Capítulo 2

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And without a little twist of fate

I know I'd still be searching, baby

I swear that you've been sent to save me

You're the only one that my heart keeps coming back to

Always been you

Shawn Mendes

Jess

Terminei de subir o último degrau do prédio de Matias. As sacolas em minhas mãos estavam pesadas, e meu fôlego estava quase inexistente. Era, simplesmente, cansativo demais subir três lances de escada quando se é tão sedentária. Sim, eu sei. Eu corria todos os dias, nem por isso subir aqueles degraus se tornavam mais fáceis.

Havia, afinal, um motivo para as toras que Matias tinha como pernas.

Meu melhor amigo ia viajar. Depois de duas semanas intensas com a companhia dele, ficaria um tanto sozinha. Por alguma razão, a ideia de ficar sem ele fazia a dor da traição de Jonas ficar maior.

Tinha sido fácil não me encontrar com meu ex-namorado durante aquelas duas semanas. Sempre estava com Matias. Ele atendeu a maioria das ligações que Jonas fizera, e eu estava sendo constantemente paparicada para esquecer o que aquele babaca havia feito. As coisas ficariam bem mais confusas a partir daquele momento.

— Bom dia, Jess! Tão cedo por aqui? — a vizinha de Matias cumprimentou-me na porta de sua casa.

Uma senhorinha educada e muito fofa que subia e descia aquelas escadas no dia mais vezes do que eu poderia imaginar. Ok, Deus! Compreendi seu recado. Reclamar menos e agradecer mais.

— Bom dia, dona Leila! Pois é! Matias vai viajar.

Dei de ombros como se tudo se explicasse com aquela simples informação.

— De novo?

Ela arregalou os olhinhos, e concordei.

— Novo livro. Nova cidade.

— Ahhh, essa vida de escritor.

Ela abanou a mão e sorriu.

— Nem para todos e nem sempre — neguei sorrindo. — Vou acordar o preguiçoso antes que ele perca o voo.

Acenei de longe e busquei em minha bolsa a chave do apartamento de meu melhor amigo.

As constantes viagens dele fizeram com que uma chave em minhas mãos fosse a decisão mais sensata. Molhar plantas, das quais apenas eu cuidava, e garantir que tudo estivesse ok para quando ele voltasse — entenda-se: garantir que uma diarista arrumasse para que o folgado voltasse para uma casa limpa e aconchegante — foram motivos mais que suficientes para eu ter a cópia da chave da casa dele.

Ter vinte anos de amizade era o que me permitia entrar, mesmo quando eu sabia que ele estava lá.

Assim que entrei, deixei a bolsa e as compras na mesa da sala e voltei para fechar a porta. Escutei o barulho de água na cozinha e gritei para que ele soubesse que eu já estava ali:

— Já acordado, benzinho? — brinquei com ele.

A água parou de jorrar. Uma cabeça loira e linda apareceu no batente da porta. Poderia ser Matias — Deus sabe como essas características seriam perfeitas para descrevê-lo —, mas, pelo o que eu me lembrava da última vez em que o vi, ele ainda era homem e forte. Aquele rostinho delicado, com os olhos bem arregalados, não podia ser o dele.

[DEGUSTAÇÃO] Por que não eu?Onde histórias criam vida. Descubra agora