Relato de um mau escritor

Capítulo único

Durante um bom tempo eu quis ser escritor. Lembro-me de cenas da minha infância em que eu passava horas do dia lendo, devorava praticamente um livro por dia. Me perdia naqueles mundos fantásticos da imaginação de alguém e me perguntava se seria capaz de escrever algo bom um dia. Me arrisquei algumas vezes e as tentativas foram péssimas. Uma certa obra parecia que ia para frente e me deu vãs esperanças por algum tempo, mas aí eu desisti, como eu faço com tudo que eu começo. Tantas histórias inacabadas que nem começaram a ser escritas, personagens que nunca foram batizados e nunca terão suas histórias contadas ou lidas...Tudo porque não me encantaram o suficiente ou porque eu nunca me esforcei o necessário para fazer dar certo, vai saber.

Em algum momento eu me perdi, me perdi ao ponto de não me reconhecer nas palavras que eu escrevia ou escrevi. Reler meus textos era como estar frente a um estranho estrangeiro, cujo forte sotaque me impedia de entender uma virgula sequer. E nem falo dos meus tolos textos apaixonados, estes que eu faço questão de esconder e releio as vezes para rir de mim mesmo e relembrar minhas angústias. Falo das histórias que por um milagre foram acabadas e me deixaram um vazio no final. As vezes é muito satisfatório escrever o tão sonhado "fim", mas no geral resta-me apenas a sensação de que deveria ter sido melhor. Só que para mim, nunca é.

O intervalo entre uma história e outra está cada vez maior, as ideias ainda existem, mas ao ver que não lhes dou a devida atenção, elas simplesmente voam para algum lugar onde serão ouvidas. Onde se desenvolverão e serão incríveis palavras espalhadas pelo mundo, traduzidas em mil formas diferentes de arte. E passarão para me dizer um breve "oi" antes de partirem novamente, mas eu sei que um dia elas irão desistir de mim, da mesma forma que eu desisti delas. Mas no momento não há muito que eu possa fazer, além de lamentar o meu próprio lamento.