Toda aquela situação estava me deixando completamente aflita. A sensação de estar sendo seguida e observada a cada segundo, fiquei com medo de conviver sozinha na minha própria casa. Não me parecia mais um lugar seguro. Saí correndo daquele quarto e desci as escadas. Fui para a sala e peguei o meu celular no sofá. Pensei em ligar para alguém e a primeira pessoa que me veio em mente, foi o Lucas, não sei por que, realmente não sei... Mas me pareceu uma boa opção.
- Alô? Lucas? Escuta, você poderia vir dormir na minha casa hoje? - Perguntei.
- Um dia não me deixa entrar na sua casa e agora quer que eu durma aí? Você está tomando remédios de novo como na sexta série? - Ele sempre foi um excelente piadista, porém, em momentos errados.
- Se não puder vir não há problema, posso pedir ao Luck. - Falei.
- Não! - Ele gritou - Digo... Melhor não haha, não vamos incomodar ele não é? Fica tranquila que chego em 10 minutos. - Cheque mate.
Já sabia que se envolvesse Luck no meio ele certamente iria entrar em modo defesa, ou para ser mais exata, diria que no modo de ataque.
Abri a porta e me sentei em frente a ela. Fiquei ali parada esperando até que Lucas chegasse, não achei uma boa ideia ficar em casa sozinha; mesmo que por um instante. Estava bem escuro, o céu nublado, o clima, um tanto frio. De repente começou a me aparecer uns flashbacks. Lembranças, ou alucinações talvez, de momentos aleatórios de quando eu era pequena. A clara imagem de uma tarde ensolarada, um pequeno parquinho, um balanço, e eu sentada sob ele. Uma mulher de preto se aproximando. Espera! A mesma mulher do meu sonho! Isso não é possível. Por que estou tendo esses pensamentos? Comecei a ouvir passos. Meu corpo congelou no mesmo instante. Segundos depois...
- O que faz aqui sozinha na rua? Achei que estaria esperando lá dentro. - Disse Lucas.
- Você me assustou, sabia? Por que está vindo pelo lado contrário? - Perguntei.
- Disse pro meu pai que iria dormir em um amigo. Resumindo, ele quis me deixar lá e então tive que vir andando até aqui. - Respondeu se sentando ao meu lado.
- Faz sentido. - Falei.
O silêncio então tomou conta do ambiente. Ok, eu havia o chamado, mas e agora? Não sei o que faço, ou o que digo. Minhas palavras saem sem minha permissão.
- Posso te perguntar algo? - Fiquei encarando o chão, enquanto criava coragem para perguntar.
- Sabe que sim. Qualquer coisa. - Afirmou.
- Por que anda sendo tão gentil comigo depois de tudo? Não adianta me dizer que quer ter boas notas, você é inteligente e sabe se virar sozinho. - Fui clara e direta.
- Bom, quer a verdade? - Mesmo olhando para os meus próprios pés, senti seus olhos mirados em mim.
- Claro que sim... - Respondi.
- A verdade, é que você vai ficar extremamente brava comigo, e talvez não queira mais me ver quando eu te contar... Mas é certo que você deve saber. - Ele suspirou profundamente.
- Éramos amigos a anos atrás, não éramos? Mentiu para mim. - Finalmente o encarei.
- Sim; mas sabe o por que deixamos de ser amigos? - Disse ele.
- Por que você acreditava que a culpa da sua mãe ter sumido, era minha. - Respondi.
- Como? - Ele me olhou com uma expressão de surpresa, e então, fiquei surpresa por ele se fazer de sonso mesmo eu já tendo descoberto.
- É o que você ouviu. - Comecei a mexer nos fios do meu cabelo, faço isso sempre que fico nervosa demais.
- Mas não foi isso que aconteceu. - Suas palavras, me deixaram confusa.
- Como não foi? - Questionei.
- Na época em que a minha mãe sumiu, ela havia me deixado um bilhete, eu já sabia o motivo de ela ter sumido, mas as pessoas não acreditavam em mim por eu ser uma mera criança. Diziam que era minha alta facilidade de criatividade mental infantil. - Respondeu.
Agora me perdi completamente. Já não sei mais do que ele está falando. Ele sabia que a mãe dele tinha sumido e sabia o por que? Então Luck foi quem mentiu. Por que ele mentiria sobre isso?
- Já sabia o por que sua mãe havia desaparecido? - Perguntei indignada.
- Sim, já sabia. - Ele respondeu.
- Então por que nos afastamos? - Reformulei a pergunta.
- No bilhete, minha mãe me disse coisas sobre os seus pais também. Vamos dizer que, coisas reveladoras e altamente absurdas. Coisas que provavelmente, iriam influenciar no seu luto. Iriam te deixar pior. - Ainda não estava acompanhando bem o raciocínio, o que o desaparecimento da mãe dele tinha em comum com a morte dos meus pais? E principalmente, comigo?
- Ok, mas onde eu entro na história? Qual é a ligação entre ela e a minha família? - Falei.
- Seus pais não morreram por um acaso, e a minha mãe, não desapareceu por que fugiu com outro cara... - Ele especificou.
Ele está dizendo que, o acidente dos meus pais foi proposital? Quem iria querer matar os meus pais? Até onde eu saiba eles não tinham inimigos, pessoas que os odiassem.
- Está dizendo que alguém matou os meus pais de propósito? - Perguntei.
- Sim. Sinto muito... - Fiquei ali, paralisada ao seu lado, sem sequer me mover depois de ouvir aquilo.
- Por que não me disse essas coisas antes? Por um acaso sabe quem matou eles? - As perguntas saiam uma atrás da outra, minhas dúvidas eram nítidas.
- Aí que está, foi por isso que nossa amizade acabou. Eu tentei te contar que seus pais não morreram por acidente, eles tentaram salvar sua vida, e a minha mãe tentou salvar a deles... No fim, a vida dela foi levada junto. Quando tentei te contar, eu e Luck tivemos uma briga por que ele não queria que eu dissesse coisas que te deixassem pior. Então trocamos socos e ele me fez prometer que eu jamais me reaproximaria de você, e que eu fingisse te odiar desde então. - Ele fez uma pausa, respirou fundo, passou a mão em seu cabelo, e continuou - Desde aquela época, guardei esse segredo comigo, e me odiei por te tratar daquela forma, mas pensei que talvez ele estivesse certo, e fosse melhor deixar você levar uma vida normal sem precisar de mais conflitos.
Fiquei totalmente perplexa depois de ouvir tudo isso, não entendo mais nada, e afinal, quem está mentindo nessa história toda?
- Mas como e por que eu não me lembro de nada disso? - Falei, me virando direto para ele.
- Com o luto todo, você passou por vários tratamentos, utilizou diversos remédios controlados e alguns deram efeitos em você. Os médicos disseram que você correria o risco de sofrer uma amnésia pós traumática. Sua avó autorizou o tratamento mesmo assim, e todos concordamos que seria melhor você saber somente o básico. - Ele já não conseguia mais por seus olhos diante dos meus.
- Não acha que eu tinha o direito de saber de todas essas coisas? Luck me contou uma versão totalmente diferente da sua, e sinceramente, não sei qual é mais maluca. - Respondi.
- Não precisa acreditar em mim, se isso for te fazer sentir melhor. Só quero que saiba que eu ia te contar no momento certo. Não queria que me visse como a pessoa arrogante e cruel para sempre... Não sou isso, e antigamente, você saberia disso. - Suas palavras, eram totalmente firmes.
Sempre me aparecem histórias mais alucinantes do que as outras, e eu nunca sei afirmar qual está correta; mas essa versão do Lucas, parece fazer sentido...
É como dizem, a mentira sempre volta contra o mentiroso não é mesmo? Luck quebrou a minha confiança mentindo para mim. Não sei por que, mas vou escolher acreditar no Lucas, pelo menos uma vez, sei que não faz sentido todo esse ódio que ele parecia sentir por mim. Vou dar uma chance a essa versão, e ver no que vai dar.
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O Outro Lado - O Segredo da Família Glarson
Mystery / ThrillerEmilly Glarson é uma garota de 16 anos, nascida em Chester (Nova Jersey). Aos seus 5 anos de idade seus pais morreram em um acidente de carro, consequentemente ela cresceu com a sua avó Clarice. Sua cidade tem uma reputação assombrada, Emi descobre...