Capítulo 12

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Acordei mais cedo do que o normal, mas não por causa do meu despertador. Por algum motivo, depois da conversa que tive com Lucy ontem à noite, vários pensamentos me assolaram a noite inteira, e quando eu finalmente peguei no sono, não demorou muito para eu despertar novamente.

Me ajeitei na cama, apoiando minha cabeça nos braços enquanto encarava o teto. Suspirei pesadamente. Aonde foi parar todo aquele sono que eu estava depois de sair do vestiário?

Pensei em assistir vídeos até a hora de me arrumar, mas o início de uma dor de cabeça me fez bastante ciente de que essa era uma péssima decisão. Já vi que hoje vai ser um dia daqueles...

Me levantei da cama e me arrastei até minha escrivaninha de estudos e liguei o computador. As palavras da Lucy não saíam da minha cabeça. Embora eu tenha tentado me manter alienada sobre os ataques, eu acho que é uma boa hora para começar a saber o que está acontecendo, já que eles se fizeram presentes tão perto da minha casa da última vez.

Abri o navegador e comecei a ler os jornais e as notícias sobre os ataques que estão acontecendo desde o início do ano. Os ataques não pareciam ter o mínimo de correlação entre si, mas existiam padrões nos ataques que as autoridades descartavam como sendo mera coincidência.

Testemunhas e vítimas descreveram os agressores como sendo homens brancos, com idades variadas de 17 até mais ou menos os 35. As vítimas que deram entrevistas anônimas eram LGBTQI+ ou negros, imigrantes etc. Os ataques eram em grupos de pelo menos sete pessoas.

Me senti mal. Cada notícia nova que eu lia me fazia sentir pior. Tanto por medo quanto por imaginar o que cada uma dessas pessoas passou no momento.

Quando eu não aguentei mais a sensação de inquietação que estava surgindo em mim, desliguei o computador e fiquei andando pela casa, procurando o que fazer para distrair minha cabeça. Acabei na área de serviço, colocando as roupas que seriam lavadas no final de semana dentro da máquina.

- Aconteceu alguma coisa? – olhei para trás, sobressaltada. Minha mãe estava encostada no batente me encarando com olhos cansados.

Dei de ombros e voltei a enfiar as roupas dentro da máquina, sem sequer me dar ao trabalho de separar.

- Você sabe que se misturar tudo isso e enfiar tudo de uma vez na máquina ela provavelmente nem vai ligar, né? – falou e depois suspirou. Se aproximou de mim e segurou minha mão quando eu estava prestes a colocar algumas calças jeans lá dentro.

Me afastei e me encostei na parede enquanto ela retirava tudo de dentro da máquina e colocava de novo dentro do cesto. Cocei a nuca, ainda me sentindo inquieta.

- Você não respondeu a minha pergunta – ressaltou.

- Nada. Não aconteceu nada – mamãe arqueou uma sobrancelha, sabendo que eu estava omitindo alguma informação. – Eu estava sem sono e fui pesquisar sobre o que está acontecendo recentemente... Sobre os ataques... Sei lá, depois da vigésima notícia, eu já estava me sentindo incomodada demais para conseguir voltar pra cama, então vim fazer alguma coisa.

Ela me olhou com empatia. Vez ou outra ela discutia comigo sobre essas coisas, e ela sabe o quanto isso me afeta.

- Se precisar de alguma coisa, eu estou no escritório – falou e me deu um beijo na testa antes de sair da área de serviço.

Olhei para o cesto e me sentei no chão, separando as roupas dessa vez antes de entulhar a máquina de lavar de novo. Pouco tempo depois eu já estava na cozinha preparando um café da manhã super adiantado.

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