No dia que conheci Sue Gilbert, eu me apaixonei.
Tudo começou no verão, antes do início da terceira série.
Ela e seu pai tinham acabado de se mudar para a casa em frente a nossa e, como bons vizinhos que éramos, minha mãe disse que era para eu ir ajudá-los.
Ela foi a primeira coisa que eu vi e, desde então, sua imagem ficou para sempre gravada em minha cabeça. Ela parecia de mentira, e não como se fosse uma pintura antiga de belezas que já não mais existiam. Não era só seu corpo físico, era um conjunto de coisas que a faziam ser completamente magnetizante. Eu só queria me aproximar dela e nunca mais sair de perto.
Não queria ser muito invasiva com alguém que ainda nem me conhecia, esperei que ela me notasse antes de simplesmente me aproximar. Esperei, esperei e esperei.
Até que ela se virou em minha direção e nossos olhares se encontraram. Aquele foi o início do que seria a amizade mais importante da minha vida. Eu sabia, naquele exato momento, que tinha encontrado minha alma gêmea. Me pergunto se ela também havia sentido o mesmo que eu?
Percebendo sua inquietação, eu atravesso a rua e me apresento:
- Olá, sou Emily Dickinson.
Estiquei minha mão, mas ela não retribuiu o cumprimento. Aproveitei que estamos próximas agora e notei que seus olhos eram ainda mais bonitos do que eu havia imaginado. Naquela época, seu cabelo era mais claro e longo do que era agora. Ela parecia um anjo e eu não duvidava que fosse. Ela era tão calma e delicada, percebi também que era um pouco tímida - preferia imaginar isso do que pensar que ela poderia ser sem educação, já que ainda não tinha se apresentado. Decidi que talvez ela ficasse mais solta se nos focássemos em outras coisas, então comecei a mexer nas caixas da mudança.
- Ei, ei, o que está fazendo? - Ela perguntou tirando as caixas da minha mão. "Será que ela não gostou de mim?" Pensei, quase chorando por uma estranha - o que seria completamente anormal - então tentei me segurar.
- Você não quer alguma ajuda? Minha mãe disse que eu devia vir ajudar os vizinhos, já que eu não gosto de fazer as tarefas de casa.
- Não. A gente já contratou uma pessoa só pra isso, mas obrigada.
- Que tal este?
- Não, não, não.
Então decidi ficar ali parada, esperando para ver se ela me falaria alguma coisa - mesmo que fosse para me mandar embora, qualquer coisa serviria naquele momento. Eu não conseguia tirar meu olhar de seus olhos, tão hipnotizantes, até que ela cortou o contato visual e andou em direção ao caminhão. Decidi segui-la.
Nós estávamos tão próximas e eu conseguia sentir o cheiro de seu shampoo. Cheirava a mel e eu nunca fui muito fã de mel - afinal um de meus melhores amigos era uma abelha e ele se sentia completamente oprimido com todo sistema de produção de mel - desde cedo decidi parar de consumi-lo. Mas, naquele instante, não me importava nem um pouco, Sue podia usar tanto shampoo de mel quanto quisesse.
- Está meio lotado aqui com três pessoas. - Ela disse e percebi que ela estava vermelha. "Será que ela percebeu que eu estava cheirando seu cabelo? Acho que não"
- Eu não me importo. - Respondi. "Quanto mais perto, melhor"
- Você quer empurrar esta caixa juntas? - Ela perguntou e eu assenti, completamente animada.
Juntas, levamos algumas caixas para fora do caminhão. Eu passaria o dia inteiro fazendo aquilo com Sue, mas de repente ela se sentou na calçada. Acho que ela já estava cansada, por isso decidi me sentar ao seu lado e apreciar aquele momento. Eu estava completamente animada com a ideia de ter uma nova amiga, ainda mais pelo fato de que essa pessoa fosse Sue. Já conseguia imaginar as mil aventuras e histórias que poderíamos viver juntas.
- Meu nome é Sue. - Ela fala tão rápido que, por um momento, me assustei - Sue Gilbert.
"Sue Gilbert, acho que esse é o nome mais lindo que eu já ouvi" e, assim que ela me ofereceu sua mão, eu retribui o cumprimento.
- Você quer ser minha amiga, Sue? - Perguntei nervosa
Comecei a ficar mais inquieta porque ela não me respondia e quando me dei conta, estávamos praticamente coladas uma na outra - a aquela altura eu já tinha morrido de angústia. "Será que ela não quer ser minha amiga?"
- Bem, Olá... - O pai dela apareceu atrás de nós
- Emily, me chamo Emily Sr. Gilbert.
- Olá Emily, pode me chamar de Thomas. Pelo jeito, você já conheceu minha filha.
- Uh-huh.
Ele parecia ser um pai legal, mas naquele momento não gostei muito de sua presença: ele estava interrompendo todo momento que eu e Sue compartilhavamos. Acho que Sue ficou com vergonha da presença do pai porque, no segundo seguinte, ela saiu correndo para dentro da casa.
Fiquei algum tempo parada tentando entender o que tinha acontecido e percebi que Sr. Gilbert me observava. Meu rosto provavelmente enrubesceu, pois ele abriu um sorriso em minha direção e eu disse encabulada:
- Bom... acho que já vou, Sr. Gilbert - Ele me interrompe
- Thomas, Emily - Limpei minha garganta e sorri para ele
- Certo...Thomas. Se você precisar de ajuda com alguma coisa, mamãe disse que você pode passar lá em casa!
- Muito obrigada, Emily. Mande meus cumprimentos para seus pais, por favor!
Sai dali, olhando para trás na esperança que Sue aparecesse novamente, mas ela não voltou mais.
...
Não sei quanto tempo se passou, talvez uma eternidade pois era assim que eu me sentia, como se fizesse uma eternidade que não via Sue.
Eu esperei e esperei e esperei, mas nada dela aparecer lá fora. "É, acho que ela não quer ser minha amiga mesmo"
Eu não tinha vontade de fazer mais nada, não ia mais visitar minha árvore favorita - meu amado carvalho, que provavelmente sentia minha falta. Muito menos brincar com meus irmãos. Tudo isso, de repente, parecia ser sem graça. Fiquei dias andando e passando tempo na frente de casa, esperando para ver se Sue finalmente iria aparecer, mas não havia sinal dela em lugar nenhum - eu estava completamente devastada.
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Oi pessoal, tudo bem?
Sei que esse capítulo foi curto, mas queria mostrar como foi o primeiro encontro das duas em ambos povs. O próximo ainda é a continuação e pretendo postar ele logo para finalmente começar a desenvolver a história.
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O primeiro amor
RomanceEmily Dickinson acredita piamente em três coisas: a santidade das árvores (especialmente seu amado carvalho), seus poemas e que um dia ela beijará Sue Gilbert. Desde que viu seus olhos castanhos deslumbrantes na terceira série, Emily está apaixonada...