Capítulo 1

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Era uma noite de sexta-feira, e o escritório transbordava uma ansiedade silenciosa. Após uma semana exaustiva, Josely mal conseguia disfarçar a impaciência.

— Vamos, Ellie! Quero sair logo antes que alguma merda estrague nossos planos — resmungou, batendo os olhos no relógio pela décima vez.

Ellie, ainda organizando a bolsa e desligando o computador, sorriu sem pressa.

— Já tô indo! Mas se continuar me apressando assim, vou acabar esquecendo alguma coisa importante.

Josely fez uma careta cômica.

— Isso não seria novidade. Você vive esquecendo as coisas.

Ellie riu, reconhecendo a verdade na provocação. Ela, Josely e Mark tinham uma tradição sagrada: toda sexta-feira, se reuniam para beber e desabafar sobre a semana. Quebrar esse ritual parecia quase um pecado — e Josely era a mais devota.

Ellie finalmente desligou o computador, pegou o casaco e jogou a bolsa no ombro. Foi quando o celular vibrou. 

— Aposto que é o Mark. Já deve estar lá embaixo — disse Josely, impaciente.

Ellie checou a tela e assentiu.

— Já estamos descendo! — disse, ao atender, enquanto apertava o passo.

Antes de sair, lançou um olhar breve por cima do ombro. Algo a incomodava — uma sensação vaga, como se tivesse esquecido algo ou como se algo a estivesse esperando do lado de fora. Sacudiu a cabeça, ignorando o pensamento, e seguiu Josely até o corredor.

O elevador chegou rápido, com um som metálico abafado. A essa hora, os andares estavam desertos, e o silêncio trazia um alívio quase libertador. A promessa da noite, do barulho, da música e das risadas, parecia um prêmio justo depois de tanto estresse.

Enquanto desciam, Ellie se pegou pensando na mudança que sua vida havia dado desde que chegou à cidade. Cresceu em Oneonta, um lugar pacato onde todo mundo se conhecia. Sendo a filha mais velha, era esperada para assumir os negócios da família — mas ela tinha outros planos.

Abandonou tudo, mesmo sem o apoio dos pais. Desde então, sua mãe mal lhe dirigia a palavra, e seu pai... bom, ele partira sem que ela soubesse se a perdoava. Mesmo com o sucesso profissional que vinha construindo, ainda sentia que isso nunca seria o bastante para conquistar a aceitação deles.

Quando saíram pela porta do prédio, Mark já os esperava na calçada, braços abertos e sorriso escancarado.

— Finalmente, minhas princesas!

— Ellie, como sempre, enrolando — provocou Josely, mostrando o dedo do meio com um sorriso debochado.

— Vocês adoram pegar no meu pé, né? Eu não estava enrolando! Só...

Ellie deu de ombros, arrancando risadas dos dois.

— Esquece isso! — disse Mark — Hoje é dia de esquecer que a semana existiu. Eu tô precisando de uma dose tripla de diversão.

Ele puxou Ellie para um abraço apertado enquanto atravessavam a rua.

— Nem me fala. O Senhor Ogro mandou um e-mail ontem com tanta exigência que a gente teve que refazer o projeto inteiro — reclamou, fazendo uma careta dramática.

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