Até parece que estou me arrumando para uma entrevista de casamento. O kimono é chique demais para ser usado por alguém simples como eu.
O tecido com a cor do vinho bordô é extremamente requintado e sua estampa é bordada à mão por alguém que sabia muito bem o que estava fazendo. Grous batiam suas asas elegantemente como se estivessem voando no céu do pôr do sol, sendo acompanhados por pétalas de flores de uma coloração clara. Também era possível observar delicados detalhes ondulados feitos por finíssimas linhas douradas.
O obijime negro, com duas finas faixas douradas nas bordas, formava um enorme laço nas minhas costas.
Tieko-san havia me dito que havia encontrado algumas peças de roupas que ela usava quando mais jovem juntando poeira no fundo do seu guarda-roupa e perguntou se eu não as queria, já que ela iria descartá-las de qualquer jeito. Mas isso nem de longe é um kimono velho e empoeirado.
Onde eu vou ter a chance de usar uma coisa dessas? Eu praticamente vivo com o meu uniforme do esquadrão de extermínio, ou com aquelas simples vestimentas para ficar em casa. Não sou tão burguesa ao ponto de vestir um kimono desses no meu dia-a-dia.
Se bem que eu poderia usá-lo em festivais ou em festas...
Pensando bem, agora que eu me tornei uma Pilar, mal tenho tempo para passar um tempo com a minha própria família, quem diria ir em uma festa no meio da noite. Oyakata-sama provavelmente vai preferir que esteja no campo de batalha, mesmo sendo um homem muito gentil e compreensível.
Mas sendo sincera comigo mesma, acho que prefiro lutar contra onis do que participar de uma festa. Elas são cansativas e lotadas de pessoas bêbadas. Pelo menos não sou mais obrigada a ficar ouvindo seus gritos incoerentes e a fala alta e irritante.
A porta do cômodo foi arrastada por Tieko-san. Ela havia prendido seu cabelo negro e longo em um rabo de cavalo alto e apoiou uma folha de papel na penteadeira para escrever alguma coisa.
"Tem uma visita te esperando lá fora."
Uma visita? Mas essa pessoa deveria ter vindo me procurar na minha casa, não no QG da Pena. Será que minha mãe disse para vir me encontrar aqui?
Eu me pergunto de quem se trata. Será que é algum kakushi trazendo notícias sobre uma certa missão importante ou algo do tipo?
Como se pudesse ler os meus pensamentos, Tieko-san me entregou um segundo bilhete:
"Ele me contatou alguns dias atrás. Estava louco para ter uma chance de conversar com você de novo. Queria se desculpar sobre algo idiota que falou ou sei lá o quê."
Espera um pouco...
A visita é o Kyojuro?!
Amassei os bilhetes sem dó nem piedade e olhei com raiva para minha ex-mestra. Você sabia disso o tempo todo, né? E foi exatamente por isso que me convidou para passar a tarde na sua casa para "provar" as suas roupas "antigas", né? Apenas para me arrumar toda pera ele, né?
Então se tratava mesmo de uma "entrevista de casamento". Você não muda nunca. Estou certa, Tieko-san? Sempre me envolve nesses problemas apenas para que eu descubra o que está acontecendo quando a merda já está feita.
Erguendo seu único braço como sinal de rendição, fez uma expressão fingida de arrependimento, pois seus olhos azul-esverdeados continuaram com um brilho de divertimento. Ela apontou para a porta com a cabeça quase como se estivesse dizendo: "Vai deixar ele esperando até quando?"
Eu não tenho nenhuma escolha a não ser ir até lá, não é mesmo? Respiro fundo duas vezes até me acalmar dessa súbita onda de raiva.
Ignorando o sorriso irritante de Tieko-san, saio do quarto com passos apressados. É melhor falar com Kyojuro e acabar com essa situação de uma vez por todas em vez de fugir e criar uma bola de neve ainda maior.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Imagine - Kyojuro Rengoku [Em Hiatus]
Fanfiction"Só depois de conhecer verdadeiramente as suas fraquezas e limitações será capaz de evoluir e se tornar mais forte." Essa foi uma das importantes lições que S/n aprendeu com sua mestra. Apesar de ter um passado um tanto quanto amargo e ter perdido...