiras me apavoram. Para tirar esse pensamento ruim sobre terças da minha mente eu resolvi fazer diferente e ir caminhando até um restaurante mais longe, pois lá vendia o leite de rosas preferido do meu Arthit, quem sabe agradando a ele minha terça não fica melhor? Bem, não custa nada tentar.

- Senhor em que posso ajudar? - Perguntava uma mulher sorridente a mim, assim que adentrei ao restaurante depois de quase 45 minutos de caminhada.

- Bem eu quero leite de rosas e mingau de arroz. - Respondi tentando forçar um sorriso. Acho que consegui pois ela ficou olhando para mim, até ouvi o meu raspar de garganta que indicava meu constrangimento com a situação.

Olhei tudo ao redor e realmente aquele lugar era muito bonito, mas o que será que tinha ali que fazia o leite de rosas tão especial para meu amado Arthit? Olhando assim não vou saber dizer.

- Senhor Kongpob, seu pedido está pronto! - A moça falou ao chamar meu nome que havia informado a ela quando fiz o pedido.

- Obrigado! - Agradeci peguei a sacola e voltei para a minha caminhada matinal.

"Pegue seu biscoito da sorte e descubra o que o destino reserva para você"

Esta era a chamada que estava escrita em um cartaz que ficava na porta daquele estabelecimento que antes fechado, agora já se encontrava aberto. Eu não acredito nessas coisas, logo não tinha nada a perder e eu sempre tive a vontade de saber qual era o gosto desses tais biscoitos.

- Senhor, posso escolher um? - Perguntei ao senhor já de idade avançada que se encontrava atrás do balcão.

- Qual seu nome meu filho? - Indagou o velho de cabelos já grisalhos.

- Kongpob! - Respondi sorrindo.

- Você quer realente comprar um? - O homem perguntou sério.

- Por que? Acha que a sorte não irá sorrir para mim hoje? - Retruquei em tom debochado.

- Não acreditas nesse biscoito não é mesmo? - O velho me perguntou ainda mais sério.

- Não senhor, na verdade só quero saber qual é o gosto que eles têm. Quem daria crédito a um pedaço de papel enrolado dentro de um biscoito? - Questionei o senhor que me olhou, dessa vez surpreso, antes de me responder:

- Meu jovem - começou o velho - só porque não acreditas em algo, não quer dizer que isso não seja real. No entanto meu pai sempre dizia que algumas coisas devemos deixar os mais jovens aprender por si só. Está aqui o teu biscoito.

Paguei aquele senhor e sai de lá sorrindo com os conselhos dele. Quando já estava chegando próximo a minha casa e de Arth, abri o biscoito comi e realmente era delicioso, o papel eu ignorei e guardei no bolso do meu casaco.

- Amor! - Chamei Arthit ao entrar em nossa casa e ver que ele ainda não estava de pé na sala com aquela cara enfezada que deixa ele mais lindo ainda e querendo saber o motivo de eu ter demorado tanto.

- Estou no banheiro Kongpob! - Gritou ele de volta para mim.

Espera! Kongpob? Nem quando ele está bravo porque me atraso ou quando irrito ele de proposito só para olhar para o rosto corado de vermelho pela raiva, ele me chama assim. Não depois que a gente passou a morar juntos.

Sentei-me no sofá, mas não sem antes colocar o leite de rosas e o mingau de arroz na mesinha de centro que ficava por ali, e foi nesse momento que ele saiu do banheiro com os olhos inchados e um semblante que eu jamais havia visto em seu rosto. Um semblante de quem estava prestes a fazer a coisa mais difícil que poderia fazer na vida.

- Meu amor, aconteceu alguma coisa? - Falei caminhando rumo a ele, porém ele se afastou em um gesto que até para ele era estrando demais.

- Não me chame mais assim, por favor! - Ele respondeu sem olhar nos meus olhos.

- Que brincadeira é esta? Qual é a piada da vez. Isso tudo porque me atrasei um pouco para nosso café da manhã? - Fui até a mesa peguei o leite de rosas - Olha eu fui até seu restaurante favorito só para comprar para você.

Pude sentir somente o impacto de sua mão batendo á minha e o copo que eu segurava foi como em um piscar de olhos que me pareceu durar o período de uma era, ao chão.

- Você não está entendendo Kongpob, eu não sou mais um garoto da faculdade que é comprado com um leite de rosas delicioso. Eu já sou um homem e tenho que assumir a responsabilidade como tal. - Ele respondeu cuspindo cada palavra em minha face.

Eu revezava o olhar entre o leite rosas que agora manchava nosso carpete. Nosso carpete que escolhemos depois de tanta briga, pois não concordávamos e acabamos pegando o branco, bem, agora já estava com manchas rosas.

- E, você não as assume? Não levanta como qualquer outro homem e vai trabalhar? Não volta para casa no fim do dia cansado? Não sai para comer aos finais de semana com a pessoa que você ama? Não dorme as noites frias abraçado com o amor da sua vida? - Já com os olhos marejados eu jogava as perguntas que eu sabia, a maioria iria ficar sem respostas.


- Assumo? Eu te amo ou é apenas conveniente para mim estar contigo. Afinal tu fazes tudo o que eu quero. - Ele respondeu e eu tentei procurar um pingo de arrependimento em teus olhos, no entanto ainda agora ele não olhava para mim e isso dificultava a minha tentativa de buscar verdade nas duras palavras dele.

- Olhe para mim e seja homem - as lágrimas já caiam pelo meu rosto e minha voz se encontrava embargada - Um homem olha nos olhos da pessoa que amou ele por mais de quatro anos e assume a verdade daquilo que fala, sem medo da reação de quem está em sua frente.

Arthit respirou fundo, buscou ar nas profundezas mais desesperadoras de seus pulmões que insistiam em dificultar a respiração que ele visivelmente tentava controlar para não deixar o choro vir. Pelo menos não enquanto eu estivesse ali o encarando.

- Eu nunca te amei Kongpob, você sempre foi apenas conveniente para mim. Eu não sei em que ponto - as palavras pareceram sumir de sua boca quando eu dei alguns passos e fiquei quase colado a ele - eu... eu...

- Fale! Você o que? Ou o papo de ser homem e assumir responsabilidades não cola mais? Repete assim bem perto de mim, ouvindo a minha respiração embargada e meu coração bater uma e falhar duas, só em pensar que você está cogitando em me deixar. Vamos grite aqui bem na minha frente o quão conveniente eu sou e o quanto você me odeia por isso! VAMOS ARTHIT.

- Eu te odeio Kongpob. - Ele gritou ao me empurrar - eu odeio você querer estar sempre com a razão. Odeio mais ainda porque quase sempre você está realmente com ela. Mas, não dessa vez. Dessa vez, somente dessa vez eu vou fazer o que é certo para mim e esquecer a razão, a sua razão.

Ele não hesitou, não dessa vez, ele olhou em meus olhos no fundo deles e como no primeiro dia de aula na universidade eu pude ver a verdade em seus olhos. Eu vi ali mais uma vez que a decisão que ele havia tomado de me deixar era uma decisão que ele iria cumprir.

Minhas pernas acompanharam meu coração e falharam, não tive força para se quer aguentar o peso do meu corpo e cai sentado naquele carpete sujo de leite de rosas, o leite de rosas preferido do meu namorado, do meu homem. Carpete sujo da bebida que fazia aquela pessoa que era meu mundo inteiro sorrir o sorriso mais iluminado que já havia visto.

- Por que? - Foi a única coisa que eu consegui falar naquele momento.

- Os motivos que levam alguém a desistir de outra pessoa, nem sempre são motivos que precisam ser expostos. - Ele me responde tão duro igual ele nunca havia soado antes.

- Você não acha que eu mereço uma explicação? - Falei ainda sem forças para levantar do carpete que agora estava além do leite de rosas também sendo banhado pelas minhas lágrimas, que mais pareciam ondas gigantes que iriam inundar aquele local.

- Se explicações melhorassem as coisas, não haveriam guerras no mundo. - Ele respondeu agora se abaixando e ficando frente a mim.

- Mas eu te amo e amor não é guerra, amor é paz! - Respondi ainda com o choro descontrolado.

- Bem, este apartamento pertence ao meu pai, agora eu irei sair para que você possa se recuperar, e por favor, quando eu voltar não esteja mais aqui para tornar tudo ainda mais difícil para nós dois. - Sem dar espaço para que eu falasse mais nada ele apenas se levantou e se foi. Não olhou para trás, ele nem sequer ao menos se deu ao trabalho de fechar a porta. Ele se foi e junto com ele uma terça parte de mim o acompanhou.

Eu odeio terças feiras.



26/05/2020



Me desculpem sei que talvez não tinha o direito de compartilhar isso com vocês. Então porque o fiz? Hoje é terça feira e eu estou em Taipei, desde daquele dia soube que não poderia mais ficar em Bangkok, por que Taipei? Bem aqui foi onde eu e Arthit dissemos uma vez que viríamos para nos casar. Se eu ainda gosto dele? Sim eu gosto! Lembro que uma vez disse ao meu melhor amigo que não "gostava" de homens, gostava só do Arthit se não fosse ele seria uma mulher. Estava errado, se não for ele, na verdade não será ninguém.

Por que estou contando isso para vocês hoje? Bem, pela manhã eu recebi uma carta dele que ainda não tive coragem de abrir. Lembra no início da nossa conversa quando eu disse a frase que estava escrita no biscoito da sorte. Eu achei hoje aquele papel amassado dentro do casaco que ainda está com a mancha daquele leite de rosas derramado no carpete que eu caí quando minhas pernas falharam naquele fatídico dia. Quanto a carta. Veja, quem sabe um dia eu a leia para vocês! Já essa história como disse antes é o meu ponto de vista, quem sabe um dia o Arthit conte o dele para nós. É mesmo a pergunta, por que eu resolvi contar tudo isso para vocês?

Ora! Hoje é terça feira e eu odeio terças-feiras.

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Quando a Felicidade Diz "Goodbye"  {Um disparo}Onde histórias criam vida. Descubra agora