DO OUTRO LADO DA RUA

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Há anos ele não se sentia daquele jeito

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Há anos ele não se sentia daquele jeito. Um sentimento bom invadia seu corpo inteiro. Uma mistura de empolgação e novidade. Bernardo estava enfeitiçado pela visão. Ela era linda, mesmo à distância e sem enxergar direito, podia afirmar que era.

Queria não ser tão novo no bairro, tê-la já conhecido antes, poder atravessar a rua e falar com ela. A moça da janela. Mas o que diria? Havia pensado mil maneiras de abordá-la, mas nada convenceria. Morava no apartamento há apenas uma semana. Não tinha como bater na porta de alguém do outro lado rua e perguntar por que ela o olhava de sua janela. Nem pensar. E se ela observasse outro apartamento e não o dele? Ele pareceria ridículo e pretensioso.

Há sete dias ele acordava exaltado, puxava a cortina e olhava do canto da janela, ela estava sempre lá, linda, alta, cabelos longos, pele alva. Vestindo lingerie. Maravilhosa.

Se não estivesse tão atolado, com tanto trabalho atrasado por causa da mudança, ele faltaria ao emprego só para ficar na janela também. Queria testar o quanto ela resistiria. A moça devia ter mais o que fazer. Trabalhava em casa? Saía para trabalhar fora? A que horas comia? Quando tomava banho?

Não era possível que passasse o dia todo plantada bem ali, no meio da janela, olhando para ele. Sim. Era para ele que ela olhava, porque naquela manhã, antes de sair para o trabalho, deu uma volta no edifício e confirmou que a janela de seu quarto era a única que dava para a dela. Os outros apartamentos de seu andar ainda estavam vazios e fechados.

Às seis da tarde, quando ele voltava do trabalho e antes de ele sair apressado para o curso de fotografia ela também estava lá. Uma pena a moça não deixar as luzes acesas quando ele voltava para casa, já tarde da noite, lá pelas onze. Embora ele pudesse jurar que podia vê-la, ao menos em seus pensamentos, linda e seminua.

No oitavo dia após a mudança para o apartamento novo, a insistência da vizinha do outro lado da rua tirava a paz de Bernardo. O rapaz já não se concentrava mais no escritório. Os projetos se misturavam em sua mente. Quem mesmo havia encomendado uma propaganda para a rede de padarias? De quem eram as fotos para o cosmético novo? Reunião às quatro? Do que o chefe estava falando?

Ele já não passava mais no restaurante para jantar ou levar comida para casa. Queria chegar logo. Confirmar que a moça estava esperando por ele.

─ Alô. Bernardo... Filho? Você já comeu?

─ Claro que sim, mamãe. Fique tranquila.

─ Que pena. Preparei sua lasanha preferida. Mas acho que vou agora mesmo dar um pulinho aí e levo pra você. Pode comer amanhã.

─ Não precisa. Sério. Eu trouxe trabalho pra casa. Tô atrapalhado hoje.

A mãe desligou o telefone e ele continuou debruçado na janela. Compraria um binóculo no dia seguinte. Isso. É claro que a sondaria às escondidas. Ela podia não ser nada discreta, mas mesmo assim, talvez o condenasse por tal atrevimento, ainda que não se importasse de abordá-lo tão indiscretamente todas as manhãs e tardes, naqueles trajes íntimos.

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