Jorge vira a chave da casa, havia se divorciado há poucos meses, estava com grana curta, não era um homem exigente. Cheiro de casa fechada. Depois de passar um tempo pesquisando e morando junto de um amigo pra guardar uma merreca, finalmente conseguiu achar um bangalô pra alugar no morro, algo que se acha garimpando na zona sul. O visual era lindo!
Jorge: Valeu, Roginho! Tu me quebrou um galho fudido.
Roginho: Tá tranquilo, viado! Tamo juntão irmão! Esquece de mim nessa porra não, hein? Tô ligado que tu vai encher aquela porra logo logo.
Jorge: Eu?! Tô sem um puto, quando eu tiver fortalecido tu vai tá na boa comigo.
Jorge se lembrava das ideias que trocou com o amigo pela manhã.
Não tinha muita mobília depois da separação, basicamente a casa ficou pra trás e poucas coisas enfeitavam a casa ou serviam de lugar pra sentar. Dois colchonetes eram a cama, um ventilador velho era o ar-condicionado, um fogão de duas bocas era um finíssimo cooktop, o frigobar recauchutado uma geladeira duplex, um puff baú era o guarda-roupa.
O barraco era espaçoso, emboçado por dentro e por fora, mas pintado só por dentro, laje batida, janelas pequenas, uma escadinha caracol que levava pra um tipo de jirau, de lá era possível subir na laje. Outros barracos coladinhos tinham a mesma configuração, o mesmo cara e dono tinha construído cada um deles. Havia outros semelhantes na comunidade, mas nem pensar que era o padrão. Tinha de tudo, de construções minúsculas até mansões.
Jorge: Ressaca do caralho, tomá-no-mei-do-cu, caraio! Porra, tem nada pra comer nessa porra. Ih, cuzão! To puro, tem nem água na geladeira... Tenho nem garrafa... fudeuuuuu! Meia-noite já, que merda. Dormi pra caralho.
Mastigou pasta de dente, fez um gargarejo e cuspiu. Catou um chinelo, meteu uma camisa suja e bermuda mais ainda. Agarrou carteira e chave, e foi pra rua.
Jorge ficou com uma puta preguiça de descer o morro, mas o cheiro de cerveja mofada, cachaça, cigarro e a música de corno rondando o ambiente deixavam claro que tinha uma tendinha perto. Só tinha garrafa pequena de água mineral, pegou duas e um refrigerante mata rato só pra usar como garrafa d'água depois.
Jorge: Parceiro, deixa na geladeira aí, pego no final. Faz um x-tudo pro teu camarada e me dá um Zangão com Dreher do médio.
Vesgo: É x-tudo ou x-tudão, pai?
Jorge: X-tudão completo. (Se é tudo como pode ter outro com mais que ele? Os moleque tem cada uma.)
Vesgo: Tranquilo, pai! Marca cinco.
Duas da matina de sábado, as horas passaram rápido com Jorge ali. Foi descendo o morro no sapatinho, o chinelo já tava escorregando e os pés suados. Jorge morava lá pela metade do morro. Não precisava ser sommelier pra pegar as propriedades olfativas marcantes da marofa. Os moleque da contenção do morro tavam trocando rádio e Jorge já com a cabeça rodando ouviu um falar baixinho: "morador do quinhen'cinquenta, tá tranquilo". Deu um oba pros moleques e continuou seguindo.
Na cama faço de tudo
Sou eu que te dou prazer
Sou profissional do sexo
E vou te mostrar por que
Minha buceta é o poder
VOCÊ ESTÁ LENDO
Auto do Morro
Любовные романыE se você pudesse observar o cotidiano de uma favela? E se você não tivesse alternativa pra morar que não fosse lá? Convido você a embarcar, colocar os pés em cima da mesa e abrir um latão. Alerta: se você nunca pegou ônibus lotado, metrô, trem pra...