!pode conter gatilho!
Se um dia alguém perguntar por mim
Diz que vivi pra te amar
Antes de ti, só existi
Cansado e sem nada pra dar
-Shinso-
Shinso andava apressado pelas ruas. Ele sabia que não haveria ninguém no local. Afinal, ele tinha estudado bem. Sabia que ninguém passava naquela ponte às terças feiras às 16:45.
Ele tinha feito tudo o que precisava.
Tinha encaixotado secretamente as suas coisas.
Tinha deixado uma carta a seu melhor amigo e paixão secreta, Denki Kaminari.
A sua única família, a avó materna, tinha morrido uns anos antes.
Ele apertou o passo.
Há muito que estava a preparar-se. Não era agora que ia desistir.
Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez, devagarinho, possas voltar a aprender
-Denki-
Kaminari tinha chegado uma hora mais cedo a casa. Eram extamente 16:30.
Sabe-se lá Deus como tinha conseguido convencer o chefe a sair mais cedo. Bakugo era um osso duro de roer.
Ele deitou-se na sua cama, pondo uma nota mental de comprar um colchão novo, e planeava dormir uma sesta, quando sentiu algo cutucar as suas costas.
Denki pegou no papel A4 dobrado a meio que tinha causado o incómodo.
Tinha o seu nome escrito na parte da frente, claramente na caligrafia de Shinso. Ele movimentou rapidamente os olhos pela folha, lendo a cartinha.
O papel escorregou na mão, e, quando caiu ao chão, Denki Kaminari já se encontrava fora de seu apartamento.
Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez, devagarinho, possas voltar a aprender
-Shinso-
O arroxeado já tinha chegado à ponte.
À ponte em que daria fim à sua vida.
A verdade era que estava farto de viver.
Vivia num constante loop, sentindo o mesmo todos os dias. Vendo os seus pais nas camas de hospital, com as caras irreconhecíveis, transfiguradas devido ao acidente de carro.
Acordava em suor e lágrimas.
E nessas alturas ligava a Denki. O seu anjo da guarda, o seu melhor amigo, o seu psicólogo particular. A sua paixão. O seu único motivo de viver. Mas ele sentia que estava a prender o loiro. Que por vezes o outro rapaz não saia com os seus amigos para ficar consigo. Que estavam presos numa relação tóxica.
Por isso deixou uma carta. A expressar as suas intenções suicidas, a expressar todo o seu amor pelo loiro engraçado.
Hitoshi fechou os olhos e preparou-se para cair. Relembrou-se mais uma vez do sorriso de Denki e sentiu os seus lábios curvarem-se ligeiramente para cima. Já conseguia ver a sua mãe e seu pai, de braços abertos para o receberem no outro lado. Mas um grito impediu-o de saltar.
-Toshi!
Shinso abriu os olhos. E viu precisamente a cabeleira despenteada de Denki Kaminari, que se apoiava ofegante em seus joelhos.
Não era assim que era suposto acontecer.
Mas ao contrário do que a sua mente mandou, as pernas de Hitoshi não saltaram.
Se o teu coração não quiser ceder
Não só ter paixão, não quiser sofrer
Sem fazer planos do que virá depois
O meu coração pode amar pelos dois-Denki-
Denki tinha atravessado a cidade a correr. Ele sabia onde Hitoshi estava. Claro, dizia na carta.
Ele correu um pouco mais rápido, passando pelas cafetarias, ginásios e lojas da cidade. Só esperava não chegar tarde demais. Porque não podia deixar que Hitoshi se suicidasse.
Ele não queria ficar sozinho no mundo.
Quando chegou à ponte viu o borrão de pele pálida, cabelos roxos e roupas pretas que era o amigo. E gritou o apelido do outro.
A visão de Kaminari encontrava-se toldada de vermelho. Não ia deixar que o amigo se matasse. Não. Ele não podia viver sem ele. Mesmo depois de perceber que os seus sentimentos eram reciprocos.
Ele viu as pernas de Shinso a ficarem tensas. Por isso inspirou profundamente, ignorou a asma e correu até ao arroxeado.
-Shinso, não! Eu li a carta.- Kaminari inspirou fundo e viu as grossas lágrimas a rolarem pela face de Hitoshi. O loiro sentiu as pernas a tremer- Não! Por favor! Não me deixes sozinho. Tu és a única pessoa que importa. Que se danem os outros. Lembras-te? Nós prometemos. Hitoshi e Denki. Para sempre. Por isso, por favor não faças isso!- o loiro andou a passos largos até ficar cara a cara com o outro e segurou-lhe bem nos ombros.
-Mas... Eu não aguento mais. Eu amo-te demasiado, e sinto que não consigo amar da maneira correta. Eu coninuo a ouvir as vozes, aconteça o que acontecer, e vejo os meus erros a repetirem-se. Se eu não tivesse pedido para eles irem comigo jantar fora nada tinha acontecido. Eu não sei amar direito. Eu... Não quero continuar. Denki, vira costas e vai-te embora, casa, constrói uma família e esquece-me...
Kaminari sentiu os joelhos de Hitoshi fraquejarem, então abraçou-o contra si e sussurou no ouvido dele.
-Sabes uma coisa? Eu também te amo. Demasiado. E tu nunca me prendeste. Eu é que me prendo a mim mesmo. E achas que os teus pais gostariam que tu desististe depois de chegares tão longe? Não.- Denki beijou o canto dos lábios do outro- Sabes? Eu quero casar e ter uma família. Mas é contigo. Nós os dois. E tu não és incapaz de amar- Denki abraçou Hitoshi com mais força- Mas não precisamos de fazer planos. Não. E tu não precisas de ter medo. Porque se for preciso eu amo pelos dois.
Hitoshi retribuiu o abraço e beijou os lábios de Denki. Ele sabia que não ficaria bem. Por isso disse à mãe e ao pai para esperarem. Que ele iria ter com eles. Mas ainda não estava na altura. E ele tinha sido um tolo por não o perceber. Porque ele não deixaria Denki amar pelos dois. Hitoshi e Kaminari amariam juntos.
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Amar pelos dois # Shinkami
FanfictionAquela em que Shinso se vai suicidar, mas Denki não quer ver o seu amado morto.