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Theo

UMA CANÇÃO DE NINAR.

Eu não conseguia esquecer aquilo. Ele havia cantado uma canção de ninar para o irmãozinho porque ele não conseguia dormir. De todas as coisas que eu aprendera a respeito do Liam, aquela era minha favorita. E ele parecera tão triste enquanto cantava na cozinha. Era quase tão desafinado quanto eu.

Mas foi tão bonito. E não menti quando disse que havia achado atraente – achei mesmo. Não havia quase nada em Liam que eu não achasse atraente. Até mesmo usando meu jeans velho – ou talvez principalmente com meu jeans velho – e sua camiseta de trabalho, ele ficava maravilhoso. E era maravilhoso por dentro também. Inteligente e divertido, gentil e autêntico.

E eu confiava nele. Para mim, era assustador o quanto eu passara a confiar em Liam em tão pouco tempo. Só nos conhecíamos havia quatro dias e, mesmo assim, eu me sentia mais à vontade com ele do que me sentira com qualquer outra pessoa em muito tempo. Conseguia ser eu mesmo de um jeito que não conseguia ser com mais ninguém.

Meu verdadeiro eu, sem esconder nada. Era um alívio tão grande, e eu era inacreditavelmente grato por isso. Ainda que ele nunca me pagasse um centavo pelas roupas ou pelo aluguel ou por qualquer outra coisa que eu tivesse feito por ele, não me importaria. Aquele sentimento valia tudo, mesmo se não durasse para sempre.

– OK, aqui está.

Ele colocou um prato diante de mim, e cheguei a gemer de expectativa, a boca salivando. Ali estavam o que pareciam ser quatro panquecas grossas fritas com um tom caramelado, cobertas por açúcar e mel. Uma grande colherada de algo branco – creme azedo, talvez? – de um lado, framboesas espalhadas por cima de tudo.

– Parece delicioso. Qual é mesmo o nome?

– Syrniki. Repita.

Fiz uma tentativa, que até achei boa, mas Liam deu risada.

– Aí está, sua primeira palavra em russo. Quero que aprenda mais quatro até o fim do dia.

Ele colocou seu prato sobre a mesa e puxou a cadeira à minha frente.

Observei que sabia exatamente onde estava cada coisa para pôr a mesa, dos jogos americanos até os guardanapos e talheres, e fiquei feliz da vida ao vê-lo tão à vontade em minha cozinha.

– Vou experimentar – prometi. Incapaz de esperar mais, peguei o garfo e a faca e cortei um pedaço, me certificando de pegar um pouquinho de cada coisa para que pudesse sentir todos os sabores.

Levei o garfo à boca e gemi de novo.

Liam sorriu.

– Bom, não?

Mastiguei devagar, degustando a leve crocância do lado de fora e o interior macio da massa. Um pouco doce, um pouco azedo, o equilíbrio perfeito.

– Como se diz " delicioso" em russo?

– Neste caso, vkusnyy.

– Bem, está vkusnyy pra caramba.

Ele riu.

– Fico muito feliz que tenha gostado. Você tem que me deixar preparar um jantar para você uma hora dessas.

– Pode cozinhar para mim quando quiser – balbuciei, de boca cheia – Isto é muito bom.

Ele sorriu, corando um pouco.

– Obrigado.

Depois do café da manhã, ajudei Liam a arrumar a cozinha e subi para meu quarto para poder dar a ele as roupas que havia comprado.

E Se Acontesse? ~ Version Thiam (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora