IRREVOGÁVEL [COMPLETO NA AMAZON]

CAPÍTULO 6

ELEANOR

"Tudo bem se reerguer aos poucos. Tudo bem levar
mais tempo do que as outras pessoas. O importante,
no final das contas, é se sentir feliz consigo mesmo"
- Katherine Miller

    Já faziam duas semanas que eu havia saído do conforto da casa da minha irmã para morar sozinha com dois garotos. Duas semanas em que eu sentia ser independente mais do que qualquer outra coisa em muito tempo. Ao decorrer desse período, não me deixei levar pelos momentos de tristeza. Na verdade, eles eram quase inexistentes. pois quando você divide uma casa dois garotos igualmente hilários e animados, não te sobra muito tempo para ficar triste. Por mais que nossos horários não batam muitas vezes, Bryan e Max conseguem fazer os meus dias mais felizes. Seja no café da manhã, jantares, ou até mesmo quando, por coincidência, nós três nos levantamos quase na mesma hora para beber água, e acabamos passando um bom tempo na cozinha conversando em plena madrugada. Nunca imaginei que ficaríamos tão próximos. Pesando na balança, sou mais íntima de Bryan do que de Maxwell, levando em conta tudo o que aconteceu na semana em que nos conhecemos. Depois de me confortar naquele dia, nossa amizade deu um salto gigantesco. Não há um dia sequer em que não conversamos, seja por mensagens de texto cheias de piadas internas ou em casa, quando nos esbarramos. Não costumamos ficar muito tempo juntos, mas estamos tão acostumados com a presença um do outro, que as vezes mal a notamos. Como por exemplo, quando ele está no sofá assistindo televisão. Simplesmente sento na ponta, esticando minhas pernas, sem me importar de as colocar no seu colo para que eu possa me deitar. É simples, familiar. Por vezes, parece que nos conhecemos há muito tempo.

Certeza vez, em uma de nossas conversas profundas – ele estava chapado de maconha, só para constar – Bryan me disse que algumas pessoas possuem ligações instantâneas, que não conseguimos explicar. Ele me disse que sentia isso com Emery, a finada ex namorada de Trenton. Contou que quando os dois se conheceram, pareciam ser amigos de longa data. E que isso também havia acontecido com a gente. O que é a mais pura verdade.

Saio da aula de Farmacologia Aplicada, correndo até o refeitório com Aisha ao meu lado. Tenho apenas vinte minutos antes de entrar no estágio da clínica da própria faculdade. Eu e ela conseguimos pegar as duas últimas vagas que restavam no programa, mas trabalhamos em dias diferentes: Trabalho de segunda e sexta. Aish na terça, quinta e sábado. Os revezamentos são feitos pela quantidade excessiva de alunos. É uma clínica muito competida, pois além do salário ser ótimo, o suficiente para me deixar com o aluguel tranquilo e ainda sobrar para despesas, há a flexibilidade de dias.

— Eu fico impressionada com o quão esse lugar lota na hora do intervalo. — Comenta, pegando sua bandeja que contém os mesmos alimentos que a minha: Um sanduíche natural, suco de laranja de caixinha e uma maçã. — No semestre passado, a maioria dos alunos comia em um restaurante que fechou há poucos meses. Aqui era tão calmo. Não vejo a hora de abrirem outro estabelecimento.

— Sua fobia social precisa urgentemente ser tratada. — Brinco, rindo alto ao vê-la tirar o tomate do lanche e jogar na minha cara. — Ai! É a verdade. Engraçado que, na festa, você não reclamou de estar no meio da multidão. E muitas dessas pessoas, quase todas, estavam lá.

— Eu estava bêbada e com tesão. Não conta. — Mostra a língua, tornando a comer seu lanche. — Falando em festa... como estão as coisas na sua casa? Max tem te dado trabalho?

— Nenhum. A não ser quando ele pega meu rímel incolor escondido de mim para passar antes de sair com algum garoto que encontrou no Grindr. — Bufo com a lembrança de o pegar no flagra mexendo nas minhas coisas. — Ele jura por tudo o que há de mais sagrado nesse mundo que encontrará o amor da sua vida em um aplicativo de relacionamento que é unicamente destinado para sexo. Não consigo entender.