Então surge uma pista - 37

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          — Muito bem equipados e armados, e não são poucos envolvidos, não estão poupando esforços. Pareciam centrados, determinados a te encontrar. É uma operação coordenada.

          — Fizeram alguma coisa com a senhora?

          — Eu sou só uma velha caduca, que às vezes esquece até o próprio nome. Sou inútil para eles. Mas jogaram baixo com as pessoas daqui, fizeram uma emboscada durante a madrugada... pegaram todos desprevenidos. Eles eram muitos, levaram algumas crianças e mulheres também, e disseram que só vão libertá-los se alguém der alguma notícia do seu paradeiro.

          — Quando foi isso?

          — Há duas noites. Parece que você tem algo que eles querem.

          — Carrego comigo segredos que só eu posso proteger. Coisas que têm despertado a cobiça de muita gente.

          — Nem todos nascemos predispostos a sermos como Atlas, sustentar o mundo nas costas é um peso além da capacidade humana. Certas responsabilidades devem ser passadas adiante a quem elas realmente cabem.

          — O que a Sra acha que devo fazer?

          — Você tem duas opções, meu filho. Enfrenta os fantasmas que te assombram ou continua fugindo. Deve saber que não pode fugir do seu passado, ele faz parte de você.

          — E para onde a senhora acha que eu devo ir então? Não me sinto pronto para ir de encontro com o que tem me buscado.

          — Pronto você está, só ainda não está motivado suficiente. Se você escolher continuar fugindo, eu sugiro que vá a oeste do Vale. Vai ser difícil no começo, mata seguida de deserto. Não se esqueça que a noite é sempre mais fria e escura na última hora antes do amanhecer. Após dias viajando sem ver uma Alma Viva, vai chegar em uma bela planície de campos verdes, poderá encontrar sossego por lá por um tempo. Quero que saiba que não pode se esconder a vida toda, mais cedo ou mais tarde terá que enfrentar isso, ou jamais terá sossego. Não quero para você uma vida de tormento.

          — Não pretendo fugir a vida toda Nona. Só o suficiente pra encontrar um sentido pra tudo isso.

          — Ou até o sentido te encontrar... — Nona agora tem o semblante mais sério. — Essa moça que carrega na garupa e no coração já sabe disso? Ela sabe sua história?

          — Não quero envolver a Morgana, Nona. Quanto menos ela souber melhor. Todos que se envolvem acabam se machucando. E também, contar a ela não faria a menor diferença, amanhã eu a devolvo à mãe, e ela não me verá novamente.

          — Não dominamos nosso destino. Quem fica ou quem sai da nossa vida não é decisão só nossa. Qualquer que seja sua escolha, você tem que se decidir e agir logo. Uma grande tormenta está por vir, e ela já está bem próxima, não vai querer estar aqui quando chegar. Precisa ir depressa, aqui não é seguro para você, qualquer pessoa daqui te entregaria às hienas para ter seus entes queridos de volta.

          — Sua bênção, Nona.

          — O Senhor te abençoe e proteja. Obrigado pelos alimentos, ao sair não deixe que te reconheçam.

          Jow coloca novamente seu capuz sobre a cabeça e sai apressado.

          — Morgana vamos, estamos atrasados.

          — Nossa, você demorou muito. Sorte a minha que as crianças adoraram o Norffi.

          — Norffi não é brinquedo, não é brinquedo. — Disse Norffi nervoso às crianças que os rodeavam.

          — Não se engane com a falsa hospitalidade desse lugar, cada homem, mulher e criança nos quer o mais longe possível daqui. Vamos! Não temos muito tempo, vai escurecer em breve.

          — Nossa, Jow! O que rolou na conversa com a sua Nona?

          — Bem mais do que lamentos de saudade.

           Os dois caminham em passos rápidos, Norffi flutua logo atrás deles acompanhando o passo.

          Jow dobra e guarda a capa de camuflagem que cobriu a moto, rapidamente retira a moto de dentro dos arbustos. Desconfiado, ele ainda dá um olhar panorâmico ao redor de onde estão, pra se certificar que não estão sendo observados. Montam os três, ele fecha o capacete e partem somente na propulsão.

          Não sabendo eles que não eram os únicos ali.

          — Triiip, triiip! — Toca o rádio comunicador na cabine de um Ford Combat.

          — Sargento Allan na escuta. Prossiga.

          — Sargento, aqui é o Billy, da Vila das Montanha Três Irmãos.

          — Então Billy. O que tem pra mim?

         — Eu acabei de ver o cara da moto que estão procurando.

          — Tem certeza que o viu? Onde?

          — Aqui mesmo, ele acabou de sair da Vila.

          — Sabe o que ele foi fazer aí? Ele falou com alguém?

          — Não sei, achei a moto por acaso na beira do lago quando vim buscar água. Aí me escondi e fiquei vigiando pra ter certeza.

          — Ótimo, não fale mais nada com ninguém sobre isso. Estamos a caminho. Câmbio des...

          — Espera, tem mais.

          — Tem mais? Diga logo.

          — Ele não está sozinho como vocês disseram.

          — Como assim não está sozinho?

          — Ele está com uma moça, ela é jovem e ruiva, e também tem um robô que voa e fala.

         — Obrigado pela informação.

          — Sargento, quando vou poder ver minha mulher e filha novamente? Eu fiz o que me pediram.

          — Quando eu tiver certeza que não está mentindo pra me enganar. Aguarde nossa chegada que veremos seu caso. Câmbio e desligo.

         O Sargento se volta agora pra sua equipe.

          — Atenção galera, mudança de planos. Acabei de receber uma pista quente. Vamos voltar depressa. Cada segundo conta, o tempo está correndo.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora