ACT I: Diana & Suas Ninfas
Como de costume, a deusa da noite e da caça saiu ao horário de seu irmão gêmeo para divertir-se com suas fiéis submissas e irmãs de bosque. O rosto sério e extremamente branco em contraste com o humor e tom de pele dourado das outras. A beleza dos movimentos das longas pernas era perceptível mesmo em sua corrida ávida em direção ao cervo. Esse, tarde demais, percebeu que sua vida estava sob ameaça da pontaria perfeita das Ninfas.
- Mal começamos e já estou sentindo que vamos voltar com os chifres de Pã. - Gritou Néfele para as outras, que riram.
Diana revirou os olhos teatralmente.
- Superem. - bafejou e no mesmo instante os risos cessaram. Pelo menos, quase todos. Crócale continuava a rir timidamente, incapaz de conter.
- Trinta e quatro passos até o próximo alvo, Vossa Alteza.
Todas agora se agachavam obedientes ao comando da deusa.
- Pare de me chamar assim, Tyche.
- Como quiser, ama.
Diana não precisou estreitar muito os olhos para perceber que estavam a trinta e quatro passos de um ser que nem de longe era um cervo. Era raríssimo ver naquelas terras pessoas de pele escura e brilhante, então ela ficou estática admirando a beleza imóvel do ser.
- Abaixem os arcos. - brandou.
- O que houve? - inquiriu uma das Ninfas que estava mais afastada.
- Uma mulher.
Onze corpos jovens se jogaram para frente afim de ver com os próprios olhos o que escutaram da voz grave da deusa. Prenderam a respiração e soltaram juntas, harmonicamente. Diana, estranhamente, permaneceu apenas mirando o corpo, talvez esperando um movimento.
- Devemos seguir? - Crócale sugeriu, sentindo suas pernas começarem a formigar por estarem paradas.
Diana se levantou e fez sinal para que fossem tiradas suas roupas. Duas ninfas a ajudaram a se despir.
- Fiquem aqui. Não se movam. Não ataquem.
Todas apenas concordaram, curiosas com a decisão da deusa, que saiu levando suas vestes numa mão e o arco na outra. Abraçadas pela mata, as onze moças testemunharam um acontecimento inesperado.
A morena alta se aproximou do corpo com passos cautelosos, agachando-se perto o suficiente para ver o belo rosto enfeitado com sardas escuras, num sono talvez perturbado. Seios pequenos e barriga lisa, as nádegas traçadas com linhas mais claras, como se tivessem sido postas ali de propósito. Observou que ela dormira com uma das mãos ainda dentro da água, e a pequena trouxa ao lado dela indicavam que era uma viajante e devia estar faminta.
- Acho que precisa de descanso mesmo. - sussurrou com a expressão mista de preocupação e determinação.
A mulher não acordou mesmo após ter sido vestida pela deusa.
- Estou tendo alucinações ou acabo mesmo de ver nossa deusa deixar de lado a coroa para vestir uma desconhecida?
- Não, Híale, estamos tendo alucinações.
- Não, Crócale, acho que a imagem daquela mulher possuiu ela de alguma forma.
- Devemos ajudar…
- Fomos ordenadas a ficar aqui.
De fato, era assustador ver o que estava acontecendo.
Ainda era inacreditável para todas que Diana tivesse abandonado a caça para levar uma humana qualquer para sua gruta! (No mais puro e literal sentido). Algo errado estava acontecendo e ninguém sabia como intervir pois intervir ia contra as ordens da deusa no momento.
