40

283 30 2
                                    

Tentei ficar calmo e arrancar o maior número de  informações, além do fato de manter ela bastante tempo comigo na ligação

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Tentei ficar calmo e arrancar o maior número de  informações, além do fato de manter ela bastante tempo comigo na
ligação. Vocês já vão saber por que.
Depois que ela desligou, eu xinguei, amaldiçoei, chutei a cama e
quase quebrei. Em seguida, comecei a arrumar rápido minha mala.
Horas antes, quando eu tinha ligado para mike , ele elaborou uns
esquemas de precaução. Conseguiu umas tramas com Agustin e um
cara que não conheço, e, juntos, rastreamos o celular de karol . É
incrível como meu irmão conhece pessoas de atividades duvidosas.
Ele tem contato de desde detetives a falsificadores e hackers na lista
telefônica do celular. Rastrear um celular é a coisa mais fácil, desde
que este não seja descartável.
Na posse da localização exata de karol , viajei durante a noite
para impedir que ela pudesse fazer qualquer busca na internet. Por
isso fiquei bastante tempo com ela no celular. Se ela descobre que
Ruggero  é justamente o cara que está dormindo com ela, eu me ferro
legal. E ninguém aqui quer isso, não é, pessoal? Afinal, eu sou a
vítima, eu fui traído.
Agora
Agora, estou em sua frente e ela não sabe se sorri ou fica tensa.
A garota é tão tola que nem pesquisou ontem mesmo sobre o tal
Ruggero . Se fosse eu, valu , mike  ou qualquer pessoa com neurônio,
tinha ido para o computador ontem no mesmo minuto. Também nem
reparou na minha cara de poucos amigos. Às vezes, tenho dó de
Karol . Do jeito que ela é, tão inocente, é bem provável que
simplesmente me perdoe e deixe tudo pra lá quando descobrir todo o
meu plano.

— Heitor? Meu Deus! Como você me encontrou? — ela
pergunta, nem um pouco desconfiada ou chateada com minha
presença.
Os olhos estão arregalados, mas não consegue esconder o
sorriso. É só karol  sendo karol . A eterna inocente. Ou sonsa, sei
lá.
Eu dou um rápido beijo nos lábios dela e, antes de responder,
vou fazer média. Os pais dela estão me encarando muito
desconfiados. Ao contrário de karol , que não pesquisou nada
sobre mim, eu não agi igual, eu sei cada detalhe da vida dela. Sei o
que o pai faz, sei que a mãe sofreu um AVC há poucos meses e sei a
idade de cada um, sobrenome, número de conta, CPF e tudo o mais.
Portanto, como karol  já está domada, totalmente crente em mim,
preciso conquistar outros mares.
Sorrindo, com uma convincente cara de bom-moço, eu caminho
para perto deles. Bernardo dá um gritinho eufórico quando me vê.
— Ei, amigão! Também estou com saudade de você. — Dou um
beijo na testa dele e depois olho para Lourenço. Ele não sabe que eu
sei o nome dele.
— Oi, vocês devem ser os pais da kah — eu digo de modo
atencioso.
— Sim, somos — Lourenço responde com os olhos
semicerrados em uma expressão de suspeita.
Laura sorri amigavelmente para mim, está sentada em uma
cadeira de rodas.
— Sou Heitor, acho que karol já deve ter falado de mim.
— Já, sim — Laura fala, em seguida estende a mão em minha
direção. — Sou Laura, e esse é meu marido, Lourenço.
— É um prazer conhecê-los — eu afirmo muito convincente.
Karol  está ao meu lado, transbordando de alegria, mas
Lourenço ainda tem uma pulga atrás da orelha. Esse olhar é de quem
não está convencido.
— É bom te conhecer, rapaz, mas ainda não respondeu à
pergunta da minha filha: como nos encontrou?
Essa é a parte mais engenhosa. Eu não posso dizer que rastreei
o celular dela, então vou usar a sorte ao meu favor, vou usar o que o
destino me deu como presente, um bom álibi para enganar os velhos.
Observem como tudo aconteceu: eles podem não ter falado para
pessoas conhecidas, mas acabaram, sem querer, soltando para o
frentista de um posto de gasolina em Angra. E como o frentista me
contou? Pura sorte. Eu fui abastecer e comentei que estava indo para
Bertioga, São Paulo, e ele disse que eu era o segundo que estava
indo para o mesmo lugar. Mais cedo, um carro passou ali com
pessoas que iam para Bertioga. Segundo ele, o motorista loiro –
Renato, o bosta – perguntou se aquele óleo do carro dava para ir até
Bertioga. Estúpido, não é?
Com uma pose de menino amedrontado, eu começo a usar
minhas artimanhas.
— Então, senhor Lourenço, eu fiquei aflito, perguntei pelas
redondezas e ninguém sabia. Karol  não queria me contar e, por
pura sorte, comentei sobre minha busca com um frentista, que contou
sobre um carro que estava indo para Santos. Segundo as
características que ele me deu, do motorista e dos passageiros, eu
supus ser Renato e vocês. — Olho para Laura e karol , que já estão
convencidas, então volto para Lourenço. — Então, vim para cá com a
cara e a coragem, sem saber ao certo se vocês estavam aqui — termino meu depoimento e fico esperando a resposta dele.
Um breve silêncio se instala, até que ele sopra o ar preso nos
pulmões e diz:
— Droga! É verdade — Lourenço vocifera e passa a mão na
testa e nos cabelos. — O tolo do Renato falou sem querer para o
frentista. Nós podemos estar correndo risco… e se o pai do bebê
também tem a mesma ideia?
— Eu já pensei nisso e pedi ao frentista que não comentasse
com mais ninguém. Disse que o motorista loiro e os passageiros eram
meus amigos, e que não queríamos que algumas pessoas por ali
ficassem sabendo que estávamos indo para um encontro de família
aqui em Bertioga. Agora é confiar na palavra dele.
Gente, podem se orgulhar de mim, sim. Sou muito esperto. Vi
algo assim em um artigo: "Você pode ser sexy usando seu corpo,
mas pode ser ainda melhor usando sua inteligência". Passo o braço
no ombro de karol  e a puxo para mim. Agora que estou mais
aliviado e sem tanta raiva, eu percebo que senti saudades dela, gosto
de estar com ela. Ela me abraça de volta, e eu a beijo e sussurro ao
mesmo tempo:
— Fiquei tão apreensivo. Nunca mais faça isso.
— Estou feliz que esteja aqui — ela sussurra de volta com a
cabeça no meu ombro.
Nesse momento, fico com raiva de mim por ter sido rude e ter
nutrido pensamentos ruins sobre ela. Karol  é apenas uma vítima de
todos, inclusive de mim, e, com ela nos braços, me adorando desse
jeito, eu tenho vontade de tê-la sempre comigo, protegida e amada.
Pedi a Lourenço que deixasse eu segurar Bernardo e, assim que
pego o menino, começamos a caminhar, agora de volta para a casa.

Minha perdição   (Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora