Capítulo único

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"Oh, feche seus olhos cansadosEu prometo a você, logo o outono chegaPara escurecer o céu desbotado do verãoRespire, respire, respire"

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"Oh, feche seus olhos cansados
Eu prometo a você, logo o outono chega
Para escurecer o céu desbotado do verão
Respire, respire, respire"

Rises The Moon
(Liana Flores)



Os fios dourados eram levados pelo vento, suas orbes azuis focadas no mar da mesma cor, sua pele em um tom avermelhado após ser castigada pelo sol impetuoso enquanto apreciava a imensidão vista das ondas azuis, pouco turbulentas. O mar nunca havia sido sinônimo de tristeza, pelo contrário, era ali que passou seus momentos de felicidade genuína, contudo, naquele dia em específico, nem o calmante som das ondas o trazia esperança de alegrar-se. Afastou o fios loiros que estavam incomodando sua visão, observando a árvore enraizada ali próximo, finalmente encontrando uma sombra que pudesse descansar. Moveu-se, deixando que seu corpo cedesse a areia, se sentando ali, sentindo a água molhar os pés descalço e despedir-se dos mesmos, se juntando a imensidão azul novamente. O peito desnudo subiu e desceu, as mãos brancas sobre o shorts azul marinho já sujo pela terra úmida.

A mão delicada possou sobre seu ombro, dando a pessoa que o tocou a visão de uma reação espantada do garoto.

— Eren...— Ela deixou seu corpo tocar a areia assim que ditou o nome, sentando ali, sujando o vestido delicado, vermelho, soltou sobre seu corpo, o tecido era facilmente manipulado pelo vento. — Você não é ele.

— Pare de me seguir, Mikasa. — O citado respondeu, empurrado a mão sobre seu ombro, de maneira desgostosa, enfatizando seu desconforto. — Eu não sou o Eren, eu sou...O Armin. — A voz saiu melancólica ao dizer aquele nome, quase inaudível.

A mulher passou a mão sobre o rosto, seus dedos tocaram a cicatriz em sua bochecha, o lábio fino encuvou-se em melancolia, as orbes escuras, sem vida. Ela encarou o moreno que via ali, os olhos, vazios como o seus, os fios castanhos, juntos em meio ao elástico preto que os amarrava. As iris verdes olhando para o mar, como se procurassem algo, que Mikasa infelizmente sabia de que se tratava. A mulher tentava ignorar aquele acontecimento que torturava tantos seus sentimentos quanto os do irmão adotivo, reconhecia que para o moreno, admitir a morte do amado era ainda mais difícil, talvez por aquele motivo, sua mente estava conturbada ao ponto de o fazer crer que o loiro ainda vivia, mesmo que tivesse que fingir ser o mesmo.

A culpa fez aquilo com o Yeager, desde sempre ele não gostou da ideia que seu amante tinha de ser surfista, no entanto, com o passar dos anos o pequeno o convenceu de que "não era perigoso seguir seus sonhos".

Mas era inexplicavelmente perigoso.

Nos primeiros dias Mikasa pensou que não iria se repetir frequentemente, e que toda aquela dor estaria sendo minimizada ao passar do tempo, contudo, o fato era que, Eren estava morto por dentro, e a única coisa que o matinha vivo era aquela loucura interna, formada pela sua mente, a qual não se desprendia do homem mesmo com incontáveis visitas a psiquiatras.

O vento forte continuavam a embaralhar os fios de ambos os jovens, os olhares perdidos encontraram-se, e a mulher notou a falta de luminância e vida nas orbes esverdeadas do irmão.

Havia um mês, e durante todos os dias daquele mês, ela estava naquela praia, no mesmo horário, para lembrar o seu irmão, de que ele era Eren Yeager, e não Armin Arlert, estava corroída, seu coração se prendia em um nó, e as palavras não eram proferidas de sua boca corretamente, sempre com a voz trêmula em meio ao processo, deixando as lágrimas caírem quando acontecia, quando presenciava ele se lembrava de tudo, de que Armin Arlert, estava morto.

— Como é o seu nome? — A face cansada da morena demonstrava como aquilo os destruía. Os magoando todos os dias. O ciclo se repetia novamente, seu amigo havia ido para sempre, e levado seu irmão consigo, pois, a mente e vida do Yeager já haviam se despedaçado, ela não sentia que havia esperanças para que ele voltasse a sua vida comum, no entanto, mesmo que ferisse, Mikasa voltaria todos os dias para lembra-lo da triste notícia de um mês atrás.

— Armin Arlert. — Eren respondeu, sem qualquer sanidade, os olhos caídos, exaustos, Mikasa sabia que iria começar...

— Como é o nome do seu namorado, Armin?

— Eren. — Um sorriso fraco se formou no rosto do moreno, continha areia em suas mãos, que caíam por entre os dedos.

— Onde está o Eren? — Ela tocou novamente o ombro do maior, não sendo rejeitada dessa vez, respirando fundo, se uma de suas lágrimas escapassem ela não conseguiria conter as próximas.

— Ele vai chegar. — Os olhos verdes encaravam os escuros.

— E o que vai acontecer antes dele chegar?

Silêncio.

As memórias ruins passavam juntas e constantes pelo seu interior, o quanto correu quando chegou no mar aquele dia, o grito rasgado que saiu de sua garganta quando notou o corpo sem vida, o desespero que sentiu ao tentar reanimá-lo, quando abraçou o loiro, já falecido em seus braços, as lágrimas que não cesaram por dias e ainda escorriam por seu rosto todas a noites.

O som antes aconchegante se tornou turbulento, agressivo, as lágrimas caíram em abundância sobre o rosto do Yeager. Ele encarou suas mãos, que não eram macias, muito menos gentis quando tocavam algo, ele não transmitia felicidade as pessoas ao seu redor. E ele não via o mar de maneira encantadora, porque Armin amava o mar, assim como Eren amava o garoto loiro e gentil que cresceu consigo.

— O Armin...— Suas orbes fitaram o céu dessa vez, lembrando dos olhos que transmitiam um sentimento de amor, tão grande que poderia durar para sempre. Mas o mar que o garoto tanto amava os impediu de cultiva-lo, arrancando sua vida, sem piedade alguma. Sua voz  embargou, puxando ar para seus pulmões, na tentativa de não chorar mais do que já havia. Mikasa o dando apoio, entre as lágrimas que desciam por suas bochechas.— Armin Arlert morreu afogado, e eu, Eren Yeager, não cheguei a tempo de salvá-lo.

E novamente ele estava sozinho, angustiado e se culpando por tudo. Sua vontade de continuar a vida, sendo encolhida, dia após dia. Afinal, sua existência naquele mundo hostil, não fazia sentido, sem a presença  dele ao seu lado.

Porque mesmo que sua mente tentasse o enganar, ele nunca seria ele, o homem que o amou havia sido levado pelo mar...

Assim como sua vontade de viver.

O MarOnde histórias criam vida. Descubra agora