A Luz do Caminho - uma quase morte inicia a Jornada.

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"Cuide do espírito que a matéria vem depois" - João C.

Mais uma vez  passávamos abril. Mais uma vez o tempo girava suas engrenagens e a jornada estacionada no interior do Paraná, recolhia seus impostos. O preço de outros capítulos que não me viriam ao saber nem por um caralho ainda nessa vida, já emergia atribuindo duas cargas de escape, à moda da tortura mental e física - o descolamento de uma pedra, locomovendo-se dolorosamente por sensíveis paredes renais e uma horrível e assustadora explosão de fantasia maligna mental, degustada como penoso pânico e desabilitação momentânea do automatismo da minha respiração. Contas! Seriam contas? Algumas!

A tarde minguava fria começando a escorrer por aquelas paredes de concreto feias o filete fino da umidade que borrara aquele suposto simples convívio. Já era pavio o peso de todos os custos que à dura lida, essa conta tinha eu que dar, era pronta a solução que ali eu tinha. Era até comum. Mas o que não era raro, era o desaforo. Era o descaso. Eram notas de um simples caso de rebeldia. Era o direito ao deleite do abrigo que antes não tinha. Era tempo já do juízo, mas sei que do tempo do juízo vai um tanto. E assim é que foi, tomando de mim cada pedaço, à força do "o que dá eu faço", na pegada do como o que é que tem que ser.

A rotina dos últimos meses movia-se a engavetar situações tensas, cenas horríveis da necessidade comum devorando-me e bebendo à vontade em minha corrente criativa, tomando-me por assalto a escrever roteiros, a buscar parques ensolarados, adestrar as crianças e gritar: ação! Depois da partida da Vó, muito teve que se redesenhar, pontas descascadas de amor a eletrificar os remendos do dia a dia, a loucura da aceitação e a pena de acesso restrito.

Estávamos a reconstruir a base da família, estávamos a buscar a rotina que "a vida" dita. Vida nada, diga-se de passagem - O sistema.

Eu sempre intuí o caminho da minha jornada, porém nunca pude saber de aviso, quais ferramentas deveria eu desenvolver. A intuição sempre apontou a direção. E é assim que sempre foi e é assim que sempre será.

Dez anos se passaram quando voltei de lá. Dez anos se passaram quando deixei as montanhas do Corcovado e todos os laços de lá. Talvez eu não tenha observado claramente a direção que seguia, certamente eu mesmo não me ouvia, não podia ou não sabia. Sei que deixei todos por lá. Tombei minha moto pra não me seguir, olhei no rosto da tia rainha e proclamei: Estou a caminho do frio, a caminho do sul. Lá na genial produtora -minha escola de ferramentas - encontrei o rei da criatividade e comuniquei: Vou por conta da palavra, pois que a minha palavra eu dei. Com as portas abertas então me prometeu, sempre que for volta e que grande apreço todos me têm. Não tinha outro jeito. Mais do que palavra, lá onde eu me colocava estava o meu coração também.

Pouco antes desses dez anos contados, lá na cidade do Redentor a Vó foi me visitar - sei que foi por mim, pois que hoje sabemos que por nada mais justo havia de ser. E lá estava a vó. Curtíamos o dia, conversávamos e ouvíamos Marcelo Rossi. Era muito bom estar com ela. Ficou uns três meses lá. Num dia desses por lá, chegava eu da produtora e na cozinha vi a Vó lavando a louça. Passei e junto de um: opa, boa tarde, minha vó - eu dei um beijinho na testa.

Por uma intuição, por um acesso ao divino laço, que do tempo não respeita o passo - me senti na obrigação de dizer a ela algo como isso: "Se você for precisar de alguém, Vó, que lhe ajude no dia a dia, pode contar comigo, hein". - Como assim? - disse ela com as mãos na cintura, feito xícara - Até parece que eu preciso de ajuda pra alguma coisa?! To bem forte ainda! Olha aqui - e fez um muque de fortona! - Eu continuei: Sei lá, só to falando isso porque, não sei, se precisar, pode contar comigo. Ela me olhou fundo nos olhos por menos de um segundo e eu pude ver que alguma coisa havia lá. Mas não sabia o que era. E então lá no Rio estava eu a caminhar.

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⏰ Última atualização: May 13, 2021 ⏰

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