Capítulo 23

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Alfonso não teve uma noite de sono completa. As cortinas ainda estavam abertas e nos primeiros raios mais fortes de sol a luminosidade excessiva acabou por acordá-lo. Ainda de olhos fechados, ele se esticou e procurou Anahi, mas encontrou apenas um emaranhado de lençóis vazios e bagunçados. Ele suspirou. Era de se esperar que ela escapasse sem dizer uma palavra sequer, mas ainda foi um pouco decepcionante que o tivesse feito já tão cedo.

Mesmo assim, ele apenas se vestiu e deixou o quarto, sem o mínimo de cuidado e preocupação sobre quem o veria. Era seu lugar naquela casa, afinal, enquanto marido de Anahi. Mas a única pessoa que encontrou foi Bella, que estava espiando o corredor pela porta entreaberta do seu quarto, parecendo analisar se deveria ou não sair sozinha. A cabecinha pendia pelo vão e voltava, indecisa, mas quando ela viu o pai acabou decidindo correr para ele, ansiosa.

- Oi, pequena - ele disse, amparando o movimento apressado da filha. Bella vinha toda afobada, quase tropeçando na barra da camisola longa, e se lançou nos braços do pai com ansiedade, abraçando-o muito mais forte do que ele se lembrava que ela era capaz - O que foi isso? Você não deveria estar ainda dormindo?

- Onde você estava? - perguntou e sua voz soava magoada - O vovô ontem contou uma história, aí eu dormi logo e não vi se você e a mamãe foram me dar boa noite. Eu fiquei com saudade.

Ela olhou pra ele, esperando resposta. Os olhinhos ainda estavam inchados e ela começou a esfregá-los com as costas das mãos, sonolenta. Alfonso sorriu, observando cada detalhe da filha. As mangas da camisola eram tão longas que quase cobriam suas mãos e ela tinha uma única trança farta acomodando os cabelos, amarrada no fim por um laço de fita branca. Dentre tantas outras coisas, ele precisaria se acostumar àquela imagem também: sua filha era simplesmente a criaturinha mais linda do mundo.

- Nós preferimos não acordar você - despistou, brincando com o nariz dela - Mas não precisa se preocupar, eu estou aqui agora.

- Por que eu nunca posso ir nas festas da mamãe? - Bella quis saber, chateada.

- Porque as pessoas são muito chatas e barulhentas. Você é muito pequena, é um pouco arriscado ficar no meio de tanta gente.

- Eu já sou grande! - ela protestou, se inclinando para trás para encará-lo com uma espécie de indignação no olhar. Alfonso riu, acomodando-a de volta com a lateral do rosto no vão do seu ombro.

- É, mas não o suficiente - tranquilizou, esfregando uma mão ao longo das costas da menina - Sem contar que tão tarde da noite você já precisa estar dormindo.

- Eu queria ir também - Bella reclamou - Deve ter alguém legal pra brincar.

- Nunca tem ninguém legal, pequena.

- Mas tem você e a mamãe e a gente podia brincar e dançar - contra-argumentou - Eu queria ter uma festa também.

Bella era pura desolação naquela manhã e estava decidida a recusar qualquer justificativa. Mesmo que no fim continuasse sem poder ir às festas, era simplesmente teimosa demais para concordar sem pelo menos argumentar ou deixar claro o quanto estava insatisfeita.

- Você queria uma festa? - Alfonso perguntou e sentiu em seguida quando ela balançou a cabeça em concordância, quietinha contra seu pescoço - Nós podemos fazer uma festa para você então.

Ela o encarou subitamente, perplexa.

- É mesmo, papai?!

- É mesmo - ele deu de ombros, simples, e viu um sorriso imenso se abrir no rosto da filha.

- E eu posso chamar meus amigos? - questionou, encantada com a ideia - O Nic, o Gabe, a Olivia...

Alfonso assentiu, óbvio.

Depois do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora