yoongi brilha, em uma noite quente e pegajosa de fim de verão, taehyung escreveu nas páginas finais do moleskine surrado, os dedos do pé curvando-se em uma agonia eufórica.
escreveu três ensaios em um espaço de cinco horas, entremeando lirismos na abstração que lhe fora designada para fins avaliativos. no dia seguinte, leria todas as composições em voz alta para inteira sala ouvir, menos aquela última, cujos léxicos despontavam do fundo do coração como ondas sísmicas para moldarem-se sob a grafia trêmula e que lhe era a mais especial:
yoongi brilha, e não é só porque sua pele possui textura tão suave que parece banhada por uma retroiluminação natural. ele brilha quando sorri e ri, exibindo os dentes curtinhos e projetando as bochechas redondas, claro, e também quando expõe as ideias, tão bem cultivadas em sua mente excepcional, como se cada palavra solta traduzisse o exulto de seu espírito às insurgências da liberdade.
seu brilho advém de graças primitivas, consegue desprender do apolíneo a dicotomia presente no deus que antecede o sufixo: é luz divina que a tudo ilumina, mas que também a tudo aquece e queima. é de lava incandescente, que transfixa, que atrai e conquista o que está em seu caminho. a fonte de energia que a propulsiona — a energia dele, ele inteiro da cabeça aos pés — é silenciosa, avassaladora, produz uma estática que deixa os pelos dos meus braços arrepiados e minha cabeça tão quente que parece derreter como açúcar.
como o fluxo dos rios atraídos pela gravidade, amá-lo é uma reverência ingovernável e incontestável, desague contínuo em mar-aberto onde há um mundo que não existe em mais nada ou ninguém. está em seus olhos felinos, em seu sorriso sutil, na pronuncia do seu nome.
de mim sei pouco — sei pouco sobre tudo — mas desde que o conheci aprendi ser capaz de expandir meu peito para abrigar cada detalhe do que o compõe. e todo os dias, da brisa da manhã ao suspiro da noite, me revivo e me descubro por tê-lo em mim.
yoongi, farol em noites de breu sem fim, a cinesia de mim só flui para você.
taehyung se apoiou sobre os cotovelos e segurou o papel meio amassado bem na frente do rosto. correu os olhos sobre as palavras superficialmente, não releu nenhuma. encarou o ponto final e fixou-se ali por alguns minutos.
em algum lugar de sua mente capciosa, yoongi conseguia poderes extraordinários durante a noite, e na aula do dia seguinte, enquanto taehyung estivesse destrinchando cada parágrafo dos ensaios, a super-visão obtida atravessaria a mochila de tecido grosso, a capa do moleskine, as folhas repletas de rabiscos e rascunhos, até finalmente descansar sobre aquele amontoado de sentimentos transbordados, e ele finalmente saberia.
o rapaz sorriu ante tais pensamentos e soltou um suspiro que fez seu coração doer como se estivesse fazendo um último esforço para erguer o que tanto lhe pesava e empurrar tudo para fora. um dia, e taehyung tinha total ciência disso, precisaria alcançar aquele amor com suas mãos físicas. mas o tempo certo era preciso, um pouco de coragem também, e enquanto esperava não custava muito imaginar.
acabou dormindo sobre os escritos espalhados sobre a cama. durante o sono inquieto, sonhou que atravessava o espaço sideral lado a lado com um cometa resplandecente; ousasse ele estender a mão, só um pouquinho, e seria capaz de tocá-lo.