César em "Dia de Paz, Mas Não Conte Com Isso"

79 8 8
                                    

Três adolescentes corriam pela orla do mar. Pareciam estar fugindo de algo, pois olhavam para trás assustados e não desaceleravam o passo. Vestiam camisetas vermelhas surradas e tinham expressões de que não dormiam a dias. Obviamente não eram pessoas comuns pois carregavam armas medievais nas mãos.  

À frente ia Willian, filho de Dionísio, seguido por Angela, conselheira de Atena e Ani, líder do chalé de Deméter. Eles eram semideuses, filhos de deuses mitológicos, gregos e romanos, que ainda na modernidade se apaixonam por humanos e acabam tendo filhos. Essas crianças precisam treinar em um acampamento para se defender dos inimigos.. e tentar sobreviver. O Acampamento Perdido é um dos poucos lugares no mundo seguros para eles.

Algo explodiu. Angela se lançou ao chão, empurrando os companheiros junto dela. Uma nuvem de areia se levantou e dificultou ainda mais a cena já confusa. Os três rastejaram pela praia e desapareceram num trecho de mata nativa que começava próximo de onde estavam.  

A explosão foi causada por um enorme monstro alado. O corpo era de um urubu e tinha o rosto furioso de uma mulher deformada. Se lançou num rasante tentando capturar suas presas mas apenas abocanhou areia. Suas garras resplandeciam como metal polido e seus olhos exalavam ódio. Mais quatro criaturas idênticas se juntaram à primeira. De suas bocas saíam palavras doces e melodiosas, totalmente desconexas à aparência grotesca:

-O mestre nos mandou capturar os heróis! Em troca podemos devorar a cria de Deméter, irmãs! - o rosto do monstro era malévolo -Mas antes... Temos que afugentar o espião. 

Todas as criaturas se voltaram para o mesmo ponto e atacaram César, que era um espectador, involuntário e etéreo, através dos sonhos. O garoto acordou assustado em sua cama. A sensação, mesmo não sendo física, era igualmente assustadora.

Eram Sirenes. Mesmo com a imagem turva, César pôde identificar os monstros das aulas do acampamento. Ninfas amaldiçoadas pela deusa da agricultura por não conseguirem localizar a filha raptada. 

César era o conselheiro daquele chalé, forma com que os semideuses eram divididos no acampamento. Cada deus tinha uma cabana com suas características, ao ser reclamados pelos pais divinos, os jovens ganhavam um novo lar que dividiam com seus meio-irmãos. Eles se organizavam entre duas alianças para cumprir as atividades diárias e treinamentos. Naquela manhã, antes mesmo do café da manhã, ele tinha que ir com os filhos de Perséfone cuidar das videiras, que eram a forma de subsídio do lugar. 

Faziam três dias que William, seu meio-irmão, tinha saído em uma missão de espionagem. Desde então ele estava se sentindo sozinho, e a solidão era seu grande ponto fraco.  Imagens do irmão e sua equipe apareciam em seus sonhos desde então. Ele sabia que heróis tinham esses flashs, pois era uma das consequências de ter sangue divino correndo nas veias, vislumbres do destino e de relevâncias da história. Seis meses tinham se passado desde de que ele havia se descoberto semideus, e nesse meio tempo, muita coisa havia acontecido, exceto se acostumar com aquela loucura. Missões, resgates, desaparecimentos...Sintomas da guerra iminente.

Na verdade, apenas uma grande batalha tinha acontecido desde que o confronto tomou forma. Daemones, divindades antigas e ressentidas com os Olimpianos, estavam  acumulando poderes e aliados para desbancar os atuais regentes e tudo o que fosse ligado a eles, inclusive seus filhos. As Parcas, deusas do destino, sabendo que os inimigos começariam a reunir suas forças nas terras exiladas, decidem utilizar os heróis que habitavam essa terra. Os nascidos das várias escapadinhas dos deuses começaram a ser procurados por sátiros, ninfas e até mesmo pelos pais, e levados para serem treinados e protegidos. Ao serem assumidos pelos deuses, os que antes eram esquecidos e ignorados, ganham relevância e entram no radar dos monstros. As incógnitas se tornam alvo em potencial. 

O Conto das Parcas: As Três Maldições - Vol IIOnde histórias criam vida. Descubra agora