Sua casa havia sido queimada, seu lar já não existia mais, sua amiga, nunca mais a verá, seu pai...morto, assim como Ágata, a velha mulher que sempre esteve contigo, aquela que foi sua mãe de coração.
Jade se recostou em uma pedra e começou a chorar. Já fazia um dia que sairá daquela casa em chamas, e agora estava perdida em algum lugar bem longe da sua vila natal.
Tudo que conseguira comer foi frutinhas – que por sorte não eram venenosas – não havia água por ali, a jovem estava com fome, frio e medo.
Afinal, quem não estaria?
Jade era acostumada com o luxo, nunca passara qualquer necessidade antes. Mas agora era outra história.
Suspirando fundo, a garota prendeu o choro, já cansada de tudo.
Pegando o diário de seu pai, Jade o olhou, uma, duas, três vezes.
"Como é que se abre esse negócio?", reclamou consigo mesmo. Raspando os dedos sobre a fechadura de metal, o emblema de uma rosa destacado na capa de couro.
Com um chiado Jade soltou o diário. Aquela porcaria havia-lhe cortado o dedo.
Reclamando mais em murmúrios baixos, Jade limpou o sangue na barra do vestido. Olhando para o diário, que havia se aberto.
Jade se sobressaltou: "Como pude esquecer?! Ágata havia dito que somente meu sangue poderia abrir"
A garota recolheu o diário, o limpou e começou a ler as palavras escritas nas primeiras folhas. A caligrafia tão bem feita e conhecida encheu os olhos de água.
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Para minha querida vermelhinha dos olhos de jade...
Seu pai pede perdão por tudo que teve que passar, mas apesar de tudo, quero que saiba que você é, e sempre será o meu bem mais precioso.
Sua mãe ainda vive, menti, falei que estava morta com a esperança de que você não perguntasse muito a seu respeito. Mas tinha me esquecido completamente que você era filha dela.
É verdade, sua mãe e você, são parecidas. Muito.
Sua mãe é uma ninfa da natureza, um ser mágico muito poderoso, diferente de mim, um simples feiticeiro que adorava explorar o desconhecido.
Conheci sua mãe na Floresta Carvalho, uma floresta magica que sempre tive o sonho de explorar. Fiz o que meu coração me pedia, e fui, lá a encontrei, cabelos longos e vermelhos, e os olhos, ah, naqueles olhos eu podia ver a imensidão da floresta, verde puro, como os seus. Logo me apaixonei.
Naquela época sua mãe estava usando todas suas forças para proteger a floresta de Alay.
Alay é um bruxo, um que usa a vida de outros seres vivos para obter poder. Por algum motivo, ele conseguiu enganar todos e se passar por um feiticeiro.
Naquela época, e até hoje, grandes e imortais feiticeiros são venerados, enquanto os bruxos, eram caçados e mortos.
Sua mãe sempre conseguiu expulsar Alay da floresta, isso o deixou irritado, e proclamou que todos que tivessem cabelos vermelhos fossem mortos, pois eram bruxos. E sabemos bem que isso não é verdade.
Alguns anos vivendo na floresta, eu e sua mãe tivemos você. A sua chegada foi espetacular, a floresta e os céus choravam em alegria, ouve uma chuva de meteoros esverdeados, foi lindo.
Quando nasceu, muitos dos animais queriam chegar e vê-la. Não foi difícil perceber que você tinha o dom.
O dom de criar e destruir. A natureza lhe pertencia bem antes de seu nascimento.
Sua mãe não queria te expor mais ao perigo, então parti com você para minha cidade natal. Lá eu sabia que ficaria segura, por enquanto.
Filha amada, se leu isso, é porque aconteceu algo, sinto muito por não estar contigo, e sinto mais ainda em falhar em lhe proteger.
No final desse diário está um mapa que tracei, de nossa casa até a floresta onde sua mãe está.
Chegue até a Floresta Carvalho. Chegue até sua mãe que há tempos quer lhe ver.
Sobreviva Jade. Sobreviva.
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Jade acabou a leitura em lágrimas, as mãos tremiam – todo o corpo tremia – mas se obrigou a ficar de pé, com a cabeça erguida, Jade foi rumo a seu destino que lhe esperava de braços abertos e uma corda no pescoço.
Cobrindo mais a cabeça com o capuz do manto, a garota de cabelos vermelhos secou as lágrimas e não olhou para trás.
Ela sobreviveria. Jade iria chegar à floresta, cumprindo a promessa silenciosa que fizera em seu coração.
Ela não morreria.
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Três dias se passaram.
Jade continuava exausta, contudo, se mantinha concentrada no que estava à frente.
Uma barraca cheia de frutas.
Jade não tinha nenhuma moeda de prata, quem dirá ouro para comprar. Essa era sua única chance, não podia ficar mais tempo sem nada no estomago ou adoeceria.
E não precisava ser um peso morto na longa viagem.
Ela aproveitou da distração do dono da barraca e roubou-lhe uma das maças suculentas do cesto cheio.
O vendedor notou quando a garota o roubou e saiu correndo, ele foi atrás gritando desesperado.
Jade estava cansada e quase sem forças, o vendedor logo a alcançou jogando-a em uma poça de lama.
"Sua vermezinha! Achou mesmo que não iria notar você? Que garota burra!"
As pessoas ao redor olhavam e não faziam. Achando melhor ignorar do que interferir, cujo alguém que só queria algo para comer.
O homem chutava Jade com o pé, e ela se encolhia cada vez mais, tentando proteger a maça que roubara.
Os ossos estralando em dor, os joelhos fracos, a pele pálida quase sem vida, olheiras profundas, esse era o estado da jovem quando se olhou pelo reflexo lamacento da poça abaixo.
Jade prendeu o choro enquanto o comerciante chutava mais, que chegou ao ponto do capuz, que cobria toda sua face, cair para trás.
Os chutes pararam, múrmuros e gritos começaram a vir da multidão ao redor.
"São cabelos vermelhos! Bruxa"
"Monstro! Mostro"
"Eu encostei nessa aberração!"
O comerciante e o povo ao redor gritavam, erguendo e atirando qualquer coisa que tinham em mãos na garota coberta por lama.
Jade arregalou os olhos. Tirando força de só deus sabe onde, saiu correndo para a floresta antes que fosse queimada viva como sua família fora.
"Eu...Eu não sou um monstro"
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Uma Criança de Outro Mundo
أدب الهواةHua Cheng e Xie Lian estavam aproveitando um dia sozinhos, sem a interferência de assuntos da Corte Celestial ou da Cidade Fantasma. Ambos precisavam disso, precisavam da companhia um do outro em paz. Mas não durou muito... ~Os personagens não pert...