Você era muito frouxo

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— Não tenho certeza sobre isso... — Kojiro franziu as sobrancelhas, encarando o grampeador entre seus dedos. Kaoru bufou.

— A única coisa que você tem que fazer é segurar e apertar com força.

— Não tem um aparelho próprio para isso? Por que temos que usar um grampeador?

— Porque aquelas coisas custam caro, e esse eu consegui de graça no escritório do meu pai.

— Essa sua pirangagem toda vai te deixar com tétano.

— Pirangueiro não, pobre. O dinheiro que eu tinha eu comprei os piercings. — Kaoru os tirou do bolso da calça do uniforme, deixando sobre a cama de Kojiro. — E eu já esterilizei tudo, não vai ter problema.

— Mesmo assim, eu ainda acho que você não deveria fazer isso.

— Só deixa de frescura e fura logo isso!

Kojiro bufou, não se importando mais. Conhecia o amigo bem o bastante para saber que ele não ia deixá-lo em paz até conseguir o que queria. Ele se posicionou ao lado de Kaoru e puxou seu lóbulo para baixo. Pelo canto do olho, o viu fechar os olhos, mordendo os lábios e vibrando em expectativa.

— Você quer que eu conte até três ou algo assim?

— Só fura logo isso, eu não tenho o dia tod— Ai! Kojiro!

— Já furei! — Soltou o grampeador e ergueu as mãos. Kaoru tocou a carne perfurada, sentindo a ardência no local. Ele olhou para Kojiro, os olhos brilhando.

— Agora o outro.

Kojiro fez uma careta.

— Por que eu tô sendo o único me sentindo aflito com isso?

Kaoru o ignorou, remexendo-se até que sua orelha esquerda estivesse ao alcance de Kojiro. Quase não conseguiu se manter quieto no lugar, tamanha sua excitação.

Como fez com a outra orelha, Kojiro puxou o lóbulo, perfurando-o.

Kaoru soltou um assobio de dor.

— Fique aí, vou pegar algo pra você se limpar — disse Kojiro, levantou-o e foi até seu cesto de roupa suja, pegou uma das camisetas mais recentes e jogou na direção de Kaoru. Ele pegou as duas pontas da camisa, apertando-as na orelha para deixar o sangue fluir.

— Acho que já tá bom — disse, depois de um tempo, usando a câmera frontal do celular para analisar a orelha. — Parou de sangrar, eu vou lavar e colocar os brincos.

— Ah, espera. — Kojiro vasculhou suas gavetas, encontrando a caixinha que procurava. Ele entregou a Kaoru, que ficou encarando-a, voltou seu olhar para o amigo e fez uma careta desgostosa.

— Tá me pedindo em casamento?

— Não é isso, idiota! — Kojiro empurrou a caixinha contra o peito de Kaoru, que o pegou antes que ela caísse no chão. Ele abriu, analisando seu conteúdo. De repente, Kojiro se sentiu envergonhado. Ele coçou a nuca. — Eu só vi eles ontem e achei que combinaria com você. Só pense nisso como um presente de aniversário adiantado.

— Mas você me prometeu pincéis novos como presente. O único mesquinho aqui é você.

— Então me devolve!

— Não. — Kaoru fugiu do alcance de Kojiro, correu para o banheiro e lavou o sangue seco da orelha. Ao voltar para a cama, ele virou a caixinha no colchão, deixando os quatro pares de brinco caírem.

Ele pegou o primeiro modelo, em formato triangular. Todos eram da mesma cor: preto. E com certeza se destacariam em sua pele pálida. No entanto, seus designs eram diferentes: um deles possuía pequenos grampinhos, ao estilo pulseiras rock; outro era redondo e simples; e o último se assemelhava a uma argola, porém mais grossa, com pequenos detalhes floridos em seu corpo. Foi justo esse par que Kaoru escolheu para tirar a virgindade de seus lóbulos.

Tentou colocar por si mesmo, mas ainda não havia se acostumado com a posição que o furo estava, acabando assim furando fora.

— Vem cá, coloca pra mim — disse, gesticulando para que Kojiro se aproximasse. O outro suspirou.

— Pedir por favor não dói, sabe?

— Só vem logo. — E Kojiro foi, sentou ao seu lado e colocou, com um cuidado exagerado, os brincos.

Agora pronto com seus novos acessórios, Kaoru ergueu seu cabelo, usando a câmera do celular para analisá-los. Ele movia a cabeça de um lado para o outro, o sorrisinho satisfeito nos lábios.

Ele se virou para Kojiro, e aquele sorriso se tornou algo maior. A causa das borboletas no estômago de Kojiro.

— O que achou?

Kojiro então fez o que todo adolescente envergonhado faria naquela situação.

— Tá parecendo a barbie de chernobyl.

Como resposta, Kaoru pulou sobre ele, o esmagando com o travesseiro.

🍵🌸

Kojiro usou a ponta dos dedos para desenhar todo o contorno da orelha de Kaoru, puxando o lóbulo devagar.

— Está fechado — observou. Sonolento, Kaoru se remexeu ao seu lado, abrindo os olhos, com preguiça.

— Hm?

— Seus piercings, eles fecharam. — Ele se inclinou para olhar mais de perto. — O dos lábios também.

— Claro, quantos anos você acha que se passaram? — Kaoru murmurou contra o travesseiro. — Você já é um velho.

— Sabe que ao me chamar de velho, você tá automaticamente se auto-sabotando, não sabe? — disse Kojiro, não precisando lembrar que ele era até mesmo meses mais novo que o parceiro.

Kaoru estalou a língua no céu da boca, rolando para ficar de barriga para cima. Ele tocou sua orelha esquerda.

— Nunca pensou em furá-los de novo? — Kojiro perguntou. — Também pode usar aqueles de pressão.

— Essa fase rebelde já passou. — Ele riu baixinho. Virou a cabeça, encarando o amado. — Mas gostaria de vê-lo chorar de novo enquanto os fura.

— Eu não chorei. — Kojiro revirou os olhos. — Mas lembro claramente de você pegando uma infecção por ter usado um grampeador ao invés de ir em um profissional. E eu te avisei do perigo!

— Eu era um alma rebelde que vivia rindo da cara do perigo.

— Você ainda tentou me fazer furar seu lábio, aquilo foi tortura.

Kaoru riu.

— Você era muito frouxo.

— Você que vivia testando o limite da minha sanidade.

— Ora, querido, e eu não faço isso até hoje? — Kaoru sorriu, indecente. Cedeu à tentação, Kojiro se inclinou para roubar um beijo, mordendo seu lábio ao se afastar.

— Eu sinto falta desse. — Passou o polegar pelo lábio inferior do parceiro. — O da língua também, nunca vou perdoar você por ter tirado ele.

— Eu não conseguiria os clientes que tenho hoje se tivesse continuado com ele — Kaoru suspirou, precisando-o lembrar o quanto os piercings ainda eram marginalizados. — Mas bem, os seus segundos favoritos ainda permanecem aqui — disse, afastando os lençóis para revelar seu corpo nu, assim como o par de piercing em seus mamilos.

Kojiro umedeceu os lábios com a língua, suas pupilas dilatando com a visão. A pele manchada com beijos de outrora, deixando-o ainda mais vulgar aos seus olhos. Ele iria avançar, quando Kaoru se cobriu novamente, o impedindo.

Nah, eu tô cansado.

Kaoru!

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