Capítulo Três: Culpa

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T s u k i s h i m a

—Um pulso deslocado, cortes no lábio e supercílio, um olho roxo, dedos completamente acabados, uma luxação no ombro e uma provável fratura na costela. Sem falar nos hematomas pelo corpo. —Um suspiro audível deixa os lábios do médico. —Eu estou surpreso que você não quebrou o nariz. Kei, diz pra mim onde foi que você se meteu? —Akiteru me olha preocupado do outro lado da mesa. Eu cerraria o maxilar se a dor na mandíbula não fosse tão ruim.

—Parece até que você foi atropelado. Imagina só como eu fiquei quando vi meu irmão passando pela porta do hospital? Você estava numa maca com a cara toda ensanguentada, eu achei que você ia morrer. —Ele continua e desabafa gesticulando pra todo lado pra dar ênfase nas palavras. 

—Não precisa partir pro drama Akiteru. —Digo ríspido sentindo um incômodo na garganta, fazia um tempo que eu não falava e nem havia bebido uma gota d'água.

—Você chega numa maca, —ele faz uma pausa pra que eu processe bem as palavras que ele vai dizer a seguir —lavado em sangue, com um carro de polícia seguindo a ambulância, passa 4 horas inconsciente e você quer falar de drama? —Ele ergue a voz e depois limpa a garganta voltando a falar com um pouco mais de calma —Você não tem noção de quanta morte eu vejo nesse hospital todo dia, então não venha com essa de drama pra cima de mim. Isso é sério Kei, eu não tô brincando. —Ele cruza os braços cerrando os olhos. Não restavam dúvidas de como ele estava bravo, eram poucas as vezes que eu vi aquele olhar de julgamento no meu irmão. Até mesmo nas broncas Akiteru costuma ser gentil. Mas dessa vez eu realmente o preocupei, e embora eu detestasse admitir, ele tinha todo direito de ficar chateado comigo.

—Eu... —engulo o pouco de saliva que havia se acumulado na minha boca na esperança de deixar minha voz menos falha —Eu realmente sinto muito, não tive outra escolha. —Baixo a cabeça e toco meu pulso aparentemente deslocado e enfaixado.

Akiteru comprime os lábios provavelmente querendo dizer mais alguma coisa, porém no final ele apenas balança a cabeça.

—Pelo menos você deu uma bela surra naquele cara. —Ele deixa um sorriso escapar. Eu olho pra ele surpreso. Era meu irmão, afinal, ele nunca ficou bravo por muito tempo, ser carrancudo era a minha especialidade.

—Você não é de brigar então deve ter tido seus motivos. Eu entendo. —Ele dá de ombros. —Mas da próxima eu vou fazer questão de cutucar suas feridas pra você nunca se esquecer da dor, entendeu? —Ele me ameaça e levanta da cadeira andando até o filtro de água do consultório. Eu dou um riso soprado.

—Até parece que você conseguiria, Akiteru Tsukishima não faz mal a uma mosc-- Aí! —Ele cutuca meu abdômen. Olho feio pra ele e respondo: 

—Entendi o recado inferno. 

—Olha a boca suja no meu consultório. —ele sorri me dando um copo de água.

—Sim senhor. —respondo rolando os olhos e pegando o copo.



***



3 horas atrás

Y a m a g u c h i

—Licença, você sabe onde eu posso encontrar o quarto de Tsukishima Kei? Eu realmente preciso vê-lo. —Pergunto pra mais uma enfermeira, com esperança de que essa pudesse me dar alguma resposta concreta.
—Senhor, por favor, preciso que você se acalme e deite na maca. —Ela ergue as mãos pedindo que eu me acalme.
—A senhora não entende, ele tava comigo e ficou inconsciente eu preciso vê-lo por favor! —Ofego, já era a sexta pessoa que me mandava ficar calmo desde que eu tinha chegado e eu não aguentava mais. Fazia uma hora desde que eu tinha visto Tsukishima pela última vez e se algo acontecesse com ele por culpa minha eu não seria capaz de me olhar no espelho de novo.
Ele não precisava ter se metido entre mim e o meu pai, ele não precisava ter feito nada, mas mesmo assim ele fez. Ele me defendeu.
Ninguém nunca tinha feito aquilo por mim.
E eu tinha que agradecer a ele.

Garoto do CondomínioOnde histórias criam vida. Descubra agora