Paz

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Ela surgiu ao anoitecer.

Tentava ser discreta, praticamente engatinhando ao subir as escadas, evitando esbarrar em um daqueles enormes móveis do quarto ou provocar qualquer tipo de barulho que pudesse acordar o homem deitado naquela espaçosa cama. Ele, no entanto, já se encontrava completamente desperto. A mulher não sabia, imaginava que sua invasão havia sido um completo sucesso, mas a verdade era que enganar o olfato apurado e a poderosa audição daquele homem era uma das muitas coisas impossíveis daquele mundo. Ele estava atento para a ação desde o momento em que ela havia tocado na maçaneta da porta de entrada da antiga casa, no andar inferior.

No entanto, contrariando seus instintos ancestrais, que gritavam para que ele se preparasse para o iminente confronto, o homem não abriu seus olhos ou moveu algum músculo. A moça havia arduamente se esforçado para realizar toda aquela entrada, de forma que não seria nada justo estragar a cena. Além disso, mesmo não querendo admitir, ele estava surpreendentemente se divertindo com aquela tão incomum situação.

Ela parou quando chegou ao pé da cama, se levantando do chão para melhor observar o sujeito ali deitado. Era um homem alto e de corpo robusto, com uma expensa cabeleira lisa que volumosamente escorria por suas costas e que exibia um intenso e exótico tom de cor branca. Seu rosto exibia traços graciosos, que contratavam com o que pareciam ser antigas cicatrizes de aventuras anteriores, que marcavam sua testa, olho direito e pescoço. Mas foram seus lábios carnudos, de um profundo vermelho escarlate, os responsáveis por resgatarem a mulher daquele estranho transe hipnótico em que se encontrava e de a recordar do verdadeiro motivo de estar naquele lugar.

Ainda fingindo estar dormindo, o homem se deu conta de que aquela talvez não houvesse sido a melhor tomada de decisão de sua vida. Pelo que sabia, estava sendo caçado em mais de cinco condados diferentes, e com toda certeza nenhum dos condes o haviam perdoado pelos crimes que havia cometido, de forma que, muito provavelmente, aquela mulher era alguma mercenária enviada para cortar, de uma vez por todas, a cabeça do Nefasto. Não se preocupava com sua segurança, porém. Caso realmente ocorresse uma batalha, a identidade daquele que emergiria como vencedor estava evidente. Preocupava-se, no entanto, com o fato de possivelmente ter que dar um fim à existência mundana de uma moça com tão doce aroma de girassol.

Entretanto, ao invés de sentir uma afiada lâmina escorregando por sua garganta ou o frio aço repetidamente apunhalando seu peito, o homem se surpreendeu ao perceber o ardentemente explosivo calor de um repentino beijo.

A moça obviamente não possuía nenhum tipo de experiencia naquilo. Por sorte, ele era capaz de segurar a respiração por um longo período, de forma que bravamente resistiu enquanto a mulher pressionava, sem pausas, os lábios sobre os dele. Porém, aquilo não incomodava. Aquele era, com toda certeza, o primeiro beijo daquela donzela, e aquele era um fator que estranhamente o estimulava a participar da dança.

Com suas mãos, ele habilmente começou a despir a dama, que tremia com a ação, não sabendo como reagir àquele avanço. No entanto, provando ter uma respiração tão resiste quanto a dele, ela sustentou o beijo, com os olhos fechados, concentrando-se.

Após livrar-se do vestido dela, o homem decidiu que havia enfim chegado o momento de ensinar alguns novos passos, além de um beijo baboso, àquela mulher. Ao subitamente mover sua língua, sentiu o forte arrepio percorrendo todo o corpo da moça, que se afastou, arfando. Enfim liberto daquele incomum "ataque", o homem pode melhor observar sua invasora. Em um primeiro momento, tratava-se de uma jovem comum, do tipo que era possível encontrar em quaisquer vilas da região. No entanto, seu par de olhos azuis, que o fazia recordar-se da profundeza abissal do Atlântico, seus cabelos de fogo e sua iniciativa à dança revelavam-na como uma agradável surpresa.

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⏰ Última atualização: May 08, 2021 ⏰

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